Vivemos
em tempos de modernidade líquida, nada é feito para durar muito, nem mesmo as
amizades. Nós não consertamos mais coisas, assim como não consertamos mais
relações humanas, nós trocamos. A vaidade é o preço maior que pagamos para
qualquer coisa. Nós não compartilhamos mais dores e fracassos, pelo contrário,
bloqueamos qualquer um que se atreva a nos contrariar no “Facebook” ou no “Whatsapp”. Julgamos o outro com facilidade,
com sorriso no rosto e mostramos uma imagem falsa, de uma vida feliz. Ao trocarmos
de carro, de computador ou de pessoas que amamos por outras, vamos substituindo
a dor do desgaste pela vaidade da novidade. Ao trocar alguém creio,
imediatamente tornamo-nos pessoas mais interessantes aos olhos do novo. E não
percebemos que aquele espelho, continua sendo o drama da nossa vaidade.
Todavia,
o que não toleramos na pessoa anterior é que ela nos mostrou o quanto estamos
decaindo, envelhecendo e que não somos mais interessantes para ela. E na nova
pessoa, exploramos o quanto queremos ser interessante. É triste constatar que o
nosso mundo hoje tenha eliminado a humildade como virtude. É fascinante, por
exemplo; que aceitamos todo e qualquer elogio, porque dentro de nós, segundo os
místicos medievais, há um demônio da vaidade esperando por elogios. Aquele que
acredita no que não pode ser acreditado. Como Lúcifer um dia, acreditou que
podia ser igual a Deus. Apesar de saber que um Arcanjo criado, jamais poderia
ser igual a Deus. Ou seja, repetimos e é aqui que a natureza humana entra: “O pecado de Lúcifer”.
Entretanto,
brigamos permanentemente por esse “Ego”
insaciável. Vale lembrar os budistas, que centraram fogo nesse ego que nos
corrói por dentro. Porque nós preferimos ser perseguidos, a ser ignorados. Preferimos
tudo, menos não ser visto e elogiado, porque viver hoje é ser visto. Senão
fotografar onde estivemos e o que estamos fazendo, de nada valeu a nossa
estadia. Ver é viver. E ser visto é ter a certeza que vivi. Se o homem
escolher, poderá saber que tudo aquilo que parece fazer bem aos outros é na
verdade, um engano de vaidade. De modo que, a todo instante a nossa vaidade é
testada. E como não gostamos de dizer que somos vaidosos, nós a desfazemos
através de recursos, fazendo-se passar por humildes e simpáticos a todos que
nos rodeiam. De modo que, acabamos sustentando esse grande vicio que é o da
vaidade. As pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas. Mas
que vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. O que nos determina é o que a vida
nos ensinou.
Portanto,
temos que nos conformar que a vaidade seja uma instituição, que a vaidade esteja
presente entre nós permanentemente. Temos que aprender a lidar com ela, para
não ficar com falsas humildades. Temos que aprender, que sempre haverá alguém
mais hábil, melhor e acima de nós. A única maneira de não ser vaidoso e pensar
apena em nós, é parar de nos comparar com os outros, ou seja, devo pensar
somente em mim. Isto é uma redundância. Por conseguinte, não tem saída jeitosa para
nós humanos, estamos todos isolados. Nos momentos que o meu “Eu” é reconhecido e dialoga com os
outros. Chamamos a isso de encontro, amizade, namoro ou casamento. E nos
momentos que não dialoga, que ninguém se escuta e não se entende, chamamos a
isso de encontro, amizade, namoro ou casamento. Contudo, no meio desta
dialética, nós tratamos então, do pecado, do erro, do vício e da vaidade.
Concluo com uma frase que gosto muito de João Guimarães Rosa (1908-1967), do
seu livro: “Grande Sertão Veredas”: “Amigo para mim, é só isto: é a pessoa com
quem a gente gosta de conversar, do igual o igual, desarmado. O de que um tira
prazer de estar próximo do outro. Amigo, é que a gente seja, mas sem precisar
saber o por que é que é”.
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