A vida é comparada a uma viagem de
trem cheia de mistérios, com embarque e desembarque, alguns acidentes,
surpresas agradáveis em alguns embarques e grandes tristezas em outros. Quando
nascemos, entramos nesse trem e nos deparamos com algumas pessoas que, julgamos,
estarão sempre conosco nesta viagem. Talvez seja a hora de deixar para trás aquilo
que nos trouxe tristeza, e todo o mau que sofremos até aqui. Chegou a hora de
dar uma parada na estação Natal. Imagino que existe muitas expectativas nesta
próxima parada. É nessa estação que o Cristo nos espera disfarçado num rosto
qualquer. Vivemos a cada ano a falta de alguma coisa que não sabemos muito bem
o que é. Talvez seja a falta do Cristo vivo em nosso coração. As músicas
natalinas continuam as mesmas de décadas atrás, as comemorações são iguais em
qualquer família cristã e o cardápio da ceia de Natal, até hoje continua o
mesmo, ninguém mexeu. E Jesus que passou pela terra, é o mesmo Cristo que nos
espera na estação Natal. Como será esse encontro com Ele?
Na estação Natal, muitos não conseguem
enxergar o Cristo, porque não olham com o coração. Seu olhar é superficial e seu
discurso é ideológico. Mal sabem eles que o Cristo pode estar disfarçado na
figura de um morador de rua. Há pessoa que gosta de selecionar suas amizades,
ela pode estar excluindo o Cristo que está disfarçado entre nós. Ao procurar o
Cristo disfarçado entre os passageiros na estação Natal, certamente chegará a
maior graça que um ser humano pode alcançar. Ao tentarmos descobrir quem é o
Cristo que vive entre nós, passaremos a olhar cada um com os olhos do próprio
Cristo, e aqui está o grande segredo. Enquanto não passar a enxergar cada um
com os olhos do próprio Cristo, é impossível chegar à “experiência do amor”. Não adianta desembarcar na estação Natal se
não encontrar o Cristo que vive em cada um. Desejar feliz Natal sem reconhecer
o Cristo no outro, é hipocrisia.
Por outro lado, a nossa parada na
estação Natal, nos remete a lembranças de pessoas queridas que já desembarcaram
e não compartilham mais conosco desse encontro. Sentimos no corpo e na alma a
saudade de pessoas amadas que se foram, e nesta lembrança nutrimos uma espera
sem esperança. Porém, a vida é uma longa viagem só de ida, sem volta. De modo
que, esse ilustre personagem chamado Jesus, que viveu a mais de dois mil anos,
nos fez um convite: “Na casa de meu Pai
há muitas moradas” (João - 14, vs.02). Faço uso dessa metáfora, e assim
parodiar a música de Sérgio Bittencourt (1941-1979), na voz de Nelson Gonçalves
(1919-1998): “Naquela Mesa”, que traduz
exatamente o que sentimos com a chegada do Natal. Permita-me usar a estória da
minha saudosa mãezinha “Dona Lazinha”,
uma mulher simples de uma fé incomensurável. Foi com ela que aprendi o
verdadeiro sentido do Natal:
“Lembro-me
dela com carinho e me alimento dessa lembrança ao sentar nesta mesa, onde ela
sentava sempre e me dizia feliz o que é viver melhor. Aqui ela contava história
que hoje na memória eu guardo e sei de cor, e agora conto escrevendo. É nesta
mesa que ela juntava gente e contava contente o que fez durante o ano que
estava a findar. E nos seus olhos era tanto brilho, que por mais que seu filho
fiquei seu fã. Eu não sabia que doía tanto, essa mesa no canto, aquela casa e
um jardim que ficou lá em Rubião. Se eu soubesse o quanto doí à vida, essa dor
tão doída não doía assim. Acreditem, nesta mesa está faltando ela (e tantas outros pessoas) e a saudade dela doe demais em mim.” A saudade só não mata, porque
tem o prazer da tortura. Vale lembrar, que saudade é amar um passado que nos
machuca no presente.
Portanto, fui educado nessa atmosfera
natalina. A minha mãe que era uma mulher cristã e de muita fé. Ensinou-me que
devemos amar sem criar expectativas. Devemos demonstrar gestos de gentileza e
respeito sempre. Ser justo e nunca julgar o outro pelas suas fraquezas. Meditar
muito e pensar sobre nossas ações. Levar conosco, apenas as boas lições da vida
e as lembranças daqueles que nos fizeram felizes por algum tempo. O desembarque
e o embarque na estação Natal, nos traz esperança, para continuar a viagem no
trem da vida. A lição que tirei foi a seguinte: “Dizer o que penso com esperança, pensar no que faço com fé, fazer o que
devo com amor. Pois, esforço-me para ser cada dia melhor, ser bom é um
aprendizado indispensável”. Muitos ainda estão por descobrir o valor da
amizade. Lembre-se, a próxima parada será na estação Natal, Cristo está a sua
espera. Encontre-o.
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