Vivemos
todos como se estivéssemos diante de um porta retrato, olhando para a fotografia
de um ente querido e ali experimentando uma felicidade vivida e ao mesmo tempo
a dor da saudade, que ficou entre a presença e ausência. No triunfo da morte ou
de como as razões e desrazões arbitrárias do nosso desejo, fazem com que seja
difícil aceitarmos, que não temos mais a presença daquela pessoa que tanto
amamos. Como diz a música de Chico Buarque de Holanda (1944): “Ó pedaço de mim! Ó metade adorada de mim!
Leva os olhos meus, que a saudade é o pior castigo e eu não quero levar comigo
a martalha do amor, adeus”. É comum para muitas pessoas, viver esta
experiência da saudade, principalmente, nas comemorações de final de ano,
quando as famílias se reúnem. Pois a cada ano que se passa, sempre vai faltar
alguém naquela mesa e a saudade deste faz doer na alma.
Entretanto,
na mitologia hindu, a “mãe-terra”
queixa-se a Bhama da sobre carga que tem que suportar com o aumento crescente
da população no mundo. Bhama então diminui a sua energia criadora e como
resultado surge uma mulher de vermelho a que chamou de “morte”. Bhama ordena a morte que retire há seu tempo, todas as
pessoas do mundo. A morte se retrai e sofre solitária porque não será
compreendida quando tiver que separar os seres que se amam. Bhama transforma as
lágrimas da morte em doenças e determina que através delas os seres sejam
eliminados. Voltando a parafrasear Chico Buarque sobre o sofrimento com a
presença da morte, ele nos mostra que: “a
saudade é o revés de um parto. A saudade é arrumar o quarto do filho que já
morreu”.
Na “Parábola do Grão de Mostarda” da
doutrina budista conta que uma mulher, tendo aos braços o filho morto, recorre
a Buda e suplica que o faça reviver. Buda na sua imensa sabedoria pede para
essa mãe, que consiga em qualquer casa de família, alguns grãos de mostarda que
esse devolverá a vida ao seu filho. No entanto, esses grãos terão que ser
obtidos numa casa onde nunca morreu ninguém da família. Esta casa não é
encontrada pela mãe e ela compreende uma das lições fundamental do budismo: “a de ter que contar sempre com a morte”.
Portanto.
é entre o símbolo e o mito, a negação da morte e sua compreensão e aceitação
que o homem se equilibra. Mas, vale lembrar, que o homem se equilibra na corda
do tempo. E se é da análise deste tempo que se delineia a morte, determinada
que está irremovível entre permanência e transitoriedade, o próprio momento
contém esta grande tensão humana, pois se existe morte e se existe momento não
é natural pensar também na morte do momento? Logo, todo o milagre da vida, todo
deslumbrante drama humano em que naturalmente a morte se inclui, seria recriado
sempre em todo, em qualquer momento. Um dia vamos virar pó e seremos apenas uma
lembrança na memória de alguém.
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