Na
concepção dos gregos antigos, o amor não devia tornar-se prisioneiro do corpo,
mas elevar-se gradativamente, até o cimo, onde ficam as essências absolutas: a
verdade, o belo e o bem. Essa passagem do corpo ao espírito é a expressão da
dialética ascendente de Platão. Na parte inferior havia o mundo das sombras,
produtor de ilusões, e os objetos sensíveis.
No
outro extremo, o mundo inteligível. Todo processo de conhecimento dá-se em uma
ascensão do mundo obscuro, das sombras, ao luminoso mundo das ideias. Para
Platão, o amor é a busca da beleza, da elevação em todos os níveis, o que não
exclui a dimensão do corpo. Amor é o nível ou grau de responsabilidade,
utilidade e prazer com que lidamos com as pessoas que amamos.
Quando
percebemos que o outro é um ser humano e não a personificação de nossas
fantasias, nos ressentimos e reagimos como se tivesse ocorrido uma desgraça.
Geralmente culpamos o outro. O que ninguém pensa é que somos nós que precisamos
modificar nossas próprias atitudes. Mas sempre que encontramos alguém disposto,
capaz de por fim ao nosso desamparo, viramos as costas, muitas vezes por medo,
dúvidas ou por desconfiança. Criamos um escudo invisível, uma espécie de
blindagem.
No
entanto, sempre que alguém se propõe, nos acovardamos, esperando que um dia o
grande amor venha ao nosso encontro. Estamos todos mais ou menos envenenados.
Temos medo da solidão, assim, como também temos medo da entrega. Afinal, o que
buscamos nas relações afetivas? Parece que passamos a maior parte da vida
adulta tentando recuperar algo que perdemos com o nascimento, em vez de irmos
atrás da construção de nossa história que nem sequer começou.
O
amor nos ensina que há infinito em nós, mas que não somos infinitos. Esse
infinito faz parte da criatura humana, mas o meu “eu” não é infinito. O amor capaz de
nos ensinar estas duas lições é certamente um amor abençoado. Quando este amor,
além de sentimento e compreensão se faz também contato como: aconchego, trocas
calorosas, muita carícia e contato físico, podemos dizer que temos aqui um amor
perfeito. Talvez por isso o amor seja triste. Ele nos acena, ele nos afirma e
ele nos ensina que não há limites para vivermos essa realização plena e
integral.
Portanto,
quero acordar ao lado da amada, com o lençol bagunçado, tomar o café na cama,
as cortinas bem abertas. Quero abraço apertado, mordidinha na bochecha, beijo
de língua demorado. Quero banco do passageiro ocupado, cinema à tarde, tempo
para nós dois. Quero seu riso estampado, seu cheiro espalhado, nossa música na
rádio. Quero pintar nossa casa da mesma cor do nosso laço, colar você no meu
abraço e fazer amor. Quero sussurrar no teu ouvido, ouvir seu pior ruído, que
você seja meu livro mais lido. Quero acima disso tudo, você numa sexta-feira à
tarde sem preocupação, nós a sós, dividindo nossas vidas em uma só cama. Só
quero amar, não sei se quero acordar.
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