A própria dinâmica social e os referenciais ideológicos sobre o idoso,
merecem uma revisão. Tendo em vista que as nossas crianças não brincam e nem
estudam direito, na idade adulta enfrentam o terror do desemprego, além da
maternidade desamparada e da paternidade irresponsável, e a nossa velhice ainda
está por se construir, já que nem envelhecer com dignidade estamos conseguindo.
Nas palavras da pesquisadora do departamento de Psicologia Social da USP, Ecléa
Bosi: “ser velho em nossa sociedade é lutar para continuar a ser tratado
como ser humano”.
Como é então, a sexualidade daquele que luta para sobreviver, levando em
conta que é a mesma energia que nutre a vontade de prazer, a imaginação e a própria
inspiração? Os mais recentes estudos, nos mostram que não é preciso envelhecer
como estamos fazendo, nos maltratando. Levando em consideração algumas doenças
naturais que são inevitáveis. Mas os estudos nos chamam a atenção para uma nova
visão do homem, como uma somatória de déficits. No entanto, muito se pergunta
se o amor e o sexo acaba com o envelhecimento. E quando é que começamos a
envelhecer? Todavia, novas tendências científicas nos mostram que além do
biofísico, o indivíduo é também psíquico e espiritual. Entretanto, pode-se
viver muito com amor e praticando sexo com qualidade.
Na abordagem comportamentalista, estímulo e resposta, o amor e o sexo não
acabam enquanto o homem ou a mulher forem bem estimulados. Numa abordagem
existencialista, depende do que o amor e o sexo significa para cada um dos
parceiros. Mas para isso é necessário integrar a experiência humana em três
principais níveis: o biológico, o psíquico e o espiritual. Aqui esbarramos numa
questão muito séria e polêmica. O mundo ocidental não reconhece o sexo como
modo de evolução da própria espiritualidade. Quando afirmamos que é nos braços
da pessoa amada que encontramos o paraíso, que o beijo nos conduz a esfera
celestial e que a perda desta pessoa nos faz conhecer a condição de alma
penada. Essa é uma visão da filosofia oriental hindu, “o Tantra”.
É na experiência do amor que ascendemos igualmente ao sublime e ao
medonho. E é no sexo amoroso, em qualquer idade que conhecemos a eternidade, a
partir da própria temporalidade. A referência ao sexo amoroso está na prática
tântrica, onde o mais importante não é o orgasmo, e sim o prolongar desse
prazer, dando-lhe uma dimensão espiritual, que o idoso sabe muito bem como
conduzir esse feliz momento de encontro com a divindade.
Diziam os mais antigos, que se você quer ser feliz, não se case. Mas se
você quer fazer o outro feliz, então case. Entretanto, quando a gente é jovem,
não tem o alcance e nem a consciência da grandiosidade desse conselho. É
somente com a experiência da idade, com a maturidade, que passamos do processo
jovem, criativo e produtivo, para o processo maduro de introspecção e sabedoria
existencial. Serenidade, paciência e bom humor, alegria e felicidade a cada
encontro passa a ser a paragem pelas quais vagueia a nossa inteligência e com
ela a nossa sexualidade. Sabedoria milenar.
Portanto, nesse encontro com o outro, a própria vivência da alegria e da
beleza, é uma grande carícia, um tocar prazeroso, o sentir o coração pulsar e
acima de tudo o olhar nos olhos um do outro, vendo refletidas as almas em
êxtases. Prazer intenso no corpo, na psique e na alma. A certeza de ser divino,
como ser humano. Contudo, o homem maduro passa a pensar com o coração, a fazer
sexo com o corpo todo e com a mente no aqui e agora. Pois, na plenitude do
prazer do encontro, experimentamos o paradoxo e o milagre da vida, do
nascimento e da morte. Cada encontro é um renascer. Cada orgasmo é um morrer.
Somos o milagre da vida. Entre milhares de espermas mortos, você está vivo para
cumprir esse processo que é o ciclo da vida. Nascer, viver, envelhecer e
morrer.
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