Como
muito bem argumentou o psicanalista, filósofo e educador Rubem Alves
(1933-2014) em uma de suas belas crônicas: “o
ato de ouvir exige humildade de quem ouve. E a humildade está nisso: saber, não
com a cabeça mas com o coração, que é possível que o outro veja mundos que nós
não vemos”. Mas, admitir que o outro vê coisas que nós não vemos, implica
reconhecer que vemos pouco ou errado. Bernardo Soares diz que aquilo que vemos
é aquilo que somos. (Bernardo Soares é um tipo particular dentre os heterônimos
do poeta e escritor português Fernando Pessoa. Ele é o autor do livro
Desassossego).
Assim,
para sair do círculo fechado de nós mesmos, em que só vemos nosso próprio rosto
refletido nas coisas, é preciso que nos coloquemos fora de nós mesmos. Não
somos o umbigo do mundo. E isso é muito difícil: reconhecer que não somos o
umbigo do mundo! Para se ouvir de verdade, isso é, para nos colocarmos dentro
do mundo do outro, é preciso colocar entre parêntesis, ainda que
provisoriamente, as nossas opiniões.
Minhas
opiniões! É claro que eu acredito que as minhas opiniões são a expressão da
verdade. Se eu não acreditasse na verdade daquilo que penso, trocaria meus
pensamentos por outros. E se falo é para fazer com que aquele que me ouve
acredite em mim, troque os seus pensamentos pelos meus. É norma de boa educação
ficar em silêncio enquanto o outro fala. Mas esse silêncio não é verdadeiro. É
apenas um tempo de espera: estou esperando que ele termine de falar para que
eu, então, diga a verdade.
A
prova disto está no seguinte: se levo a sério o que o outro está dizendo, que é
diferente do que penso, depois de terminada a sua fala eu ficaria em silêncio,
para ruminar aquilo que ele disse, que me é estranho. Mas isso jamais acontece.
A resposta vem sempre rápida e imediata. Para Rubem Alves resposta rápida quer
dizer: “Não preciso ouvi-lo. Basta que eu
me ouça a mim mesmo. Não vou perder tempo ruminando o que ele disse. Aquilo que
ele disse não é o que eu diria, portanto está errado”.
Portanto,
a luta pela felicidade em vida. A revolta por tudo aquilo que, embora lógico,
não faz sentido (e, ainda assim, é aceito!). A palavra que é sentida pelo
coração, como olhar para uma árvore, uma horta, uma amizade, a arte, Deus, o milagre
da natureza e até mesmo a morte. Todos eles ganham uma nova dimensão quando
paramos para olhar e ouvi-los. Temos que aprender a ter paciência, saber ouvir
e a colocar-se no lugar do outro, por pior que este seja, pois quem ouve e
compreende tem o dom de se colocar na mesma situação, entende o problema, e dá
força para juntos encontrem a solução. As vezes fazemos as escolhas erradas para chegar ao lugar certo.
Belo texto... Ouvir exige muito... Precisamos praticar a escuta... A escuta empática e atenta.
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