A
vida do homem não pode ser vivida pela repetição do modelo da sua espécie, ele
tem que vivê-la. O homem é o único animal que pode sentir-se aborrecido, que
pode sentir-se expulso do paraíso. O homem é o único animal que considera a sua
existência um problema que tem de ser resolvido e do qual não pode escapar. Não
pode voltar ao estado pré-humano de harmonia com a natureza; tem que prosseguir
no aprimoramento da sua razão até tornar-se o senhor da natureza e de si mesmo.
Presume-se
que o homem que viveu no Jardim do Éden, em completa harmonia com a natureza,
mas sem autoconsciência, inicia agora a sua história pelo primeiro ato de
liberdade, pela desobediência ao comando do Criador. E concomitantemente,
adquiriu a consciência de si mesmo, da sua separação, do seu desamparo; ao ser
expulso do paraíso. Contudo, o pecado original é um ato de liberdade e o ganho
da consciência plena.
Ao
ganhar a consciência o homem descobriu o amor. Aprendeu que o amor não é apenas
um sentimento forte, e sim uma decisão, um juízo e ao mesmo tempo, uma
promessa. Se o amor fosse apenas um sentimento, não haveria base para a
promessa de amar um ao outro para sempre. Um sentimento apenas, ele vem e pode
ir. No amor também pode acontecer. Depende da nossa receptividade. Como posso
julgar se ele vai ficar para sempre, se meu ato não envolver juízo e decisão?
Segundo
o filósofo e psicanalista Erich Fromm (1900-1980) ao iniciar seu livro “A Arte de Amar”, afirma que para sermos
sujeitos capazes de exercer essa arte, devemos aprender a teoria e a prática do
amor. O amor é uma arte? Então requer conhecimento e esforço. Em muitos casos o
ideal amoroso é desmistificado. Se não houver a consciência do estado de
separação do homem e o exercício da liberdade para a prática do poder de amar,
dando ao outro a expressão e manifestação de que se o amor não é vivo nele, em
sua alegria, compreensão, interesse, conhecimento, sem sacrificar a própria
vida, o pseudo amor se desfaz com os primeiros antagonismos. O amor que habita
em mim é o que vai lhe devolver a harmonia do paraíso.
Entretanto,
o amor é desvendado como resposta para o problema da existência humana. Só há
certeza com relação ao passado; com relação ao futuro, a única certeza que
existe é a da morte. A consciência do estado de separação faz com que o homem
busque a união para superar a solidão, a culpa e a ansiedade. A necessidade de
se unir é observada nos mais remotos mitos como, por exemplo: a história de
Adão e Eva.
Portanto,
Adão e Eva ao deixar o paraíso descobriram o amor e de posse desse
conhecimento, sentiram que amar também é estar no paraíso, só que agora com
consciência. No ato de união, o amor dá resposta à minha busca. De doar-me e
penetrar a alma do outro, nesse encontro descubro o ser humano que sou no outro
e sinto a minha humanidade. Cabe agora a cada um o dever de estar atento à
solidão do outro. Contudo, ser capaz de amar é ter a coragem de assumir riscos
e empreender a única maneira saudável de responder aos problemas da existência
humana.
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