Costumo
sempre dizer que o bom amor é aquele que transforma as pessoas. Se me envolvo
com alguém e se conseguimos cultivar bons sentimentos, nós dois nos
desenvolvemos como seres humanos. Por outro lado, se tenho muitos amores, mas
sou sempre o mesmo, desconfio que não amo ninguém.
Segundo
o educador e escritor ítalo-americano Leo Buscaglia (1924-1998): “criamos um mito em torno do amor, como se
ele fosse a solução para todos os problemas da nossa vida, alimentando-nos de
felicidade a cada instante para todo e sempre”. Na verdade, não é bem
assim. Mas também ninguém nega que o amor é uma troca poderosa de influência,
isto é, o único que nos transforma e que realmente nos humaniza pela sua força
analgésica.
O
mito do amor perfeito seria uma delícia, se fosse verdade, mas igualmente
fantasioso para quem cultiva esse mito. Muitas pessoas estão procurando esse
amor perfeito. É comum em rodas de mulheres fazerem a seguinte pergunta: “Onde
acho um homem que não seja só para transar ou só um marido chato, que seja um
intermediário entre os dois, que possa ser agradável, interessante, gostoso de
olhar, bom de prosear, que gosta de agradar e que faça sexo gostoso?” Será que
existe alguém assim?
Quando
você ama alguém, você não ama o tempo todo exatamente da mesma forma, é
importante assinalar esse fato. Isto é impossível de existir. Seria até uma
mentira fingir que isto acontece. Se fosse verdade, os casamentos não acabariam
depois de algum tempo. Mas mesmo assim, é exatamente isso que a maioria de nós
gostaria que fosse.
Para
psicóloga e sexóloga Maria Helena Matarazzo (1942), toda a relação humana tem
suas fases, são momentos em que o relacionamento atravessa maior ou menor
intensidade. Há um momento em que a gente se sente absolutamente preenchido, em
comunhão com o outro, isso quer dizer que estamos em “comum-união”, quando a comunicação é intensa e
plena. Sentimos-nos nutridos e achamos que esse vínculo é para sempre.
Mergulhamos
na fantasia do amor perfeito, do encontro perfeito. Temos a sensação de
completude total. É a fase onde o amor é cego. A gente esconde embaixo do
tapete as coisas negativas, as nossas neuras, que podem corroer o desejo e o
amor que existe entre ambos. São as nossas frustrações, as angústias e o medo
que temos de mostrar esses sentimentos.
Mas,
uma hora ele se apresenta e o encanto se despede. A fase romântica tem prazo de
duração, por mais intenso que seja esse romance, as vezes o desencanto é
inevitável. Só não sabemos quanto tempo dura essa fase, em que tudo parece ser
lindo e não vemos defeito um no outro. A expectativa criada em torno do
príncipe encantado ou da princesa, logo se desmorona.
De
modo que, esse é o momento de confrontação das expectativas irreais do
casamento. Aqui começamos a ver as diferenças daquilo que construímos antes do
outro. Nesse momento sentimo-nos traídos, não aceitamos as diferenças. Também é
o momento para surgir até uma nova paixão, as pessoas não acreditam que isso
possa acontecer com elas. E carregam essa culpa pelo resto da vida.
Na
fase da conquista, da sedução, as pessoas só mostram o lado bonito da sua
personalidade, mostra uma educação, uma fineza que nunca se viu igual. Aqui as
fraquezas e as feridas emocionais não aparecem, os medos ficam escondidos.
Quando esse lado obscuro toma corpo, há uma tendência natural de cada um lutar,
muitas vezes desesperadamente para mudar a pessoa amada, no intuito de salvar
esse suposto amor perfeito. Começa o confronto entre as partes envolvidas na
tentativa de um moldar o outro, para que ele corresponda à imagem idealizada lá
no começo da sedução.
Portanto,
esse período é marcado de muita ansiedade, de muita angústia diante dos
acontecimentos que ameaçam esse vínculo que ambos acreditam que é para sempre.
É o momento em que a suposta união perfeita está chegando ao seu final.
Descobrem que ninguém pode garantir a felicidade do outro. Cada um pode até
criar condições para que o outro seja feliz, mas não pode lhe dar a felicidade.
Cada um é único e ama do seu jeito. Os dois podem e devem se amar juntos. Mas
esse “amor” não
é “perfeito”, pelo
simples fato de ser interpessoal. Tendo em vista, que a perfeição não é um
atributo humano.
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