No
século quinto antes de Cristo vivia em Atenas, o grande filósofo Sócrates
(470-399 a.C.). A sua filosofia não era apenas uma teoria especulativa, mas a
própria vida que ele escolheu viver. Aos setenta e tantos anos foi Sócrates
condenado à morte, sob a acusação de corromper os jovens com os seus
ensinamentos, embora fosse inocente.
Todavia,
enquanto aguardava no cárcere o dia da execução, os seus discípulos e amigos
moviam céus e terra para livrá-lo da morte. O filósofo, porém, não moveu um
dedo para evitar esse final triste. Muito pelo contrário, em perfeita
tranquilidade e paz de espírito aguardava o momento em que beberia o veneno
mortífero. Na véspera da execução os amigos e discípulos conseguiram subornar o
carcereiro, que logo abriu a porta da prisão.
Críton,
o mais crítico dos discípulos de Sócrates, entrou na cadeia e disse ao mestre:
“Foge depressa, Sócrates!”, perguntou o preso: “Fugir, por que?” Críton indagou prontamente: “Ora, não sabes que amanhã vão te matar?” E Sócrates seguro de si
argumenta: “Vão matar-me? Ninguém pode me matar!” Insistiu Críton:
“Sim, amanhã terás que beber a taça de
cicuta mortal. Vamos mestre, foge
depressa para escapares da morte!”
Responde
o condenado: “Meu caro amigo Críton, que
mau filósofo és tu! Pensar que um
pouco de veneno possa dar cabo de mim”. E Sócrates continua: “Pois o que eles vão matar é esse invólucro
material, o meu corpo e não a mim, os meus pensamentos vão perdurar. Eu sou a
minha alma. Ninguém pode matar Sócrates!” E ficou sentado com a porta da
prisão aberta, enquanto Clíton se retirava chorando, sem compreender o que ele
considerava teimosia ou estranho idealismo do mestre.
No
dia seguinte, quando o sentenciado já havia bebido o veneno mortal e seu corpo
estava começando a desfalecer, pois, aos poucos o mestre ia perdendo a
sensibilidade, ainda perguntou-lhe, entre soluços o discípulo: “Sócrates, onde queres que te enterremos?”
Ao que o filósofo, semiconsciente murmurou: “Já te disse, amigo, ninguém pode enterrar Sócrates. Quanto a esse meu
invólucro, enterrai-o onde quiserdes. Não sou eu que estão enterrando, pois eu
sou a minha alma”.
Portanto,
assim pereceu esse homem, que tinha descoberto o segredo da felicidade, que nem
a morte lhe pode roubar. “Conheça-te a ti mesmo”, com essa
frase Sócrates nos remete a uma profunda reflexão sobre a felicidade, a
descoberta do verdadeiro “Eu divino”,
do eterno e imortal, sobretudo, porque o desejo universal é a felicidade.
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