Certa vez, muito intrigado,
um discípulo abordou seu velho mestre: “Como o senhor, de idade tão avançada,
parece ainda mais novo do que nós? Como pode estar sempre tão bem disposto e
alegre?” A resposta veio em seguida, mas naquele tom calmo, comum aos sábios, ondulante
e com todas as pausas: “Quando eu como, eu como. Quando eu descanso, eu
descanso. Não tenho nenhum problema em fazer uma coisa de cada vez”.
Esta pequena história, mas
de uma profunda sabedoria oriental, nos da pista para investigar um tema que
muito nos interessa nos dias de hoje. A dificuldade que temos ao tentar fazer
uma coisa de cada vez. A dificuldade que temos de prestar mais atenção no que
sentimos. O homem é um ser explorador por natureza. Graças a essa
característica espalhou-se pelo planeta, povoando todos os continentes. No
entanto, a mais importante das explorações do homem deveria ser a exploração de
si mesmo, de seu mundo interior, os sentimentos e as suas fraquezas. O “conhece-te a ti mesmo” socrático
encontra apoio na psicologia moderna, que deseja um homem autoconsciente,
equilibrado, senhor de seus pensamentos e de seu destino. Que tenha domínio sobre
si mesmo, sem que se perturbe com as intrigas e as opiniões do mundo das
aparências, as fofocas.
Entretanto, a nossa
exploração interna tem estado em crise. Será que, realmente, nos conhecemos de
fato? Milhões de palavras foram gastas, ao longo dos séculos, para descrever os
mistérios da paixão. Todas as maiores mentes da humanidade se declararam
impotentes frente aos mistérios e caprichos da paixão. Não da tempo para que
olhemos para dentro de nós, porque temos muito aí fora para olhar. Vivemos da
opinião dos outros e abandonamos os nossos nobres sentimentos. Em algum momento
da vida trocamos mensagens de carinho pelo celular, dividimos o pudim feito no
micro ondas, assistimos filme juntos e depois dormimos de conchinha. Enfim, fomos
o centro da vida um do outro. Mas agora é cada um para o seu lado. E sempre
fica um enorme ponto de interrogação e ao mesmo tempo uma lacuna na vida de
cada um. Se era tão bom, por que acabou? Podemos até explicar, mas nunca vamos
encontrar uma justificativa plausível, para as coisas do coração.
Além disso, a vida moderna
às vezes faz exigências paradoxais. Aquelas que, quando você atende a uma, não
pode atender à outra. Manda você estar ligado a todos os assuntos ao mesmo
tempo, conectado, plugado, só para usar alguns dos neologismos pertinentes, mas
também nos manda ser calmo, sereno e criativo. E da para ser tudo isso ao mesmo
tempo? Informações, tarefas, cobranças, desejos, ofertas, temos tudo em
excesso. Sem falar ainda, daquelas pessoas que aparecem do nada para nos
destruir, destilando seus venenos. Diante de tanta crueldade, fica a pergunta: Por
que a maldade permeia a nossa vida? Ser cruel da mais prazer do que amar? Talvez
seja por que sofremos e queremos fazer o outro sofrer? Ou odiamos por que
amamos profundamente?
Por outro lado, a internet
trouxe grande contribuição, mas também algumas dificuldades. Pois, é necessário ser
especialista e generalista ao mesmo tempo; lidar com o volume de informações
que, se por um lado é o oxigênio da maioria das profissões, são intoxicantes em
função de seu excesso; fazer várias coisas ao mesmo tempo com a mesma qualidade
obtida em tarefas de dedicação exclusiva. Multiplicar o tempo, que parece cada
vez mais raro, e que escorre entre nossos dedos. Esquecemos o que é viver, o
que é estar vivo. É preciso lembrar o que temos e o que podemos perder. Mas, o
tempo nos permite pensar sobre?
O homem moderno tem de parar
e pensar mais. Perceber que as rupturas não são modernas, mas novas propostas.
O moderno sente o presente, olha para o futuro e utiliza o passado como
ensinamento e aprendizado. O moderno não despreza o que a humanidade pensou,
escreveu e produziu nos últimos seis milênios, e sim adapta esse legado à
atualidade. Contudo, não podemos esquecer que bondade e o sentido de cada coisa
não se alcançam só pelo conhecimento. É preciso ainda uma aposta razoável de
que o amor é o alimento da alma.
Portanto, nos descobrimos em
um mundo com muitas atividades, muitas informações, muitas exigências, pouco
tempo para amar e uma imensa gama de intolerância diante desse sentimento tão
nobre, que é o amor. Essa é uma combinação explosiva, cujo resultado pode ser
representado por produtividade baixa e estresse alto em nosso dia a dia. A não
ser que nos organizamos, e não apenas em termos de agenda, mas em termos de
qualidade mental em equilíbrio com nossa natureza. O cérebro trabalha melhor
quanto mais focado estiver. Concentração é sinônimo de qualidade de vida e
crescimento interior. E o amor é o equilíbrio entre o nosso mundo interior, com
o nosso mundo exterior. Sendo assim, haverá harmonia entre esses dois mundos e
a paz reinará entre homens.
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