Para entender mais
uma vez com maior profundidade a condição humana do livro “Mito e Sexualidade”, do escritor e jornalista americano Jamake
Highwater (1942-2001). Na primeira resenha, tratei do primeiro e segundo
capítulo usando o título: “O Mito da Sexualidade Humana”, já na segunda resenha,
analisei o terceiro e quarto capítulo onde usei o título: “A Visão Mítica da
Sexualidade”, e para fechar essa trilogia, contínuo a minha reflexão a partir do
quinto e sexto capítulo do mesmo livro, agora com o título: “O Corpo como
Pecado”. Como sempre analisando a interpretação fenomenológica, hermenêutica e
buscando uma melhor compreensão da síntese do autor. No quinto e sexto capítulo
o autor nos concede importantes elementos que possibilitam a construção de
novas significações para a sexualidade humana.
Entretanto,
o quinto capítulo traz a discussão que se intitula: “O sexo como pecado” (p.92-120). A problemática do corpo como
castigo tem como referência o mito persa do gênesis, que em sua composição
apropria-se de maneira exacerbada, de uma lógica maniqueísta na explicação da
criação do universo. Este dualismo cósmico é a base do zoroastrismo, que por
sua vez, foi a religião que mais influenciou as idéias do cristianismo e do
judaísmo (p. 95).
Neste
capítulo, o autor mantém diálogos constantes com Joseph Campbell (1904-1987),
um estudioso norte americano de mitologia e religião comparada e com ele
compartilha do entendimento de que por volta do século VI a.C. ocorreu uma
grande inversão psíquica no mundo ocidental, configurando ao invés da visão
afirmativa que se tinha da natureza, uma visão extremamente negativa da vida
(p. 96). Segundo Jamake Highwater, esta visão fatalista da vida, oriunda do
pensamento patriarcal e posteriormente estruturada pela mitologia cristã e
judaica, será responsável pela organização das mitologias calcadas na ciência e
na indústria do ocidente.
A outra
problemática importante
deste texto, versa sobre a transformação do cristianismo em religião oficial do
império romano e as principais concepções da sexualidade ocidental, que
derivaram de seus dogmas e práticas. Um dos vértices deste processo, que nos é
muito relevante, diz respeito à questão do celibato.
No judaísmo, o sexo e
o casamento estavam estritamente ligados à questão da reprodução, uma vez que
os “valores míticos derivavam das atividades agrícolas e pastoris numa região
fria e árida” (p. 106). Porém, Jesus Cristo, segundo Jamake Highwater, mesmo
que acostumado com os valores judaicos, institui uma nova visão sobre a “vida
de solteiro” declarando efetivamente que as obrigações conjugais, são mais
importante que a procriação e propondo o celibato voluntário como salvação da
alma. Para Jamake Highwater, “os cristãos herdaram apenas os elementos
negativos dos hábitos sexuais judaicos e foram pouco a pouco inventando a
tradição talvez mais negativa do sexo de toda a história” (p. 107-108).
A discussão culmina
com a releitura do gênesis, elaborada por Santo Agostinho que ao reinterpretar
a história de Adão e Eva põem fim a todas as interpretações que davam margem “à
busca da liberdade humana” e institui a história do corpo como servidão e como
castigo divino (p. 114-118).
O corpo como amante é o tema do sexto
capítulo (p. 121-139). Nele o autor nos conduz à mitologia trovadoresca,
nascida paralelamente aos ideais agostinianos, no século XII. Mitologia esta,
responsável pela invenção do amor cortês e por uma total revolução da psique
ocidental, que trouxe para o espírito humano, a invenção do eu, a expressão
lírica e a adoração da mulher (p. 138).
Através do conto
“Tristão e Isolda”, o autor nos revela algumas importantes significações acerca
do corpo, do amor e da sexualidade naquele momento histórico e faz-nos refletir
sobre seus ecos na atual conjuntura. Talvez, uma das mais representantes
reflexões trabalhadas nesta etapa da tese, seja a desmistificação do casamento
e do adultério na sociedade feudal. Jamake Highwater deixa claro que desde a
formação das sociedades de parentesco do ocidente, o sexo e o casamento estavam
estritamente relacionados à procriação e a
proteção de bens familiares.
O casamento “era uma instituição feudal, solene e fria” (p. 124), pode-se dizer também, que era uma questão prática e política e, segundo o autor: temos igualmente por certo que a finalidade natural do amor e do casamento é a realização sexual, mas até o começo deste século o objetivo mais comum era a geração de filhos herdeiros e trabalhadores não remunerados em indústrias domésticas e nos campos (p. 125).
O casamento “era uma instituição feudal, solene e fria” (p. 124), pode-se dizer também, que era uma questão prática e política e, segundo o autor: temos igualmente por certo que a finalidade natural do amor e do casamento é a realização sexual, mas até o começo deste século o objetivo mais comum era a geração de filhos herdeiros e trabalhadores não remunerados em indústrias domésticas e nos campos (p. 125).
Portanto,
para Jamake Highwater, existem duas possibilidades justificáveis para o
surgimento da mitologia do amor romântico: a primeira delas corresponde
justamente a falta de amor nos casamentos arranjados; e a segunda diz respeito ao
“direito sucessório feudal, pelo qual as mulheres herdavam títulos e bens” (p.
126). Assim, em uma sociedade onde a maior preocupação era a aquisição de
terras, o método menos cruel e mais civilizado de se conseguir a transferência
pacífica de direitos de propriedade de uma família ou de uma pessoa –
principalmente de uma mulher – para a outra, era através do casamento e de seu
grande e mais novo aliado: o amor cortês.
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