A fantasia é o que difere o ser humano de um animal irracional. O menino
começa a ter curiosidade e a imaginar como é a menina e vai formando uma imagem
na sua cabeça, vai idealizando um modelo de mulher. A partir daí formará um
ideal de amor que vai surgir na idade adulta, todo o processo do apaixonar-se
um pelo outro e ambos passam a enamorar através da fantasia que cada um faz da
outra pessoa.
É aqui que começa o primeiro movimento do adolescente cercado de
conflitos. Surge o interesse pelo outro, mas ao mesmo tempo é de negação do
próprio desejo, quanto ao fato da outra pessoa ser interessante. Isto ocorre em
função da primeira marca que fica da dor de amor.
Afinal, quanto maior a expectativa, maior a frustração e cuidamos de
segurar estas expectativas. Então, desdenhar faz parte do processo normal do
encantamento principalmente na adolescência. É não assumir o outro como objeto
do nosso desejo, com medo de nos frustrarmos e sofrermos de novo. Evitamos esse
desejo, até percebermos que temos alguma chance. Todavia, neste ponto inicia-se
o processo de conquista.
No processo de conquista muitas coisas vão acontecendo. Há um interesse
intelectual um pelo outro, o jeito da pessoa, o tom da voz, o sorriso, o
encantamento vai se desenrolando bem devagar. O chamado amor à primeira vista,
que pode acabar no instante seguinte dependendo da expectativa criada por
ambos. Os dois são responsáveis diretos para a continuação ou não desse
vínculo.
No momento da conquista, o desejo é transferir aquilo que sente pelo
outro para dentro de um vínculo. O primeiro grande erro estratégico é querer
transformar logo o que sente em namoro, antes de entender o significado dessa
relação. O namoro é uma instituição onde existe um contrato tácito, ou seja, um
compromisso moral. Como todo compromisso vira obrigação, ao mesmo tempo você
está matando a fantasia e o desejo que sentem um pelo outro. É nesse momento
que começam as cobranças.
Entretanto, o namoro neste contexto só serve para matar a fantasia, o
carinho, o desejo e a magia que existe entre os amantes. A relação fica um
vazio, um buraco. Por essa razão que a grande maioria das pessoas vive
insatisfeito na sua subjetividade. Brigam o tempo todo para conquistar um ao
outro e, quando conseguem aquilo que queriam, agora não querem mais, talvez
quisessem outra coisa que o outro não pode oferecer.
O processo de desejar é um contínuo sim para muitas pessoas. Quando
consegue, não sabe o que fazer, então descarta toda a possibilidade desse amor
vingar. Certamente vai sair à procura para preencher esse vazio, é o momento do
“ficar”. Na verdade, é um momento de muita ansiedade, o ficar é uma
relação rápida de percepção curta em que, via de regra, existe uma paixão
fugaz, pouco duradoura. Muitas pessoas só entram nessa por medo de ficarem
sozinhas.
O que assusta no amor é que há uma identificação, aquele amor paixão, o
amor dos iguais, no qual um olha para o outro e vê algo igualzinho a si
próprio. Pensam exatamente as mesmas coisas. Antes de um proferir alguma frase
o outro já fala a frase. Existe uma sincronicidade nessa relação, para usar uma
linguagem junguiana. As chamadas coincidências. Gostam das mesmas coisas. São
capazes de ficarem horas conversando e não conseguem esgotar o assunto.
De modo que a complementação desse amor são as diferenças, mas juntos
formam um casal perfeito. Muitos amantes não conseguem se separar porque não
sentem capazes de enfrentar o mundo sem aquilo que o outro tem e me completa.
Significa amar no outro tudo aquilo que falta em mim, então eu fantasio e
desejo o que me falta.
Portanto, quando perdemos alguém que amamos, achamos que nunca mais vamos
conseguir nos apaixonar. Junto morre a fantasia e o desejo. Na verdade, o que
outro fez por nós foi nos mostrar que temos condições de amar e de nos
apaixonar. Ninguém leva embora a nossa capacidade de amar. Amar é um dom da
essência humana. O que fazemos é aguardar que um dia as fantasias e os desejos
ressuscitem novamente com a chegada de outra pessoa que venha e consiga
despertar esse sentimento nobre outra vez. Tendo em vista, que a lembrança
permanece, pois cada um é único na sua essência.
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