No livro: “Do Universo à Jabuticaba”, do filósofo e educador Rubem
Alves (1933-2014). Ele traz uma frase chapada e profunda, logo na abertura do
livro ao dizer: “Senti que o tempo é apenas um fio. Nesse fio vão sendo
enfiadas todas as experiências de beleza e de amor por que passamos. Aquilo que
a memória amou fica eterno”. Portanto, parto do pressuposto que
uma pessoa jamais se sentirá plena se amar só para dizer que ama. Amar pela
metade, se não se entregar completamente não é amor. Repare que é
completamente, não insanamente. Há quem confunda e ache que amor é feito de
qualquer jeito, entre xingamentos e beijos, às vezes mais desrespeito que amor.
Sinceramente, isso não tem cara de amor, é falta de serenidade. E se não tem
paz, não dá para amar. Brigar desgasta, dá desgosto e nos deixa triste. Fujamos
de afetos assim, de parceiros (as) desorientados (as).
Amor tem que ter constância. E consistência. Ama-se todos os dias, mesmo
que o dia não seja o melhor. O amor fica impresso no silêncio, no respeito ao
espaço e tempo do outro, na companhia para o descanso e na esperança de que o
outro dia seja melhor. O amor não precisa ser falado, embora seja gostoso ouvir
um “eu te amo” da pessoa amada. Isso não tem preço e é um prazer
absoluto. Mas ele está muito mais no toque, na forma de falar e no jeito de
olhar. Amor é mais sensação que palavras ditas. É quando um sente e o outro
percebe e fala o que aquele está sentindo. Quantas vezes você pensou naquela
pessoa especial e de repente ela te liga ou aparece na sua frente. Isto é uma
linguagem das almas.
Não pode afirmar que ama, alguém que não demostre alegria em falar dos
seus sentimentos. Mesmo que o tempo de convivência seja longo, um mínimo de
afeto precisa ser demonstrado. É bonito quando alguém inclui o nome do outro em
uma conversa qualquer. Inconscientemente, deseja que a pessoa amada se faça
presente, ainda que o assunto seja corriqueiro. São coisinhas como: “ele também
é assim e ela gosta muito disso”. Dá gosto de ouvir, soa como uma prova dos
nove do amor, que aquela pessoa está vivendo.
Amor é lembrar dos produtos preferidos ao cumprir a lista do
supermercado; é andar de mãos dadas na rua; é trocar metade de um filme por
beijos e abraços; dividir um lanche e um copo de suco e saber que o verdadeiro
banquete está na companhia. É saudade boa na ausência e tranquilidade na
presença. Se os sentimentos acontecem ao inverso, há algo de errado. Se há mais
cabeça baixa que brilho nos olhos, também é sinal de alerta. Se o abraço
trocado não tem mais calor, a chama se apagou e talvez já faça algum tempo.
Esse é um sinal de alerta que algo não vai bem. É hora de sentar e discutir a
relação.
Portanto, o amor precisa ser forjado, não vem de mão beijada e nem é
feito apenas de rosas. Não é perfeito, nem feito apenas de momentos felizes ou
incríveis. Amor também é abrir mão, é uma conversa difícil e divergente. É
desacordo que precisa terminar em acordo, em pedido de desculpas e em promessas
de fazer melhor da próxima vez. Só experimenta o verdadeiro amor quem pode
fazer dele o seu significado de reciprocidade. Só o amor devolvido na mesma
moeda, traz felicidade completa. Bem lá no fundo, se há intimidade a ponto de
um abraço dispensar qualquer palavra, seguramente é o amor que está se
manifestando silenciosamente. Em resumo, “amar talvez seja isso: descobrir o
que o outro fala mesmo quando ele não diz nada”.
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