O que sentimos no fundo da alma por uma pessoa, está no desejo ou no
amor? Será que desejo e amor se confundem? Para Platão (427-347), não importa,
pois, esse deve ser o ponto de partida para um caminho ascendente de
contemplação intelectual ou espiritual por essa pessoa. Argumenta ele que é
como ir subindo vários degraus: A função do desejo e do amor na alma humana é
impulsionar em direção ao alto, em direção à contemplação da beleza em si
mesma, eterna e incorruptível.
No entanto, o que Platão nos mostra é, que o amor é um caminhar sobre
espinhos, uma loucura e um arrebatamento, mas não deve servir apenas à
satisfação dos desejos inferiores da alma. Ele pode e deve envolver jogos
eróticos, como carícias, beijos, toques, mas tudo isso no campo das ideias.
Como muito bem ensina o Tantra Hindu. Os rituais desses encontros envolvem a
aproximação muito lenta do homem com a mulher, aproveitando cada passo,
sentindo cada pequeno gesto, olhar, sorriso e contato físico. Uma forma sábia
de prolongar estes momentos prazenteiros é viver em eterna delícia. Esta é a
essência da mensagem Tântrica, que Platão afirma no mundo das ideias.
Procurar por esse amor estará sujeito quase sempre a encontrar prazer e
dor como diz nos diálogos de Platão sobre o amor. É nas relações afetivas que
essa combinação paradoxal surpreende e fere, acima de qualquer sensação física.
Nesse envolvimento passional as impressões subjetivas sutilmente superam a
racionalidade, igualando paixão e amor. Sentimentos que se confundem no
coração, mas distinguem-se no cérebro. Pode-se dizer que no porquê e no apesar
estão as diferenças semânticas que a emotividade não explica. Só as almas
conhecem e conversam telepaticamente, ultrapassando a temporalidade.
Apaixonamo-nos porque o ser amado parece ter virtudes só visíveis aos
nossos olhos. Amamos quando descobrimos que, apesar de aparentes as virtudes e
ostensivos os defeitos, predominam a confiança e a compreensão. Tendo em vista
que na paixão, está o princípio da dor e no amor está o princípio do prazer.
Confundir a natureza desses sentimentos é misturar prazer e dor. Com a paixão
vem à posse, o ciúme e a cobrança. Com o amor ficam a admiração, o respeito e a
lealdade, formas de amar que poucos reconhecem. Nenhum relacionamento sobrevive
sem esses ingredientes que decorrem não do arrebatamento – atributo da
passionalidade insensata – mas da razão, atributo da maturidade racional.
Entretanto, nos desdobramentos da paixão, o amor e o ódio encontram-se e
repelem-se, para negar e consentir no trânsito entre o amor e o não amor à
simpatia; entre o ódio e o não ódio, a antipatia; entre o não amor e o não
ódio, a insegurança. Regidos por essas forças, os relacionamentos pessoais,
familiares ou sociais, aproximam-se ou distanciam-se num oscilar contínuo,
mediados pela sinceridade, pelo carinho, pela solidariedade, tanto quanto pela
mentira, pelo desprezo ou pelo egoísmo.
Portanto, enquanto houver uma alma apaixonada, o cérebro e o coração
dividirão a soberania das emoções, confundindo paixão e amor. Não existe outra
forma de descobrir o amor e, sem ele a vida não tem significado. Contudo,
desejo aos jovens que não amadureça depressa demais e sendo maduro, não insista
em rejuvenescer, e que sendo velho não se dedique ao desespero. Porque cada
idade tem o seu prazer e a sua dor e é preciso deixar que eles escorram por
entre nós. Continuamente vemos novidades, diferentes em tudo da esperança; do
mal ficam as mágoas na lembrança e do bem, se algum houve, as saudades.
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