Nasci
num lugarejo onde o tempo passa devagar. O passado não quer partir, teima em
querer ficar. Faz exatamente quatro anos e meio que nasceu esse espaço de leitura,
para dialogar com pessoas que amo e as respeito. Diante da circunstância dos
fatos, não poderia deixar de registrar esse momento histórico. Ao longo desses
quatro anos e meio, postei aqui trezentos textos e tenho um acervo fotográfico
com mais de novecentas fotos e trinta horas de vídeos gravados ao lado de
pessoas queridas e especiais. São registros que contam a história desse homem
que tem um caso de amor com a vida, que teve o privilégio de conviver com
pessoas que marcaram profundamente a minha história. Algumas ainda continuam ao
meu lado, outras já partiram para sempre. Fotografamos esse passado que hoje
não quer partir. É comum dizer, vamos tirar uma foto! Mas, está errado. O olhar
do fotografo não tira nada, ele põe. Descansando os meus olhos pelas fotos das
inúmeras viagens que fiz, lembrei-me de um verso que a Cecília Meireles
escreveu para seu avô, encantada: “Tudo
em ti era uma ausência que se demorava. Uma despedida pronta a cumprir-se”.
Foi
o que eu disse baixinho para as fotografias em quanto olhava: “tudo em ti é ausência que se demora, uma
despedida pronta a cumprir-se”. Talvez quem fotografa não saiba, pensa
estar fotografando uma árvore, um rio ou uma paisagem qualquer, pode estar
fotografando um casal apaixonado ou uma igrejinha no alto do morro. Não sabe
que está fotografando a sua própria alma. Não fotografamos o que vemos, mas, o
que somos. Toda fotografia é autorretrato, pedaço do corpo do fotógrafo: “é assim que eu sou”, a foto está
dizendo. Ver fotografias é antropofagia, é eucaristia, é escutar o que diz a
alma. Os olhos fotografam o tempo que não quer partir, esses olhos que sofrem a
despedida. Olhos sobre os quais falou o poeta alemão Rainer Maria Rilke
(1875-1926): “Quem assim nos fascinou
para que tivéssemos um olhar de despedida em tudo o que fazemos?”
Fotografias de um mundo que se despede. Fotografias para quem sabe adiar a
partida. Fotografias são como feitiçaria, usamos para enganar o tempo, para
imobilizar o tempo, para impedir que ele passe, para que o momento se torne
eternidade.
Entretanto,
é impossível não fazer pose sabendo-se objeto de uma câmara fotográfica. Sorri
inocentemente. Pensa que está sendo fotografado. Não sabe que ele é apenas um
foco em torno do qual gira o mundo invisível, um universo que se despede. O
fotógrafo fotografa a despedida. Em cada foto vejo a despedida. Há aqueles que
veem o casal sorrindo e feliz, assim como também vê o mundo invisível que gira
em torno deles. Olho e sei, porque já vi, quem sabe entende. Mas aqueles que
nunca viram, vê sem entender. Para ver o invisível é preciso ser poeta. Mas nem
todos o são. Poetas são fotógrafos do invisível. Fotografam o tempo que passa,
para que não passe. Poemas são encantações para agarrar o eterno que mora no
tempo que passa.
Na
fotografia o que se vê não se pode comparar aquilo que não se vê. O poeta
invoca fantasmas. Esse espaço de leitura está cheio de fantasmas, existe até um
guardador de rebanhos. O cheiro do mato, o barulho do vento soprando a mata, o
cantar de um galo no quintal, a musicalidade do canto dos passarinhos entre as
árvores. O poeta fala no silêncio do visível. Põe palavras nos seus
interstícios. Faz o silêncio cantar: para salvar do silêncio aqueles que nunca
haviam visto, e para criar comunhão entre aqueles que viram. As palavras do
poeta fazem os que viram e os que não viram cantar juntos, porque toda poesia
produz música. O poeta disse: “As flores
são sonhos do chão”. Quem diria que na terra infértil vivem pétalas
coloridas? Tanto Botucatu como em Marília, o chão sonha. Como diz a música “O Sol” (banda Jota Quest): “E se quiser saber pra onde eu vou. Pra onde
tenha sol. É pra lá que eu vou”.
Portanto,
poeta é aquela pessoa que ouve o que as coisas dizem. Sua fala é a voz das
coisas. E as coisas se transformam em poesia. Entram em mim, fazem amor comigo,
entram em minha carne, e um novo evangelho se anuncia: e a fotografia se faz
carne. Agora elas não mais estão coladas às paginas do acervo. Estão vivas,
moram dentro de mim. E a prova de que se fizeram carne é que sinto saudade. Ah!
Como eu gostaria de voltar pra lá, para esse lugar onde as coisas são sempre
assim, banhadas por uma luz, antigas e ao mesmo tempo acabada de nascer. Sinto
que sou de lá. Estou encantado. Adivinho que sou de um outro mundo. E a vida
anterior que retoma. O homem que sorri como tudo, vai passar. O sorriso na foto
não é mais real. Verdadeiros só as árvores de ipês que continuam florescendo.
Contudo, só ficaram as fotografias como lembranças de um passado que não passou.
Ler nas fotografias o que diz a alma é escutar o coração e ficar feliz por
estar lá. Gente nasceu para brilhar. A luz vem de fora, mais o brilho vem de dentro.
Esse espaço de leitura está cheio de fantasmas, existe até um guardador de rebanhos.( mas se é fantasma, porque não o tira de lá).....Ao longo desses quatro anos e meio, postei aqui trezentos textos e tenho um acervo fotográfico com mais de novecentas fotos e trinta horas de vídeos gravados ao lado de pessoas queridas e especiais.( Parabéns, olha que postar 300 textos não é fácil,e diga se de passagem, um mais lindo que o outro, que inspiração em...adoraria ver quem são estas pessoas especiais para você, mas se não se desligar do passado, nunca dará valor, pro seu presente e assim, só perderá a sua chance de ser feliz, e encontrar ou ver quem te ama de verdade...cuidado as vezes perdemos pessoas por não darmos valor devido a elas, e a vida passa, e seus prazeres mudam e os gostos também...amanha não sentirá o mesmo gosto que possa sentir hoje...sucesso...
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