Quem
melhor representa a cara do mundo são as crianças. Porque nelas encontramos a alegria
de viver. A esperança é renovada a cada momento como uma linda flor que acabou
de desabrochar. Nelas não existem maldades, só vontade de brincar. A maldade
está no coração insano dos adultos que se esqueceu do que é ser criança. O
rosto do mundo interroga o meu ser. Como diz o filósofo e educador Régis de Morais,
em seu poema: “Todas as divindades das
águas, das florestas, das montanhas, estremecem-me a vida, seja no erotismo dos
bailados do alvorecer ou nas cores das preces do acaso”.
O
espetáculo de maravilhas que penetra a alma de uma criança tem a musicalidade
do silêncio das coisas espirituais. Minha alma é como de uma criança, que
abriga a sensualidade das coisas, filtrando os sonhos que desenham nas paredes
alvas do mundo. Imagine se as histórias para crianças passassem a ser de
leitura obrigatória para os adultos? Seriam eles capazes de aprender realmente
o que há tanto tempo, tentam ensinar para as crianças? Desespera-me não poder
mostrar os brilhos e cores da emoção de uma criança quando a gente conta uma
historinha a ela. Essa experiência eu vivi.
Através
da fantasia e do olhar que as crianças tomam contato com a beleza e o fascínio
do mundo. Os olhos têm de ser educados para que nossa alegria aumente. Sem a
educação da sensibilidade, todas as habilidades são tolas e sem sentido. Os conhecimentos
nos dão meios para ler e interpretar o mundo. A sabedoria nos da razão para
viver dignamente. Para compreender as varias faces do mundo, precisamos
aprender com as crianças, elas ainda têm olhos encantados. Seus olhos são
dotados daquela qualidade que, para os gregos era o início do pensamento: a
capacidade de se assombrar diante do banal.
Entretanto,
para as crianças tudo é espantoso: um ovo, uma minhoca, uma concha de caramujo,
o voo dos urubus, os pulos dos gafanhotos, um peixinho pulando no rio, uma casa
de João de barro. Coisas que os eruditos não veem. Nunca vi um professor chamar
a atenção da criança para observar a beleza das árvores e dos pássaros voando.
A palavra “encanto” está no olhar da
criança. Como diz o Evangelho (Lucas 6: 45): “Vossa boca fala do que está cheio o vosso coração”. Pois ao
aplicarmos esta sabedoria para avaliar o mundo, deparamo-nos com problemas e
dilemas nada fáceis.
A
vida é uma jornada através de vales e montanhas. Não seria nenhum exagero,
afirmar que a vida é uma intensa luta contra o sofrimento. Então, o que da ao
ser humano a verdadeira magnitude e dignidade? Não é a fama, nem poder e muito
menos fortuna. Acredito que o valor de uma pessoa é determinado pelo fato dela
viver ou não em completa satisfação como ser humano. Isto representa uma
mudança completa na concepção convencional de nascimento, envelhecimento,
doença e morte. Espero que cada um de nós, que persistimos corajosamente na fé
pela vida inteira, possa continuar a viver sem nenhum arrependimento.
Portanto,
o mundo é feito de muitas caras e a vida põe delicadezas e elegâncias nesta
cara, põe suspiros de felicidade no rosto da criança. As flores são suaves pensamentos
da divindade, que seguem pintando nos campos o passeio do espírito que ilumina
e sopra onde quer. Põem na manhã o perfume e a beleza que antes dormiram no
ventre da terra. Todas essas almas coloridas do campo, nenhum rei atinge sua
emocionada elegância. Elegância do nada, como as miudezas que envolvem o mundo.
Todos os dias o mundo recomeça do nada. Eternizar esse nada é tudo que nos
resta.
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