Defendo
a tese de que a ausência de cultura básica afasta o aluno da leitura e sem
esta, as crianças e jovens serão incapazes de escrever até a sua própria
história. É com preocupação que venho percebendo o distanciamento dos alunos
diante desse universo estimulante que é a leitura. Quero acreditar na
conciliação dos dois. O encontro entre o aluno e a leitura deve ser promovido
pelas mãos precisa e eficaz do professor que tem o papel fundamental nessa
aproximação. Nesse desafio, o professor conta com uma segura parceria entre
leitura e a escrita, estabelecendo um vínculo capaz de desatar o nó que impede
a aprendizagem da língua.
Há
uma procura dos estudantes pelos cursos de redação, talvez pelo peso que a
redação demanda nos concurso e nas provas dos vestibulares. Fica claro que essa
parceria leitura e escrita não está sendo explorada no sistema tradicional de
ensino da língua nas nossas escolas, daí a corrida em busca do tempo perdido. Como
diz a educadora e escritora Iara Vieira: “roteiro
nenhum de redação será eficaz se não tiver respeito pelo livro, se não se
cultivar a intimidade com a leitura”. Afinal, ler e escrever são gestos que
se completam, permitindo uma articulação crítica com o mundo.
Mas
ler exatamente o que? De preferência livros que façam crescer, que ampliem a
visão de mundo, que façam pensar ou até divertir. Muitas vezes o estudante não
sabe o que fazer com um romance ou com um poema que acabou de ler. Fica
esmiuçando quem é quem e deixa passar o essencial: o aproveitamento do tema.
Lembro-me de um livro lido na minha juventude que praticamente transformou
minha vida: “Crime e Castigo”, de Fiódor Dostoiévsky (1821-1881). Um pedaço da minha inocência foi embora em contato com o mundo
sombrio que o escritor descrevia. O que antes me parecia uma perda, era na
verdade uma revelação das sombras do mundo que iria encontrar lá fora.
Além
de preparar para a vida, os temas podem ser aproveitados nas redações escolares
ou nas dissertações para mestrados. Como escrever um texto sobre a miséria, por
exemplo, sem dialogar com “Vidas Secas”,
de Graciliano Ramos, ou sem conhecer “Morte e Vida Severina”, de João Cabral de
Melo Neto? O aluno, no entanto, tem dificuldade de fazer a conexão. Criou-se no
ambiente escolar uma divisão perniciosa que só faz prejudicar o ensino: a
redação fica aqui, a gramática ali e a literatura acolá. O resultado, todos
sabemos: textos mal costurados, sem nenhum sentido.
Por
outro lado, a leitura não deve se restringir a livros. Jornais e revistas estão
aí a serem vasculhados. O estudante não ficar impassível diante do seu
conteúdo, tem que se posicionar. Pode ser que a versão de um fato não seja
convincente. É nessa hora que ele se pronunciará, contestando a notícia. Tudo
se lê: filmes, quadros, charges. Amplio aqui o conceito de leitura, percorrendo
outros sítios, longe ou perto da linguagem verbal. Diante de um tema como a
guerra, por exemplo, o aluno poderá extrair de “Guernica”, que é um painel
pintado por Pablo Picasso em 1937 por ocasião da exposição internacional de
Paris, é uma boa argumentação para sua escrita. O mesmo acontece com outras
artes. Agindo assim, ele terá mais segurança na hora de escrever.
Portanto,
ampliando o repertório, o estudante terá capacidade de interferir na realidade
e exercer plenamente a crítica, cuja ausência nos faz tanto mal. De modo que,
reconciliados com a leitura, os nossos alunos terão acesso aos instrumentos
necessários para o resgate crítico da sua história.
O aluno, no entanto, tem dificuldade de fazer a conexão. Criou-se no ambiente escolar uma divisão perniciosa que só faz prejudicar o ensino: a redação fica aqui, a gramática ali e a literatura acolá. O resultado, todos sabemos: textos mal costurados, sem nenhum sentido.
ResponderExcluirLindo sua alma e sua preocupação com o aluno..te admiro demais.