É do
conhecimento de todos, que vivemos num mundo onde existem o bem e o mal. Para o
filósofo francês, Jean Jacques Rousseau, o ser humano é bom por natureza, ele
se corrompe ao viver em sociedade. Diz Rousseau: “como seria doce viver entre nós se a contenção exterior representasse
sempre a imagem das disposições do coração”. Afinal, o que anda acontecendo
de errado com as relações humanas, que na maioria das vezes chegam a ser
desumanas?
Diariamente
convivemos com pessoas, muitas delas até bem humoradas e cordiais. Mas num dado
momento nos defrontamos com alguém que de repente, temos a mais profunda
certeza de que precisamos inteiramente dessa pessoa, para estar sempre em nossa
companhia. Sem entender muito bem as razões, como se fosse num passo de mágica,
descobrimos que estamos encantados por essa pessoa. Por que essas coisas
acontecem dessa forma? Subitamente temos a certeza de que nossa vida só terá
sentindo vivendo esse sentimento nobre e, o mais curioso de tudo isso é, que
não sabemos o porquê.
Martin
Buber, filósofo judeu, preocupou-se profundamente com o tema das relações
humanas e ele sugeria que os educadores ensinassem os jovens a conviver com o
próximo. A base de seu pensamento é o diálogo, como única saída para
convivermos bem em sociedade e, particularmente, nas relações interpessoais.
Dessas que de repente nos pegam pelo coração e nos arrebatam de maneira
inexplicável.
No
entanto, vivemos num mundo dividido e marcado pela intolerância e pela
violência. O ser humano está perdido na massa, abandonado na sua solidão e, ao
mesmo tempo, tomado pela esperança. Sonhando em realizar aquilo que só ele é
capaz, que é viver uma sólida relação amorosa. É o sonho de todos nós. E por
que é tão difícil cultivar relações assim? Será que falta dignidade para o ser
humano?
Martim
Buber montou duas expressões compostas para explicar o sentido dessas relações
humanas. O Eu-Isso e o Eu-Tu, tendo em vista que o Eu-Isso é para designar toda
relação de uma pessoa com o seu mundo exterior, o objeto, as coisas, o
descartável. E o Eu-Tu para dar nome às relações de uma pessoa com outra pessoa,
isto é, com alguém que fosse realmente percebido como pessoa. Essas duas
expressões compostas são muito importantes, pois é em torno delas que vamos
desenvolver toda uma compreensão acerca das relações humanas, em particular, a
relação amorosa que é a mais difícil de lidar.
Entretanto,
a relação de cada um de nós com o mundo, na maioria das vezes, é praticamente
coisificada, lidamos com os nossos semelhantes como se fossem coisas, um
objeto. Numa relação Eu-Isso. É evidente que no início das relações é
inevitável nos comportarmos assim. É perfeitamente compreensível que qualquer relação
nova comece na base do Eu-Isso, porque o outro começa sendo para mim uma
interrogação, como que uma coisa que quero conhecer, mas que ainda não conheço.
Só depois de alguma aproximação, essa pessoa vai-se tornando para mim, de fato,
uma pessoa.
Então,
a partir de agora, será possível e necessário atingir a relação Eu-Tu, sem a
qual o mundo humano não se realiza. Existem pessoas, que por uma infeliz
história de vida ou por viverem num mundo brutalizado e insensível, não
conseguem, nem com maior aproximação ultrapassar a relação Eu-Isso. Buber diz:
“nenhum ser humano pode viver sem o Isso,
mas aquele que vive só com o Isso, não pode se dizer humano”.
Portanto, é fundamental que tenhamos abertura para sentimos e acolhermos o nosso semelhante como alguém que, como nós, tem alegria e sofrimentos, direitos e deveres; alguém que mereça aquela mesma dedicação e aquele mesmo carinho que desejamos para nós. É importante lembrar que "Isso" é uma pequena palavra que podemos dizer com uma parte apenas do nosso "Ser". Mas "Tu" é uma palavra ainda menos que, no entanto, só podemos pronunciar com o nosso Ser inteiro no momento do encontro amoroso. Onde nos completamos no Eu-Tu. Nesse momento somos fortes e frágeis porque o amor vive da fragilidade, vive da ternura, da capacidade brâhmica de você sair ao encontro do outro na expectativa que ele te receba. Contudo, essa é uma experiência única. É dar um pouco da tua vida ao outro, portanto, há de se encontrar o verdadeiro resgate da dignidade humana através da relação Eu-Tu.
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