A
vida de Bertrand Russell (1872-1970), filósofo, matemático e lógico inglês,
abrange um período enorme, quase um século, estendendo-se da Inglaterra
Vitoriana à era Espacial. Ele era uma espécie de relíquia vitoriana. Morreu de
gripe três meses antes de completar 98 anos, produzindo conhecimento. Defensor
de ideais pacifistas, humanitário e da liberdade de pensamento, autor do livro:
“O Casamento e a Moral”, argumentava
ele que o fator primordial da moral sexual na civilização ocidental, desde os
primórdios do cristianismo, consistiu na garantia da virtude feminina,
indispensável à família patriarcal.
Entretanto,
Bertrand Russell é considerado um pensador excepcional, particularmente pelas
contribuições que deu à filosofia da matemática. Tem uma vasta obra de cerca de
40 volumes. A sua atividade como filósofo, como homem da ciência e como
político fazem dele uma das figuras mais prestigiadas, admiráveis e discutidas
de todos os tempos. Contudo, encerro essa reflexão com um delicioso texto de
Bertrand Russell. Que é uma verdadeira obra de arte em prosa. Ofereço a todos
que cultivam pelo menos uma dessas três paixões:
“Três paixões, simples, mas irresistivelmente
fortes, tem governado a minha vida: o desejo imenso de amar, a busca do
conhecimento e uma insuportável compaixão pelo sofrimento da humanidade.
Essas paixões, como os fortes ventos,
levaram-me de um lado para outro, em caminhos caprichosos, para além de um
profundo oceano de angústias, chegando a beira do verdadeiro desespero.
Primeiro busquei o amor, porque ele traz
o êxtases tão grande que sacrificaria todo o resto da minha vida em troca de
umas poucas horas desse prazer. Procurei-o também, porque ele abranda a
solidão, aquela terrível solidão na qual uma consciência em pedaço se paralisa
nas margens do mundo, o insondável e frio abismo sem vida.
Procurei-o finalmente, porque na união
do amor vislumbrei, em mistica miniatura, a suposta visão do paraíso que santos
e poetas imaginaram. Isso foi o que procurei e, embora pudesse parecer
demasiado bom para a vida humana, foi o que finalmente encontrei.
Com a mesma intensidade busquei o
conhecimento. Desejei entender o coração dos homens. Desejei saber por que as
estrelas brilham. E tentei apreender a força pitagórica pela qual o número se
mantem acima do fluxo.
Um pouco disso, não muito, conquistei.
Amor e conhecimento, até onde foram possíveis, conduziram-me aos caminhos do
paraíso. Mas, a compaixão sempre me trouxe de volta à Terra. Ecos de gritos e
de dor refletiram em meu coração. Crianças famintas, vítimas torturadas por
opressores, velhos desassistidos como um odioso fardo para seus filhos, e o
mundo inteiro de solidão, miséria e sofrimento, transformam em arremedo o que a
vida humana deveria ser.
Portanto, anseio ardentemente aliviar o
mal, mas não posso, e também sofro. Esta tem sido a minha vida. Achei-a digna
de ser vivida, e prazerosamente a viveria outra vez se uma nova oportunidade me
fosse oferecida”.
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