Descrevo
aqui qual o meu conceito sobre o amor e como o vejo nas relações com as pessoas
e com a natureza. No entanto, quem ama colore o vento, perfuma o sol, tempera
as horas. O amor forja afeto, previne cinismo, fortalece benignidade. Amantes
não se contentam com o "cogito" definindo a nossa humanidade.
Quem
ama, espera e suporta a tortura das ausências. Saudade é nome para o buraco que
o tempo cavou na alma e não encontrou quem o preenchesse. Amantes são ingênuos.
Deixam-se enredar e mal sabem que os cordéis do amor não se esgarçam
facilmente. Nos atos falhos da alegria, os afetuosos nivelam o fosso em que se
meteram devido a dor do abandono. O amor não se protege e nem protege.
Quem
ama obedece sem ser ordenado, cumpre sem ser requisitado, aceita sem ser
forçado. Quando disputam com o objeto do seu cuidado, não se importam em chegar
por último – embora sejam sempre vencedores. Eles abrem mão de prerrogativas
reais que os autorizariam usar força. Amar é ceder lugar, dividir e
compartilhar, lavar os pés em gesto de humildade.
Quem
ama perde o medo. Os afetuosos desdenham o que ameaça seus sentimentos: tempo,
abismo, acaso e a morte. Para quem ama, o ócio nunca parece pecado. Os afáveis
consideram ganho, uma tarde na beira da praia para ver o pôr do sol, uma semana
entre os pobres ou conversando com os dependentes químicos e as prostitutas.
Joga teu preconceito no lixo antes que ele te jogue.
Quem
ama transgride. Os amigos são paradoxais. Pelo objeto do amor, desdizem o que
um dia afirmaram categoricamente. Rasgam a lei para evitar um apedrejamento.
Quem ama perde o receio de passar por tolo. Não têm vergonha de abraçar a
prostituta indigna. Quem ama sofre. Amor e paixão partilham de uma mesma raiz.
De
modo que não existem amantes tranquilos. O amor abre frestas em armaduras. No
verbo amar, descansa a recusa de manipular. Os amorosos sonham com retornos
pródigos. Nunca traem. Riscam a infidelidade de suas lógicas. Quem se
atreve a amar se expõe a rejeições.
Quem
ama conversa com as estrelas. Para os que se entregam, as paredes ouvem. Só
eles gostam de monologar diante de espelhos. Insistem em escrever cartas de
amor ridículas – que jamais poderiam ser publicadas. Eles enxergam beleza em
véus encardidos, folhas secas, águas paradas, prados amarelecidos, dias
chuvosos, pardais cinzentos, grãos de mostarda.
Portanto,
como diz o teólogo Ricardo Gondim (1954): “quem
ama nota Deus no rosto do pobre”, vou um pouco além: “também do meu próximo, tendo em vista que tudo que vive, torna-se o meu
próximo”. O amor torna qualquer ambiente agradável e prazeroso. O anjo da
guarda, que rodeia os amantes, não voa e nem ostenta força. Sua missão consiste
em zelar pelos corações compassivos e amorosos. O amor é dom que precisa de
proteção e cuidados.
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