Um
sábio me disse: “Esta nossa existência
não vale a angústia de viver. Se fossemos eternos, a ciência, num transporte de
desespero, inventaria a morte. Uma célula orgânica aparece no infinito do tempo
e vibra, cresce e se desdobra e estala num segundo. Homem, eis o que somos
neste mundo”! Falou-me assim o sábio e eu comecei a ver, dentro da própria
morte o encanto de morrer.
Um
monge me disse: “Ó mocidade, és
relâmpago, ao pé da eternidade! Pensa, o tempo anda sempre, o rio anda e não
repousa. Esta vida da gente não vale grande coisa. Uma mulher que chora o
homem, que implora o seu amor. Momento em que ambos sofrem da mesma dor. O riso
às vezes, quase sempre o pranto. Depois, o mundo, a luta que intimida quatro
círios acesos, irmão eis a vida”! Isto me disse o monge e eu continuei a
ver, dentro da própria morte, o encanto de morrer.
Um
mendigo me disse: “Para o mendigo, a vida
é o pão e o andrajo é a proteção que o cobre nas noites mal dormidas. Não creio
muito nessa fantasia de que somos a imagem e semelhança de Deus. Até porque,
Deus me dá fome e sede a cada dia, mas nunca me deu pão e nem me deu água.
Nunca! Deu-me a vergonha, o medo, a mágoa de andar, de porta em porta, todo
esfarrapado. Deu-me esta vida, somente a calçada para descansar e um pão seco
para matar a minha fome”! Foi o que me disse o mendigo e eu continuei a
ver, dentro da própria morte, o encanto do morrer.
Uma
mulher me disse: “Vem comigo! Fecha teus
olhos e sonha, pois, será o meu único e grande amor. Sonha com um lar, uma doce
companheira, que a queira muito e que ela também te queira. Um telhado, um
penacho de fumaça e uma rede para juntos balançar. Uma cortina na janela e
passarinhos cantando em volta da casa. Que maravilha viver e com você aprender.
Pois, dentro da nossa casinha a vida acontece de verdade, como ela é de fato”!
Pela primeira vez comecei a olhar de dentro da própria vida, o encanto de
viver. Viver significa aprender com os erros, nascer todos os dias, para dar um
sentido novo à vida.
Passamos muito rápido pela vida. Aprendi que a vida tem que ser vivida em função de alguma coisa e não contra alguma coisa. Tudo que se constrói com amor e respeito não se perde nunca. Escolha a vida por respeito à vida. Se não for por respeito, escolha bolsas, sapatos, roupas de grife e seda caxemira para achar que é feliz. Escolha Facebook, Twitter, Instagram e milhares de outras formas de cuspir o seu ódio em pessoas que você nunca viu na vida. Escolha atualizar o seu perfil e diga para o mundo que está tomando café e espere que em algum lugar alguém se importe. Escolha procurar antigas paqueras, para acreditar que não está tão velho quanto eles. Escolha perder aquele que você ama, enquanto ele some de vista, uma parte de você morre com ele, até ver um dia que pedaço por pedaço terão sumido e não restará nada de você para chamar de vivo ou morto. Lembre-se o que disse o mestre e ativista hindu Mahatma Gandhi (1869 – 1948): “não existe um caminho para a felicidade, a felicidade é o caminho”. Escolha a vida e respeite o teu próximo, porque ele carrega o sopro da vida. O ar que respiramos é o espírito da vida.
(extraido do livro: “Para Ler e Pensar com Sabedoria”, pag.81)
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