Ao
tomarmos conhecimento de nós como seres capazes de consciência crítica,
liberdade e justiça, compreendemos as diferenças com o restante da natureza.
Com o despertar dessa consciência, experimentamos a dor da solidão que vai nos
acompanhar pelo resto da vida. Seguramente em algum momento ela irá se
manifestar. Ser único, ter que tomar decisões e responder pela vida, são fatos
que provocam um sentimento doloroso de abandono e desamparo, que só será superado
na relação interpessoal. Para o filósofo alemão Arthur Schopenhauer
(1788-1860), o amor é parte de um prazer negativo, porque ele funciona como um
remédio para sensações desagradáveis de desamparo. Ou seja, é um prazer que
deriva com o fim da dor do desamparo. Por isso o amor é uma relação
interpessoal, preciso do outro para senti-lo. Ele é paz e prazer negativo. Ao
contrário do sexo que não preciso do outro para senti-lo, por isso ele é
pessoal, excitação e prazer positivo. Porque não depende da existência de um
desconforto ou sensação ruim para que eu sinta prazer.
Segundo
o psicanalista, filósofo e sociólogo alemão Erich Fromm (1900-1980), argumenta
em seu livro: “Psicanálise da Sociedade
Contemporânea”, sobre esse estado cruel de abandono e desamparo que os
seres humanos vivem. O homem é dotado de razão, é a vida consciente de si
mesmo, tem consciência de seu semelhante, sobretudo, do seu passado e das
possibilidades de seu futuro. Fromm compreendia que essa consciência de si
mesmo como entidade separada, essa consciência do seu próprio e curto período
de vida, do fato de haver nascido sem ser por vontade própria e de ter que
morrer contra sua vontade, de morrer antes daqueles que ama, ou estes antes
dele, a consciência de sua solidão e separação, de sua impotência antes as
forças da natureza e da sociedade, tudo isso faz de sua existência apartada e
desunida uma prisão insuportável. O homem ficaria louco se não pudesse
libertar-se de tal prisão e alcançar os outros humanos, unir-se de uma forma ou
de outra com eles, com o mundo exterior, como complemento e extensão da sua
existência.
Portanto,
dessa necessidade de união nasce o amor. De modo que, o amor é o meio procurado
e desenvolvido pelo ser humano para escapar da loucura e do isolamento. O amor
é fundamental para o ser humano e principalmente para a saúde da sociedade
diluída de sentimentos. Sem amor o ser humano torna-se árido, incapaz de
encantar-se com a vida e de envolver-se com o outro. Não se sensibiliza com o
abandono dos velhos, com a morte das crianças vitima da crueldade dos adultos,
a miséria de um povo, com a poluição dos rios e a destruição do planeta, o
roubo da cidadania e a morte dos nossos ideais. Contudo, sem amor não há
encontro, não há respeito pelas diferenças de raça, etnias, cor e religião. A
única saída que nos resta é a escuridão do individualismo, com pessoas cada vez
mais incapazes de relações duradouras e profundas. Como dizia o grande escritor
brasileiro Guimarães Rosa (1908-1967): “Só
se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a
gente tem amor. Qualquer amor já é um
pouquinho de saúde, um descanso na loucura”.
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