Dizia
o mestre Buda aos seus seguidores (Sidarta Gautama – 563-483 a.C.), que o
caminho mais direto para encontrar a paz interior ou a iluminação, é estar
presente a própria respiração. O conselho é tão simples que é difícil de levar
a sério. A respiração é o nosso automatismo mais antigo. A primeira coisa que a
gente fez quando nasceu foi respirar. A respiração é a única função vegetativa
que está sujeita ao controle da vontade. No tórax o processo vital ocorre de
forma eminente. No reino dos símbolos, o sangue é a vida e o ar é o espírito.
No peito, o espírito e a vida se confundem são os dois em movimentos e
harmonia. Desde Platão costuma se dizer que o peito é o lugar das emoções e do
mistério. A angústia é a oposição entre o espírito e a vida. Spiritus, do latim
= que sopra. Alma, do hebraico = sopro, hálito.
O
leitor deve estar se perguntando, o que a respiração tem a ver com angústia.
Pois, tem tudo a ver e vamos entender qual a relação estreita que existe entre
um e outro. Somos o tempo todo vigiados por uma multidão, com o advento da
internet então, aí que a nossa vida escancarou-se, ficamos mais vulneráveis, a
todo tipo de sorte. Qualquer lugar que você vá, sempre vai ter alguém de olho.
Sempre vai ter alguém interessado no que o outro está fazendo. O quadro: “O Mês da Vindima” (1959), do pintor
surrealista belga René Magritte (1898-1967), esse quadro retrata uma multidão
de homens anônimos com chapéu coco, obstruindo hermeticamente a vista para fora
da janela, dando uma impressão assustadora, como se todos estivessem te
vigiando.
O
todo poderoso é aquela pessoa que quer dominar tudo e controlar a todos, essa
pessoa vive como se carregasse uma jaula duríssima de ferro no peito. O
poderoso vive como se não pudesse ter sentimentos e ao mesmo tempo ele não pode
ter prazer, porque teria que depender do outro. Imagina o tamanho da humilhação
para o poderoso. Até parece que quem tem poder não pode ter prazer. Para o
psiquiatra José Ângelo Gaiarsa (1920-2010), em família a gente nega demais os maus
sentimentos, é como se ninguém se odiasse em família e muito menos se
desrespeitassem. No entanto, é o que a gente mais vê acontecer entre os membros
de uma família.
A
negação de maus sentimentos gera uma completa falta de comunicação entre as
pessoas é como se cada um estivesse fechado em si mesmo. A família que não se
comunica é como se estivesse encaixotada, num caixão de defunto, sem vida
praticamente. Quando se desperta um desejo em nós, imediatamente se instala um
violento conflito entre o mundo de dentro e o de fora. Um desejo não realizado
uma vez ou em mil vezes que aparece, vai desenvolvendo e formando aquilo que os
antigos chamavam de “coração empedernido”,
ou seja, coração empedrado. O que na verdade, representa a opressão torácica de todos nós. A opressão é o que sentimos no lugar de todos os desejos reprimidos e negados. Em vez de gerar alegria, contato e realização, gera
tristeza, angústia e depressão. E a consequência final é o pavor do século XXI
que é o infarto do miocárdio. Depois de matar todos os sentimentos o coração
não sente que tem mais função, ele morre também.
Portanto,
qualquer agitação interior, seja raiva, medo, susto ou stress, perturba a
respiração. O nosso corpo começa a se preparar para responder a essas ameaças e
perigos externos. Estamos continuamente agitados, mesmo sem dar muito conta
disso e a respiração fica agitada também. De forma que, se consigo harmonizar a
respiração, tudo isso se atenua por uma razão muito simples. A respiração é
urgentemente necessária o tempo inteiro. Se ela ficar parada ou atrapalhada, piora
a agitação do coração e aumenta a perturbação mental. Contudo, não importa a
forma como respiro, o importante é estar presente a respiração, saber que estou
respirando. Aqui vai um conselho para os professores que trabalham com crianças
principalmente. Ao percebê-los muito agitados na aula, põe todos para respirar.
Durante dois minutos apenas, já é notável a calma que toma conta do ambiente.
Começou a agitar respira, certamente começaremos a espalhar uma onda de mais
paz no mundo.
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