Dizem os sábios orientais que a única maneira de não ficar louco é
mergulhar de uma vez na loucura. Fugir dos fantasmas não é o melhor remédio.
Espantá-los também não ajuda, pode até ser pior. De modo que a fantasia é a
porta de entrada, para esse universo simbólico. No entanto, o que nos difere de
um animal irracional é a nossa capacidade de fantasiar. Então, por que nos
reprimimos? O menino começa a ter curiosidade e a imaginar como é a menina e
vai formando uma imagem na sua cabeça, vai idealizando um modelo de mulher. A
partir daí formará um ideal de amor que vai surgir na idade adulta, todo o
processo do apaixonar-se um pelo outro e ambos passam a enamorar através da
fantasia, que cada um faz da outra pessoa. É aqui que começa o primeiro
movimento do adolescente cercado de conflitos. Surge o interesse pelo outro,
mas ao mesmo tempo é de negação do próprio desejo, quanto ao fato da outra
pessoa ser interessante. Isto ocorre em função da primeira marca que fica da dor
de amor.
Entretanto, quanto maior a expectativa, maior a frustração, assim
como os cuidados que devemos ter para não exagerar nas cobranças. Tendo como
parâmetro o sentimento inicial das trocas prazenteiras que estão surgindo. De
modo que o momento pode ser assustador, desdenhar faz parte do processo normal
do encantamento principalmente na adolescência. É não assumir o outro como
objeto do nosso desejo, com medo de nos frustrarmos e sofrermos de novo.
Evitamos esse desejo, até percebermos que temos alguma chance. Todavia, neste
ponto inicia-se o processo de conquista e descoberta do amor.
No processo de conquista muitas coisas vão acontecendo. Há um
interesse intelectual um pelo outro, o jeito da pessoa, o tom da voz, o
sorriso, o encantamento vai se desenrolando bem devagar. O chamado amor à
primeira vista, que pode acabar no instante seguinte dependendo da expectativa
criada por ambos. Os dois são responsáveis diretos para a continuação ou não
desse vínculo. No momento da conquista, o desejo é transferir aquilo que sente
pelo outro para dentro de um vínculo. O primeiro grande erro estratégico é
querer transformar logo o que sente em namoro, antes de entender o significado
dessa relação. O namoro é uma instituição onde existe um contrato tácito, ou
seja, um compromisso moral. Como todo compromisso vira obrigação, ao mesmo
tempo você está matando a fantasia e o desejo que sentem um pelo outro. É nesse
momento que começam as cobranças. Vida de obrigação ninguém aguenta.
Entretanto, o namoro neste contexto só serve para matar a
fantasia, o carinho, o desejo e a magia que existe entre os amantes. A relação
fica um vazio, um buraco. Por essa razão que a grande maioria das pessoas vive
insatisfeita na sua subjetividade. Brigam o tempo todo para conquistar um ao
outro e, quando conseguem aquilo que queriam, agora não querem mais, talvez
quisessem outra coisa que o outro não pode oferecer. O processo de desejar é um
contínuo sim para muitas pessoas. Quando consegue, não sabe o que fazer, então
descarta toda a possibilidade desse amor vingar. Certamente vai sair à procura
para preencher esse vazio, é o momento do “ficar”. Na verdade, é um momento
de muita ansiedade, o ficar é uma relação rápida de percepção curta em que, via
de regra, existe uma paixão fugaz, pouco duradoura. Muitas pessoas só entram
nessa por medo de ficarem sozinhas.
O que assusta no amor é que há uma identificação, aquele amor
paixão, o amor dos iguais, no qual um olha para o outro e vê algo igualzinho a
si próprio. Pensam exatamente as mesmas coisas. Antes de um proferir alguma
frase o outro já fala a frase. Existe uma sincronicidade nessa relação, usando
uma linguagem junguiana. As chamadas coincidências. Gostam das mesmas coisas.
São capazes de ficarem horas conversando e não conseguem esgotar o assunto. A
complementação desse amor são as diferenças, mas juntos formam um casal
perfeito. Muitos amantes não conseguem se separar porque não sentem capazes de
enfrentar o mundo sem aquilo que o outro tem e me completa. Significa amar no
outro tudo aquilo que falta em mim, então eu fantasio e desejo o que me falta.
Portanto, quando perdemos alguém que amamos, achamos que nunca
mais vamos conseguir nos apaixonar. Junto morre a fantasia e o desejo. Na
verdade, o que outro fez por nós, foi nos mostrar que temos condições de amar e
de nos apaixonar. Ninguém leva embora a nossa capacidade de amar. Amar é um dom
da essência humana. O que fazemos é aguardar que um dia as fantasias e os
desejos ressuscitem novamente com a chegada de outra pessoa que venha e consiga
despertar esse sentimento nobre outra vez. Tendo em vista que a lembrança
permanece, pois cada um é único na sua essência. Jamais o esqueceremos.
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