Se
me perguntar hoje por que amo a literatura? A resposta que me vem
espontaneamente à cabeça: “porque ela me
ajuda a viver”. Não é mais o caso de pedir a ela, como ocorria na
adolescência, que me preservasse das feridas que eu poderia sofrer nos
encontros com as pessoas reais, em lugar de excluir as experiências vividas,
ela me faz descobrir mundos que se colocam em continuidade com essas
experiências e me permite melhor compreendê-las. Não creio ser o único a vê-la
assim. Mais densa e mais eloquente que a vida cotidiana, mas não radicalmente
diferente. A literatura amplia o nosso universo, incita-nos a imaginar outras
maneiras de concebê-lo e organizá-lo. Somos todos feitos do que os outros seres
humanos nos dão: “primeiro nossos pais,
depois aqueles que nos cercam; a literatura abre ao infinito essa possibilidade
de interação com os outros e, por isso, nos enriquece infinitamente”.
Para
o sujeito poético, literatura é como um ato de liberdade, pois é como, sair
pelo mundo em busca de aventura, de experiências. No entanto, suas expectativas
são contrariadas em muito, entre novas perspectivas que abrem seu horizonte de
conhecimento. E isto lhe ajuda a viver na plenitude e harmonia com seus dois mundos.
O mundo de dentro e o de fora. Nosso desejo de manter contato com a literatura
e por meio dela poder sonhar com mundos possíveis e até mesmo mundos
impossíveis, é muito mais do que uma vontade, é uma necessidade que não se
restringe a algumas pessoas, mas é inerente a todo ser humano. É como uma carta
de amor escrita em verso e prosa. Um prazer incomensurável para quem escreve e
para quem recebe.
Por
conseguinte, a literatura aparece claramente como uma manifestação universal de
todos os homens em todos os tempos. Não há povo e não há homem que possa viver
sem ela, isto é, sem a possibilidade de entrar em contato com alguma espécie de
fábula. Assim como todos sonham todas as noites, ninguém é capaz de passar um
dia sem alguma entrega ao universo literário. O sonho assegura durante o sono a
presença indispensável deste universo, independentemente da nossa vontade. Vale
lembrar, que sempre é um erro querer transferir para a literatura a tolerância
que, na sociedade é preciso ter com as pessoas estúpidas e descerebradas que se
encontram por todos os lados. Em geral, a cordialidade proveniente da sociedade
é um elemento estranho na literatura, com frequência um elemento danoso, porque
exige que se chame o ruim de bom, contrariando diretamente tanto os objetivos
da ciência quanto o das artes. A sociedade não respeita o trabalho literário.
Portanto,
diante dessa constatação defendo a ideia que o acesso à literatura não deve ser
um privilegio garantido a apenas alguns, mas um direito de todos. A exemplo dos
demais direitos humanos, a literatura deve ser considerada incompreensível, ou
seja, por isso mesmo essencial ao homem, visto que talvez não haja equilíbrio
social sem a literatura e uma vez que ela confirma o homem na sua humanidade,
inclusive porque atua em grande parte no subconsciente e no inconsciente
humano. Contudo, quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e não
mais lutando por dinheiro e poder, então nossa sociedade poderá enfim evoluir a
um novo nível. Sobretudo, por ser a literatura uma ponte que liga o amor ao
conhecimento.
Totalmente de acordo, Eduardo, a arte é redenção, salvação e construção. Gostei muito do seu blog, super parabéns!
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