Na
maioria das vezes as pessoas em geral, não tem o hábito da reflexão, a não ser
por necessidades comuns do cotidiano. Geralmente, não distinguimos o desejo da
vontade, e isso é um dos grandes problemas. Sem pensar ou refletir, agimos por impulso
e não percebemos que esse impulso – desejante ou reativo – é resultante do que
sentimos e se não refletir o que sentimos, certamente agimos na maioria das
vezes de maneira equivocada pela perturbação emocional. Vontade é agir de
acordo com a reflexão racional e o desejo é agir apenas por impulsos.
Para
dialogar sobre a vontade e o desejo trago o filósofo alemão Immanuel Kant
(1724-1804), fundador da “Filosofia Crítica”, um sistema que procurou
determinar os limites da razão humana. Sua obra é considerada a pedra angular
da filosofia moderna. No seu livro “A Crítica da Razão Pura”, ele nos contempla
com uma profunda análise moral e distintiva de desejo e vontade; e convida-nos
à reflexão sobre as nossas escolhas. Ao estudarmos ética, num contexto
histórico de antropologia sociológica, não é difícil entrever a influência
negativa da sociedade atual que, através de padrões balizados na importância da
personalidade, vêm modelando a conduta humana de maneira cada vez mais egoísta,
reativa e intolerante, influenciando de modo decisivo as nossas escolhas.
De
modo que, desejo é tudo o que emerge do pensamento à ação sem que se possa
controlar; é o impulso instintivo, é a avidez pelo prazer das sensações. Já a
vontade, é a ação regida pela razão, independentemente da corrente dos desejos,
ou seja, é o uso da razão para deliberar escolhas. Muito diferente de desejo,
vontade é o saber materializado em conduta; é tudo o que o pensamento produz
para se sobrepor aos instintos, a fim de viver melhor. Sendo assim, a fronteira
entre a vida boa e a vida ruim, está no descolamento entre a racionalidade e o
impulso desejante, ou seja, entre a vontade e o desejo. De modo que, a vontade
percebe que, apesar do desejo, é possível viver na contramão dos instintos. A
isso chamamos liberdade, que é a soberania da competência deliberativa sobre as
próprias inclinações.
Porém,
sou livre quando, ao flagrar meus desejos, consigo agir racionalmente,
contrariando o que sugerem meus impulsos. A moral não é uma vigilância
castradora, mas, é um olhar sobre si mesmo; é um lugar na mente onde a reflexão
impõe os limites que imperam a conduta. No entando, basta não conhecer as
próprias fraqueza para se tornar escravo dos apetites que possui. O que difere
o ser humano dos outros animais é a sua capacidade de pensar para agir, de modo
que, aquele que se conduz pelos seus instintos e inclinações, aproxima-se da
animalidade; mas, aquele que age pela via da razão, aproxima-se de sua
destinação moral.
No
entanto, ao entender a felicidade como acúmulo de desejos saciados, o ser
humano tende a priorizar a busca pelos prazeres dos sentidos e das vaidades,
sem perceber que quanto mais se sacia um prazer biológico ou vaidoso, mais
estravagantes e intensos estes prazeres terão de ser futuramente, a fim de se
obter o mesmo nível de satisfação sempre. Porém, a fase de vontade surge,
frequentemente, quando os excessos decorrentes da saciação dos apetites resulta
em adoecimento físico ou psicológico. Observando o comportamento humano na
sociedade atual, percebemos que a maioria necessita do sofrimento para
compreender que, a saciação de desejos não representa um estado real de felicidade
ao longo do tempo.
Portanto,
só posso concluir que é um sentimento de total insatisfação que tende a levar o
homem à busca e compreensão de si mesmo. Liberto da prisão de apetites que o
faz sofrer, contudo, sentindo-se livre ele vai a busca do aprendizado virtuoso
balizado na razão, descrito por Kant. De modo que, a razão inclinada ao
aprendizado ético-moral produz, por consequência, equilíbrio e serenidade; e,
num mundo caótico, caracterizado pela competição em busca de euforia e saciação
de apetites perturbadores. Por acaso, isto não seriam o equilíbrio e a
serenidade a própria felicidade? Pense nisso!
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