31 de agosto de 2020
SINTO QUE UMA PARTE DE NÓS É TODO MUNDO
29 de agosto de 2020
PROFESSOR DEIXOU DE SER O CENTRO DO SABER
27 de agosto de 2020
ACREDITO SER A NATUREZA, NOSSA MAIOR PEDAGOGA
21 de agosto de 2020
QUEM APRENDE COM A DOR, ENSINA COM AMOR
19 de agosto de 2020
SEJA NO CORPO OU NA ALMA O SOFRIMENTO É CONCRETO
Foi para discutir
questões sobre o significado mais profundo da existência humana que a filosofia
nasceu. Na verdade, ela nasceu como uma coisa concreta, para enfrentar
problemas reais. Seja no corpo ou na alma o sofrimento é concreto e real.
Entretanto, a filosofia traz para a discussão temas como: o que é vaidade, o que
é o amor, o que é o medo, o que é a justiça e por aí vai. Outra característica
importante da filosofia, é que tanto Aristóteles (384-322 a.C.) como Platão
(427-347 a.C.) e antes deles, já viviam na decadência de Atenas.
De modo que se
observarmos a filosofia ao longo da história, ela sempre cresce quando o mundo
está em ruínas, quando a sociedade está em crise. No entanto, não há duvida que
o acumulo de conforto, o acumulo de opções, o acumulo de opiniões e de técnica,
isto gera esse tipo de sentimento, que algumas correntes filosóficas chamam de
liquidez ou pós modernidade. Hoje somos assim, amanhã já não somos mais,
mudamos rápido de opinião. Esse sentimento de desencaixe como diz os
antropólogos, propicia a filosofia. É quando nos sentirmos perdido e começamos
a nos perguntar e ao mesmo tempo duvidar.
Portanto, o peripatético
é esse espírito de caminhar pela cidade, caminhar pela natureza ou pelo mundo,
observando e conversando sobre esses acontecimentos. Passamos uma boa parte do
tempo se perguntando sobre coisas concretas. Não perguntamos sobre coisas
abstratas, por medo de cairmos no abismo do nosso inconsciente, estudado por
Sigmund Freud (1856-1939). De modo que, beleza e inteligência sempre estão em
conflitos. A beleza é o espelho da nossa imperfeição. Estar diante da beleza é
como ouvir o oráculo de Delfos dizendo: “saibas que tu és mortal”.
Dentro de nós está, o macro e o micro cosmos, o homem e o universo, o céu e a
terra. Pois, a natureza é o grande livro da Vida, no qual devemos aprender a
ler.
16 de agosto de 2020
A SOLIDÃO É BOA QUANDO ESTOU COMIGO
Além dos avanços
tecnológicos do início deste milênio, as relações afetivas também estão
passando por profundas transformações e revolucionando o conceito de amor. O
que se busca hoje é uma relação compatível com os tempos modernos, na qual
exista individualidade, respeito, alegria e prazer de estar junto, não mais uma
relação de dependência, em que um responsabiliza o outro pelo seu mal-estar. A
ideia de uma pessoa ser o remédio para nossa felicidade nasceu com o romantismo
e está fadada a desaparecer neste início de século. O amor romântico parte da
premissa de que somos uma fração e precisamos encontrar nossa outra metade para
nos sentirmos completos.
Durante séculos
acreditou-se que seria assim mesmo. Muitas vezes ocorre até um processo de
despersonalização que, historicamente, tem atingido mais as mulheres. A teoria
da ligação entre opostos também vem dessa raiz: “o outro tem que saber fazer
o que eu não sei fazer”. Uma ideia prática de sobrevivência e pouco
romântica por sinal. Certa vez li uma frase postada por uma mulher, que dizia o
seguinte: “Enamore-se de um homem que se interesse por você, que conheça
suas forças, suas ilusões, suas tristezas e que ajude a superá-las”. Na
verdade, o que essa mulher está buscando, não tem nada a ver com o amor
romântico. Nesta frase está implícito outros interesses que não o amor.
A palavra de ordem deste
século é parceria. Estamos trocando o amor de necessidade pelo amor de desejo.
Eu gosto e desejo a companhia, mas não preciso me submeter, o que é muito
diferente. Com o avanço tecnológico, que exige mais tempo sozinho, as pessoas
estão perdendo o pavor de ficarem sozinhas e aprendendo a conviver melhor
consigo mesmas. Elas estão começando a perceber que se sentem fração, mas são
inteiras. O outro, com o qual se estabelece um elo, também se sente uma fração.
Não é príncipe ou salvador de coisa nenhuma. É apenas um companheiro de viagem.
No entanto, o ser humano é um animal que vai mudando o mundo e depois tem de ir
se reciclando para se adaptar ao mundo que fabricou.
Estamos entrando na era
da individualidade, o que não tem nada a ver com egoísmo. O egoísta não tem
energia própria; ele se alimenta da energia que vem do outro, seja ela
financeira, moral ou afetiva. A nova forma de amor, ou mais amor, tem nova
feição e significado. No mundo da modernidade, vivemos um novo comportamento,
que visa à aproximação de dois inteiros e não a união de duas metades, como
pensava Platão. E ela só é possível para aqueles que conseguirem trabalhar sua
individualidade. Quanto mais o individuo for competente para viver sozinho,
mais preparado estará para uma boa relação afetiva e amorosa.
A solidão é boa quando
estou comigo, ficar sozinho não é mais vergonhoso. Ao contrário, dá dignidade à
pessoa. As boas relações afetivas são ótimas, são muito parecidas com o ficar
sozinho, ninguém exige nada de ninguém e ambos crescem. Relações de dominação e
de concessões exageradas são coisas do século passado. Cada cérebro é único.
Nosso modo de pensar e agir não serve de referência para avaliar ninguém.
Muitas vezes, pensamos que o outro é nossa alma gêmea e, na verdade, o que
fizemos foi inventá-lo ao nosso gosto.
Portanto, todas as
pessoas deveriam ficar sozinhas de vez em quando, para estabelecer um diálogo
interno e descobrir sua força pessoal. Na solidão, o indivíduo entende que a
harmonia e a paz de espírito só podem ser encontrada dentro dele mesmo e não a
partir do outro. Ao perceber isso, ele se torna menos crítico e mais
compreensivo quanto às diferenças, respeitando a maneira de ser de cada um.
Contudo, o amor de duas pessoas inteiras é bem mais saudável. Nesse tipo de
ligação, há o aconchego, o prazer da companhia e o respeito pelo ser amado. Se
não houver respeito, ambos estão vivenciando um amor infantil e imaturo.
11 de agosto de 2020
A FILOSOFIA COMO PROPOSIÇÃO DO PENSAR CRITICO
A
filosofia sempre esteve ligada ao momento em que o homem começou a fazer perguntas
sobre sua existência. Ela nasceu como uma atividade de esclarecimento e de
autonomia de pensamento, pensar por si, conhecer a verdade do mundo, exercitar
a linguagem autêntica para firmar alianças de tolerâncias e proposições de
reconhecimento de igualdades. É importante que entendamos o significado da
própria palavra filosofia, pois ela é utilizada de formas muito diferentes.
Algumas vezes o termo é usado como “filosofia
de vida”, para explicar como uma pessoa conduz sua vida. Também vemos a palavra
relacionada ao trabalho, significando como a pessoa ou um grupo organiza o
tempo, as decisões e o dia a dia de sua profissão. Há ainda a concepção de “filosofia religiosa”, dentre outros
usos. De modo que a filosofia se relaciona à premissa de se constituir num
saber, num modo de realizar alguma coisa, por assim dizer, o pensamento que
organiza e da direção a essas atividades.
Temos
também a filosofia que se aprende nas escolas, que faz parte do currículo
escolar. Esta traz consigo um pressuposto de se reconhecer como um conhecimento
que envolve a história da cultura, o que pensaram os filósofos em determinadas
épocas e em que sentido tais ensinamentos podem nos auxiliar a pensar a vida de
hoje, através do debate sobre a ética, a moral, os valores primordiais que
trazemos na nossa matriz. De modo que o pensar crítico envolve um juízo
intencional, no sentido de refletir sobre em que se deve crer ou de como reagir
a um exame minucioso, a uma vivência, a uma manifestação oral ou textual, e até
mesmo a proposições alheias.
Desse
modo, a filosofia pode ser compreendida com um saber que tem por interesse a
formação da inteligência crítica das pessoas. Na história podemos buscar
informações sobre sua trajetória. Nessa época a filosofia significava um modo
de entender o mundo, diferente do que até então predominava, o pensamento
mítico, fantasioso. A pergunta sobre o que é e para que serve a filosofia. É
uma das grandes questões que a acompanham, desde o seu surgimento até nossos
dias. Houve tempos em que a filosofia apareceu como oposição à ciência, diante
do entendimento de que esta sempre se ocupava de questões práticas e a primeira
seria o exercício livre do pensamento.
Sabemos
que a filosofia surgiu na Grécia Antiga, sua história já contém uma caminhada
que vai modificando o conceito de reflexão de um pequeno grupo para o estimulo
do pensamento crítico e autônomo para o maior número de pessoas, até ocupar a
escola, como um conteúdo de nossa formação. Todavia, pensar filosoficamente é a
grande intenção desse jeito de conhecer e saber, fazer com que a busca das
verdades de cada situação nos auxilie a melhor entender o mundo, as pessoas e a
realidade. A filosofia então tem o sentido de nos fazer pensar com nossas
próprias ideias, buscando a autonomia, sem nos deixar conduzir por outras
pessoas, outros saberes ou poderes; e nos dias de hoje, pelas agências de
alienação e engodo coletivo, como a identidade dominante na mídia ou qualquer
coisa que conduza o nosso pensamento, assim como as redes virtuais na internet.
Entretanto,
é por isso que a filosofia nem sempre teve uma boa aceitação no país ou entre
algumas pessoas mais conservadoras. Como argumenta o filósofo e educador Cesar
Nunes (Unicamp): “o compromisso da
filosofia em estimular o pensamento crítico e dar a oportunidade de que cada um
tire suas próprias conclusões sobre as situações de sua vida, da política, da
sociedade, sobre as outras pessoas, pode incomodar àqueles que não têm
interesse em deixar o pensamento livre e crítico ganhar espaços em nossa sociedade”.
Tendo em vista, que a ideia mais importante é que todos possam exercitar essa
forma de pensamento, para descobrir o que há por trás do que nos é repassado
pelos meios de comunicação, pelo conhecimento que aprendemos como o único
válido e que comecemos a questionar as formas de viver e pensar, buscando, o
grande interesse da filosofia: uma vida melhor, em que os seres humanos possam
sonhar e usufruir da felicidade.
Portanto,
uma vida feliz se constrói com a vivência da igualdade, do pensamento livre, da
criatividade, do diálogo, no combate às situações de desigualdade, pelo
respeito ao próximo, ao meio ambiente, em particular aos direitos conquistados
por crianças, jovens, adultos, mulheres, pessoas com deficiências, idosos,
negros, índios e marginalizados. Exercitar o pensar critico de cada um por si
mesmo é um dos principais compromissos daqueles que têm como interesse a vida
plena, a justiça e a felicidade como valores fundamentais do que chamamos de
emancipação humana.
9 de agosto de 2020
NENHUM FILHO CHEGA AO MUNDO SEM UM PAI
Meu
querido pai, se não fosse você, eu não estaria aqui. Tudo isso é pouco diante
do que sinto. Você me trouxe à vida. Por que não está aqui para abraça-lo
fortemente? Olhar fundos nos teus olhos e dizer: “Querido pai, olho tuas
mãos abençoadas, elas foram importantes na minha educação, sou teu filho e me
orgulho de sê-lo. Que essas mãos souberam ser firmes na sua orientação, e
serenas no seu amparar. Que elas não fugiram ao dever de punir, e não
se tornaram indignas por agredir quando precisou. Por essas mãos
fui abençoado. Você me trouxe ao mundo. Tuas mãos meu pai, devem ser
o exemplo do teu trabalho e que não se abram apenas materialmente. Que isso é
um modo de fechar a consciência, mas que, ao abri-las estejas abrindo muito
mais o teu coração e a tua compreensão. Mesmo não te conhecendo hoje sinto o
teu amor e o quanto é bom ser pai”.
Gostaria
de ter um pai, para sentir quanta responsabilidade cabe a um pai. Ser observado
por ele, que orgulhoso sorri pelas qualidades do filho. Por pequenas que sejam,
é o pai que as fazem crescer na esperança. Mas que esse pai não deixe de ver os
defeitos e as falhas, porque pode ser teu o dever de corrigi-las. Não te
considere pai sem defeitos, mas que isso não te desobrigue da perfeição de
ensinares o que sabes corretamente. Ainda que tu mesmo tenhas dificuldade em
segui-lo, o mais importante do que conseguir alcança-lo, sem dúvida será lutar
por ele e fazê-lo grande. Nenhum filho se faz, sem a referência desse pai
amoroso.
Portanto, querido pai, o que se quer de ti é que pai seja. No conceber por amor, no receber por amor, no renunciar por amor. No amor total dos filhos que, sem teu amor, perderão o significado da própria existência. O filho que não tem amor pelo pai, não pode dizer que tem uma história feliz. Todo pai está presente no sangue, na herança biológica, na cor dos olhos, no sobrenome, na língua falada, no DNA. Tudo isso, porém, desaparecerá senão te fizeres presente no coração. Contudo, o filho que conquista o amor deste pai, torna-se esse amor notável em suas ações no dia a dia, como no afeto pelas pessoas que o lisonjeia. Enfim, ser pai é descobrir que o amor incondicional existe e o maior e mais sincero de todos, está bem diante do nosso “Abraço”. Todo pai ama teus filhos, nem todos os filhos amam o teu pai.
(Feliz dia dos Pais)
2 de agosto de 2020
É ATRAVÉS DO MITO QUE EXPERIMENTAMOS O SAGRADO
O
conceito de mito é baseado na ideia de que os antigos gregos criavam narrativas
para explicar acontecimentos e fenômenos da natureza que não podiam entender. Nesta
reflexão, oferecemos um entendimento da força do mito e do símbolo da “Árvore Cósmica” (Árvore Sagrada) como perspectiva
de centralidade universal. Sabemos que diversas culturas apresentam a árvore
como signo e percepção religiosa para entender o mundo. A Árvore Cósmica
aparece como manifestação do sagrado, que revela ao homem o sentido da vida.
Entretanto,
percebendo que várias civilizações oferecem um sentido singular para o mito,
aproximando-se uns dos outros. Partindo da mitologia genesiana e da Epopeia de
Gilgamesh – um antigo poema épico mesopotâmico, escrito pelos sumérios – com
esse pressuposto, caminharemos por diversas reflexões, entendendo como a árvore
sagrada pode oferecer ao homem uma interpretação do universo por via de seu
significado. Não sabemos ao certo, aonde começa a natureza e onde termina a
arte da sua beleza. Isto para mim foi uma tremenda descoberta e uma experiência
ímpar.
Ao
ler trechos do texto sobre as lendas do povo Bassari da Africa Ocidental, o
mito de Unumbotte, que é considerado o deus criador do povo Bassari no Senegal
e Guiné-Bissau, nos conta a história da criação, com variações muito próxima da
história contada em Gênese sobre o Jardim do Éden. Diz a narrativa, que o deus
Unumbotte, fez um ser humano e seu nome era Homem. Em seguida, ele fez um
antílope e o chamou de Antílope. Também fez uma serpente e a chamou de Serpente
e por ultimo criou a mulher. E no final da sua criação, disse ele às criaturas:
“a terra ainda não foi trabalhada e vocês
precisam amaciar a terra onde estão sentadas”. E Unumbotte deu-lhes
sementes de todos os tipos e lhes disse: “plantem
todas essas sementes”.
Todos
cultivaram árvores e outras plantas, incluindo uma que produzia frutos
vermelhos. Unumbotte comeria da árvore a cada sete dias, mas os humanos não. Consequentemente, a cobra convenceu os humanos a comer da árvore, explicando a
Unumbotte que eles estavam com fome. Unumbotte deu a cada uma das criaturas
alimentos para comer. De modo que, os humanos cultivaram plantas, o antílope tinha
capim, mas a cobra recebeu veneno e o desejo de atacar os humanos. Quando
Unumbotte desceu do céu, ele perguntou quem comeu a fruta, e os humanos
disseram: nós comemos. E Unumbotte perguntou a eles quem ordenou, que podiam
comer daquela fruta, e eles disseram: foi a cobra, e que deram ouvidos a ela
porque estavam com fome. Foi aí que Unumbotte deu sorgo a eles, juntamente
com inhame e milho. Desde então, os humanos passaram a governar a terra.
Para
entender melhor essa história da criação, cito os Upanishads. Que são textos
sagrados que fazem parte das escrituras Shruti hindus, que discutem religião e
que são consideradas pela maioria das escolas do hinduísmo, como instruções
religiosas. Quando o criador fala à sua criatura, ele percebe que na verdade,
está falando dele: “eu sou essa criação,
pois, eu a expeli de mim mesmo”. De modo que, ele se tornou essa criação e
aquele que sabe disso se torna um criador nesta criação. Este é o ponto principal
da criação. Quando sabemos disso, identificamos com o principio criativo, que é
o poder divino no mundo, ou seja, o poder em você mesmo.
Portanto,
é através do mito que vivenciamos e experimentamos o sagrado. Mas, afinal: “o que estamos procurando neste mundo?”
Penso que estamos procurando, uma forma diferente de experimentar o mundo. Que
nos abra para a transcendência e que nos inspira, dentro desse mundo, pois, é
isso que as pessoas querem. É isso que a alma pede. Contudo, procuramos uma
harmonia com o mistério que anima as coisas deste mundo. Assim como a mulher
representa a vida e, é através dela que os humanos entram na vida. É a mulher
que nos traz para este mundo de polaridade, de pares, de opostos e de
sofrimento. Arthur Schopenhauer (1788-1860), foi um filósofo alemão do século
XIX, num dos seus maravilhosos textos; “O
Mundo como Vontade e Representação”, diz ele: “a vida é algo que não deveria ter acontecido. Ela é na sua própria
essência e caráter, uma coisa terrível, pois, precisamos matar e comer para
viver”. Ou seja, estamos sempre no pecado, segundo os critérios éticos
seguido pelos humanos.
1 de agosto de 2020
O DESEJO NÃO DEPENDE DA NOSSA VONTADE
Na
maioria das vezes as pessoas em geral, não tem o hábito da reflexão, a não ser
por necessidades comuns do cotidiano. Geralmente, não distinguimos o desejo da
vontade, e isso é um dos grandes problemas. Sem pensar ou refletir, agimos por impulso
e não percebemos que esse impulso – desejante ou reativo – é resultante do que
sentimos e se não refletir o que sentimos, certamente agimos na maioria das
vezes de maneira equivocada pela perturbação emocional. Vontade é agir de
acordo com a reflexão racional e o desejo é agir apenas por impulsos.
Para
dialogar sobre a vontade e o desejo trago o filósofo alemão Immanuel Kant
(1724-1804), fundador da “Filosofia Crítica”, um sistema que procurou
determinar os limites da razão humana. Sua obra é considerada a pedra angular
da filosofia moderna. No seu livro “A Crítica da Razão Pura”, ele nos contempla
com uma profunda análise moral e distintiva de desejo e vontade; e convida-nos
à reflexão sobre as nossas escolhas. Ao estudarmos ética, num contexto
histórico de antropologia sociológica, não é difícil entrever a influência
negativa da sociedade atual que, através de padrões balizados na importância da
personalidade, vêm modelando a conduta humana de maneira cada vez mais egoísta,
reativa e intolerante, influenciando de modo decisivo as nossas escolhas.
De
modo que, desejo é tudo o que emerge do pensamento à ação sem que se possa
controlar; é o impulso instintivo, é a avidez pelo prazer das sensações. Já a
vontade, é a ação regida pela razão, independentemente da corrente dos desejos,
ou seja, é o uso da razão para deliberar escolhas. Muito diferente de desejo,
vontade é o saber materializado em conduta; é tudo o que o pensamento produz
para se sobrepor aos instintos, a fim de viver melhor. Sendo assim, a fronteira
entre a vida boa e a vida ruim, está no descolamento entre a racionalidade e o
impulso desejante, ou seja, entre a vontade e o desejo. De modo que, a vontade
percebe que, apesar do desejo, é possível viver na contramão dos instintos. A
isso chamamos liberdade, que é a soberania da competência deliberativa sobre as
próprias inclinações.
Porém,
sou livre quando, ao flagrar meus desejos, consigo agir racionalmente,
contrariando o que sugerem meus impulsos. A moral não é uma vigilância
castradora, mas, é um olhar sobre si mesmo; é um lugar na mente onde a reflexão
impõe os limites que imperam a conduta. No entando, basta não conhecer as
próprias fraqueza para se tornar escravo dos apetites que possui. O que difere
o ser humano dos outros animais é a sua capacidade de pensar para agir, de modo
que, aquele que se conduz pelos seus instintos e inclinações, aproxima-se da
animalidade; mas, aquele que age pela via da razão, aproxima-se de sua
destinação moral.
No
entanto, ao entender a felicidade como acúmulo de desejos saciados, o ser
humano tende a priorizar a busca pelos prazeres dos sentidos e das vaidades,
sem perceber que quanto mais se sacia um prazer biológico ou vaidoso, mais
estravagantes e intensos estes prazeres terão de ser futuramente, a fim de se
obter o mesmo nível de satisfação sempre. Porém, a fase de vontade surge,
frequentemente, quando os excessos decorrentes da saciação dos apetites resulta
em adoecimento físico ou psicológico. Observando o comportamento humano na
sociedade atual, percebemos que a maioria necessita do sofrimento para
compreender que, a saciação de desejos não representa um estado real de felicidade
ao longo do tempo.
Portanto,
só posso concluir que é um sentimento de total insatisfação que tende a levar o
homem à busca e compreensão de si mesmo. Liberto da prisão de apetites que o
faz sofrer, contudo, sentindo-se livre ele vai a busca do aprendizado virtuoso
balizado na razão, descrito por Kant. De modo que, a razão inclinada ao
aprendizado ético-moral produz, por consequência, equilíbrio e serenidade; e,
num mundo caótico, caracterizado pela competição em busca de euforia e saciação
de apetites perturbadores. Por acaso, isto não seriam o equilíbrio e a
serenidade a própria felicidade? Pense nisso!
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