Na nossa cultura privilegia muito
o desejo, talvez por conta de uma insatisfação experimentada, de uma parcela
significativa da sociedade. Valorizamos muito o desejo que sempre pressupõe um
objeto externo não possuído e quando o possuo, deixo de desejá-lo. Se o
individuo já satisfeito porque acha que mais um desejo foi realizado, logo
passa a buscar outros desejos. Como o desejo se alimenta de certa insatisfação,
que combina muito bem com toda a indústria consumista, a sexualidade torna-se o
alvo maior do capitalismo selvagem. Até parece que as mulheres de hoje, não são
mais para amar e, sim, para olhar e se deliciar de tão gostosas e malhadas que
são. São tão olímpicas que alguns homens, em particular os machões, brocham só
de olhar, não por desinteresse, mas por não achar-se tão competente assim. É
como se elas falassem: “você não passa de um gordo, velho e solitário, trancado
na sua medíocre vidinha sexual”.
Antigamente, as mulheres sabiam
seduzir os homens. Elas praticavam a arte da sensualidade e da fantasia. De
modo que diante de uma Sharon Stone, o machão se encolhia todo, virava um pobre
coitado excluído. Além de rica, Sharon Stone era linda e gostosa, para o
delírio dos proletariados sexuais, que jamais teriam dinheiro para conhecê-la
na intimidade. No geral, essas mulheres robóticas, provocam uma excitação de
classe. É como se elas dissessem: “o meu ideal é ser desejada como um bom
produto”. A meu ver e de muita gente boa, isso não leva a lugar nenhum a não
ser, a profunda frustração, porque depois de saciado esse desejo só nos resta o
tédio, uma vida miserável, sem sentido. Todo dinheiro que antes se gastava com
psicoterapia, hoje se gasta com a modelação do corpo nas academias. O que
importa é cuidar do corpo sarado, a saúde mental ficou para o segundo plano,
não precisa se preocupar. No entanto, infelizmente, o que assistimos é uma
sociedade enferma, pobre de espirito e doente em todos os aspectos.
De modo que, o desejo tem
características extremamente aristocráticas, porque privilegia, do ponto de
vista, as relações interpessoais, aquelas que são mais desejadas. No caso dos
homens, os mais ricos, os inteligentes e os desleais também. Para quem não
sabe, os cafajestes fazem um sucesso medonho com as mulheres. No caso das
mulheres, as mais belas, as mais olímpicas, as mulheres frutas da vida. Outro
dado observado nas mulheres (nem todas gostam), elas adoram esse tipo de homens
safados e cafajestes, esses são alvos prediletos da maioria das mulheres. Até
em campanhas publicitárias, eles aparecem fazendo o tipo cafajeste. Outro dado
relevante é que o sexo casual também faz parte dessa visão aristocrática,
sempre é importante entender, que ele privilegia umas poucas minorias e
desfavorece a grande maioria. Como aquelas pessoas mais sinceras, as mais
tímidas, as que falam a verdade, as que não são tão boas de conversa fiada, as
que não frequentam vida noturna e as que não atendem as exigências do mercado
de consumo, essas pessoas sempre são marginalizadas.
Portanto, o elemento tátil do
desejo se abastece através de trocas gostosas e prazenteiras entre duas pessoas
que se atrai. Uma conversa agradável, trocas de carícias com alguém disposto e
receptivo, que lhe é interessante naquele momento, sendo assim, segue-se o
momento prazeroso com as carícias verbais que praticamente não dependem de
novidades. Por outro lado, aquilo que mais excita a mulher ou vice-versa, se
abastece através de trocas gostosas e prazenteiras, tal como uma boa conversa,
trocas de carícia com algum parceiro que lhe é interessante naquele momento.
Contudo, segue-se o momento prazeroso. Porém, o desejo é pura novidade e tão
pouco combina com as relações afetivas. Tanto o homem como a mulher se tiver
uma relação de boa qualidade, não precisa mais do desejo. Ninguém deseja o que
possui. A mulher ou o homem deixa de ser objeto do desejo, para ser objeto de
excitação um do outro. Portanto, para se concretizar a excitação haverá as
trocas gostosas de carícias, o estabelecimento da intimidade e o esquentar das
relações que são estreitadas a partir da aceitação das carícias e da mútua
reciprocidade.
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