Se olharmos as flores desabrochando, seus
esplendores e suas belezas, vamos compreender que a existência eminente da vida
segue o seu curso natural. De que modo eu, como educador, conseguiria ajudar as crianças e jovens a contemplar as flores e aplicar-se também à filosofia? Se
concentrar-me unicamente nas flores e desprezar a filosofia, haverá algo de
errado na minha atitude. Se, ao contrário, estiver preocupado apenas com a
filosofia, também aí não estarei certo. Não devemos adquirir conhecimentos
tecnológicos, aperfeiçoar-nos primeiramente numa matéria, e depois passarmos
para outra.
Ao nos dedicarmos longo tempo, com todo o empenho,
na aquisição de conhecimento, algo já se destruiu em nós. Particularmente o
interesse em olhar para a flor e a capacidade para enxergá-la na sua essência se foi. Ao dar maior ênfase a um ou
outro aspecto, tornamo-nos insensíveis e, como sabe, a essência da inteligência
é a sensibilidade. Assim, a qualidade que desejamos para a criança é a mais
apurada sensibilidade. Sensibilidade é inteligência, a qual os livros não nos
propiciam. Se, durante anos, estudarmos filosofia e não formos capazes de olhar
para as flores e para o azul do céu, não compreendemos a filosofia e aí sim
estaremos mortos em vida. Se tivermos sensibilidade, a mais alta expressão da
inteligência então poderá admirar as flores e também estudar filosofia.
Entretanto, se essa inteligência for dotada de
agilidade, atenderá a ambos os campos. Agora, o que faremos nós como uma
comunidade de educadores, para despertar na criança e no jovem, esse tipo de sensibilidade?
O estudante tem de ser livre. Senão, não será sensível. Se, por exemplo, não
for livre para estudar determinada matéria, para apreciá-la, para a ela
devotar-se, não terá bom êxito nesse estudo. E, igualmente, para contemplar as
flores, ver-lhes a beleza, o aluno necessita de liberdade. Então, é a liberdade
o que vem primeiro o que significa caber ao mestre ajudar a criança a ser
livre. De modo que, liberdade significa ordem, liberdade não significa deixar a
criança fazer o que quiser. Qualquer forma de compulsão, de intimidação, como a
praxe de dar notas ou não, nada disso é eficaz.
Portanto, se compreenderem a importância da
liberdade e da ordem, e sentirem que tanto o castigo como o prêmio não produzem
resultados. Vale eximir-se desta forma de prática. Vale lembrar, que os velhos sistemas,
de uso secular, não levaram o homem à libertação. Fizeram-nos ceder e
ajustar-se. Contudo, minha sensibilidade me expõe em todos os momentos,
inclusive no que escrevo. Se minhas lágrimas escapam e caem pelo meu rosto
diante de alguém, sinto-me vulnerável. Se lhe dou um abraço e você me rejeita,
sinto-me pequeno. Se te beijo e você se esquiva, sinto que não devo demostrar
meus sentimentos. Mas a sensibilidade para com outro ser humano, para com a
flor, a música, a beleza de uma paisagem ou de uma árvore, não é uma
demonstração de fraqueza. É uma demonstração da inteligência de cada um,
e por essa razão não devemos nos envergonhar nunca do que somos e de demonstrar
nossos sentimentos.
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