A
civilização grega se desenvolveu na Península Balcânica, a mais oriental do sul
da Europa, rodeada de inúmeras ilhas. Seu relevo montanhoso facilitou a
formação de grupos humanos isolados e autônomos, como de fato foram às
cidades-estados (as polis). A pouca fertilidade do solo acidentados foi compensada
pela existência de ótimos portos naturais. Assim, os gregos puderam desenvolver
a navegação e o comércio, vitais para garantir a sobrevivência e o enriquecimento
das cidades-estados. A procura de terras férteis, o crescimento populacional e
a necessidade de expansão comercial levaram à criação de muitas colônias nas
regiões mediterrâneas.
Nos
séculos VI e V antes de Cristo, as pólis conheceram o apogeu econômico,
político e cultural. Foi exatamente nesse período glorioso que surgiu na
cultura grega o confronto entre “mito e
filosofia”. Tanto o mito quanto a filosofia são explicações que visam
responder aos questionamentos sobre o sentido da vida, a natureza do homem e do
universo, assim como justificar as normas políticas, éticas e religiosas da
própria comunidade. Durante um longo período da história grega, a mitologia
constituiu a fonte exclusiva de explicação para a existência do homem e de
organização do mundo. A diferença específica entre mito e filosofia está no
funcionamento de suas argumentações.
O
mito é uma narrativa imaginária que estrutura e organiza de forma criativa as
crenças culturais. As divindades constituíam os personagens que, pelas
divergências, intrigas, amizades e desejo de justiça, explicavam tanto a
natureza humana como os resultados das guerras e os valores culturais. A
narrativa grega, apesar de fantasiosa, é impregnada de sabedoria e conhecimento
das paixões humanas, dos problemas existenciais e da necessidade de leis que
possibilitem a vida em comum. Devido ao desenvolvimento e aos
contatos culturais com outros povos, decorrentes do comércio e da navegação, os
gregos cultos sentiram necessidade de encontrar uma linguagem mais universal e
rigorosa para justificar o universo e as próprias instituições.
Portanto, novos conceitos
culturais, baseados na razão, formaram um sistema explicativo que substituiu as
criações míticas. A tensão estava estabelecida. De um lado, os conservadores
queriam manter o sistema explicativo do mito, muito mais popular e eficaz para
preservar os seus privilégios. De outro lado, os filósofos, desejosos de
mudanças, rejeitavam as explicações míticas e eram favoráveis às reivindicações
dos membros das classes emergentes (os artesãos e os comerciantes),
democratizando assim o sistema político. Contudo, a tensão entre mito e
filosofia começa, mas não termina na Grécia antiga. Ela perpassa a história
ocidental e continua de alguma forma até hoje.
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