O
sentido grego da palavra admiração é o “espanto”.
Quando estamos diante de uma situação diferente, inesperada, que pela qual
temos uma atitude de admiração e esta atitude é o ponto de partida para o ato
de filosofar, pois nos leva à descoberta de nossa própria ignorância e à
indagação sobre o que ignoramos. Por exemplo, todos nós convivemos com
determinados padrões estéticos, morais, políticos etc. Quando algo nos é
apresentado fora do que esperamos, nos perguntamos: como isso é possível? Todos
nós temos um determinado padrão de beleza, no entanto, vez ou outra
surpreendemo-nos com uma obra de arte que pode ser mais bela ou então que não
possui os critérios de beleza que imaginamos. Diante desse espanto, desta
admiração, iniciamos um processo de questionamento que leva à ampliação de
nossa compreensão sobre o que é o belo. Neste comportamento adquirimos
consciência de nossa ignorância e procuramos ampliar nossa compreensão,
perguntando e questionando sobre os nossos valores. Assim como a beleza, o
mesmo ocorre com outros temas.
A
atitude da admiração, do espanto, quando nos desperta para certas
interrogações, é a manifestação do desejo de saber, do qual falou o filósofo
Aristóteles (384-322 a.C.), sendo que para ele desejo é um movimento ou atividade
da faculdade do desejo ou vontade, que move o corpo em direção ao objeto
desejado, faculdade esta não racional, embora capaz de dialogar com a razão.
Aristóteles nos diz que o desejo é um gênero que compreende três espécies,
como: “querer, apetite e impulso”.
Este desejo, por sua vez, não é um comportamento utilitário, pois neste caso,
outros interesses, que não a procura do conhecimento poderiam sobrepor às
indagações que o homem pode fazer sobre o objeto desejado. Há um entendimento
que bombardeia nossos impulsos e que estimula nossa vontade. E esta é uma
especificidade do conhecimento filosófico. A admiração, no entanto, só
despertará o indivíduo para a filosofia se ele for capaz de indagar sobre seus
conhecimentos e suas práticas. Se a admiração não servir para ampliar nossos
horizontes, através de um questionamento, ela pode servir também para uma
atitude alienante e dogmática, o que é o oposto do que se busca com a reflexão
filosófica.
Portanto,
diante do espanto as pessoas podem se render aos encantos e medos, despertando
uma admiração ingênua, que torna o homem um ser passivo, ou ainda, um
amedrontado que não questiona, não problematiza, e simplesmente admite que
existem coisas desconhecidas, mas não se atreve a indagar sobre elas. A mesma
admiração que é o ponto de partida para o exercício do filosofar pode ser um
comportamento que preserva a ingenuidade e não leva ao questionamento. O que
vai diferenciar é o modo como as pessoas reagem diante de questões que surgem a
partir de nosso cotidiano. A reflexão filosófica é acessível a todos e em todas
as etapas da vida, pois como afirmou o filósofo grego Epicuro (341-271 a.C.),
fundador do Epicurismo, filosofia baseada na identificação do bem soberano como o prazer. Para ele, nunca se deve dizer que é cedo demais ou tarde demais para
filosofar, pois dizer isso equivaleria dizer que a hora de desejar a felicidade
ainda não chegou ou então que ela já passou.
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