Para
o filósofo e educador húngaro Istvám Mészáros (1930), nos da uma rica lição
sobre o papel da educação. Ele discorre sobre a educação e o quanto ela pode
contribuir na mudança social, bem como na manutenção da sociedade. Com a
sabedoria de seus longos anos de estudo, citando de Paracelso a Fidel Castro,
entre outros, mas principalmente recorrendo aos argumentos de Karl Marx
(1818-1883) e o filósofo italiano Antonio Gramsci (1891-1937), que defende a
ideia de que para resgatar o sentido estruturante da educação e de sua relação
com o trabalho, as suas possibilidades criativas e emancipatórias, é preciso colocar fim à separação entre “Homo faber” e “Homo sapiens”. De modo que, Mészáros,
propõe dois eixos principais: o primeiro relaciona-se ao que alcançam as
reformas educacionais e o segundo diz respeito ao imperativo de romper com a
sociedade presidida pela lógica do capital e de estabelecer estratégias de
transição para outra sociedade onde a educação para além do capital adquire
significativa importância. Contudo, relativiza o papel que a educação tem no
processo de mudança social. Procura demonstrar que a educação, por si só, não é
capaz de transformar a sociedade rumo à emancipação social.
Mészáros
considera que a escola reforça a internalização do modo de sistema social
capitalista, contribuindo para impedir a transformação do entendimento
dominante. O filósofo húngaro demonstra desprezo pela educação formal, cuja
finalidade é a reprodução do capital. Neste sentido, a educação das escolas
somente pode se tornar significativa na constituição de outra sociedade, caso
seja associada à educação em sentido amplo, isto é, educar para a vida. Dessa
maneira, a educação em “lato” sentido
é enfatizada para o alcance de outra sociedade onde a lógica do capital tenha
sido superada. A educação formal, contudo, não é dispensável, desde que se
associe à educação para a vida toda, pois sem um progressivo e consciente
intercâmbio com os processos de educação abrangentes como a nossa própria vida,
a educação formal não pode realizar as suas muito necessárias aspirações
emancipadoras. Mészáros chama a atenção para a necessidade de que sejam
elaborados planos estratégicos para uma educação que vá além do capital, pois
essa sociedade qualitativamente diferente e a educação livre dos propósitos do
capital caminham juntas: “uma não é possível sem a outra”. A educação no
sentido amplo é considerada imprescindível ao propósito de superação da
sociedade.
Portanto,
para esse fim, a universalização da educação e a universalização do trabalho
são peças fundamentais, sem as quais não pode haver solução para a
autoalienação do trabalho. Tal realização pressupõe necessariamente a igualdade
verdadeira, substancial e não apenas formal de todos os seres humanos. Apenas
na perspectivas de ir além do capital essa universalização e igualdade podem
ser vistas, porque a educação para além do capital almeja uma ordem social
qualitativamente diferente. O nosso dilema histórico definido pela crise
estrutural do capital global, época onde se evidencia uma condição histórica de
transição, define-se também um espaço histórico e social aberto à ruptura com a
lógica do capital e à elaboração de planos estratégicos na direção de uma
educação para além do capital. Nesse ambiente, a tarefa educacional é uma
tarefa de transformação social, ampla e emancipadora. A educação deve ser
articulada e redefinida no seu inter-relacionamento com as condições cambiantes
e as necessidades da transformação social emancipadora e progressiva em curso.
Contudo, para Mészáros a universalização da educação só poderá ocorrer com a
universalização do trabalho, pois tais dimensões têm caráter indissociável.
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