Pode
ser que um dia deixemos de nos falar, mas, enquanto houver amizade sempre há a
possibilidade de fazermos as pazes novamente. Certamente um dia o tempo vai
passar, mas, se a amizade permanecer, um ou outro há de se lembrar. Pode ser
que um dia nos afastaremos, mas, se formos amigos de verdade a amizade nos
reaproximará. Pode ser que um dia não mais existamos, mas, se ainda sobrar
amizade, nasceremos de novo um para o outro. Pode ser que um dia tudo se acabe,
mas, com a amizade construiremos tudo novamente. Cada vez de forma diferente.
Sendo único e inesquecível cada momento que juntos viveremos e nos lembraremos
para sempre.
Seria
maravilhoso conviver se as pessoas tivessem mais respeito em um mundo cheio de
dor e injustiça. Quantas pessoas são infelizes na sua subjetividade. Algumas
dizem que amam e tem fé em Deus e são incapazes de cultivarem amizades solidas
e duradouras. Presume-se também que a amizade é um gesto de amor fraternal. Às
vezes me pergunto! Depois de anos de convivência, por que tem que odiar ou
perseguir o outro? Agora que aprendemos um pouco um do outro, que tal uma
amizade alicerçada na confiança? Ninguém é culpado porque ama ou deixou de
amar. Se cuidar bem do amor, às vezes ele dura um bom tempo, muitas vezes até o
fim da vida. Se não cuidar ele acaba mais ou menos depressa. As pessoas
realmente precisam conhecer o verdadeiro significado do que é amar e ter fé em
Deus. Por que não resolver as coisas naturalmente, com serenidade e sabedoria?
Ninguém pode garantir que amará a vida inteira. Quem pode fazer esta promessa?
Acabou-se o interesse entre duas pessoas, nem por isso precisam se maltratar ou
ficar inimigas. Seria uma infantilidade dispensar a amizade depois de anos de convivência. Quantas intimidades não trocaram.
O
nosso amor é uma miséria. Amamos na proporção do “quociente de inteligência” (Q.I.) de uma ostra (com todo o respeito
às ostras) e achamos que isto é um grande amor. Um amor que só serve para
provocar brigas e aborrecimentos. Somos egoístas até no momento de amar.
Esquecemos que amar é doação, um entregar-se constante ao outro. Há duas formas
para viver a vida: uma é acreditar que não existe milagre e a outra é acreditar
que todas as coisas boas da vida são milagres. No livro: “A Identidade” do escritor tcheco Milan Kundera (1929), afirma que a
amizade é indispensável para o bom funcionamento da memória e para a integridade
do próprio eu. Chama os amigos de testemunhas do passado e diz que eles são
nosso espelho, que através deles podemos nos olhar. E vai além dizendo: “que toda a amizade é uma aliança contra a
adversidade, aliança sem a qual o ser humano ficaria desarmado contra seus
inimigos”.
Portanto,
amigo é aquele individuo que o tempo não apaga, que a distância não esquece e
que a maldade não destrói. É um sentimento que vem de longe, que ganha lugar no
seu coração e você não substitui por nada. É alguém que você sente presente,
mesmo quando está longe, que vem para seu lado quando você está sozinho e nunca
nega um sentimento sincero. Amigo não é coisa de um dia, são atos, palavras e
atitudes que se solidificam com o tempo e não se apagam mais. O que fica para sempre,
como tudo o que é feito com o coração aberto. Contudo, precisamos de um amigo
para conversar com o coração. Se não quisermos, não pudermos, não soubermos,
com palavras, nos dizer um pouco de nós para o outro, senta ao lado dele assim
mesmo. Deixa os olhos se encontrarem vez ou outra, até nascer aquele sorriso
bom que acontece quando a vida da gente se sente olhada com amor. Senta apenas
ao lado dele e deixa o silêncio de ambos conversarem espiritualmente. Às vezes,
a gente nem precisa mesmo de palavras. Um olhar é capaz de traduzir o que sente
e diz um coração.