Se
as relações humanas não forem recíprocas, certamente serão de opressão ou de
exploração. Se eu faço a minha parte, cabe ao outro fazer também. Se eu trato
bem, cabe ao outro me tratar bem. Se vamos cooperar num trabalho, cada um faz a
sua parte. Na família esta situação é muito evidente. De um lado as mães fazem
demais, sem exigir nada dos filhos, e quando exige é sempre o mesmo absurdo,
nos conselhos intermináveis que não se realizam nunca. Elas fazem cobrança
falsa que não funciona. Contudo, não estão educando e sim criando filhos
egoístas, que não conhecem limites, não respeitam os mais velhos, tratam os
demais membros da família com grosseria e indiferença. As mães cobram, nós
sabemos, mas cobra errado.
Para
fundamentar a importância do respeito e da reciprocidade vou usar um tema
descrito pelo saudoso padre Léo Tarcísio Gonçalves Pereira, SCJ (1961-2007), da
TV Canção Nova. Título: “Jesus está disfarçado em sua casa”.
Esta conferência mostra um exemplo de fabricação autêntica da loucura em
família. Só Jesus Cristo para dar um jeito nessa família, isto se houver
cooperação entre seus próprios membros. Nesta família encontramos a maior
escola de irresponsabilidade do mundo das relações. Nela você pode fazer o que
quiser, pois ela é o retrato do inferno em família. Não há melhor maneira de
criar irresponsáveis no mundo do que essa tolerância ilimitada que existe na
maioria das famílias. É uma história tão real que me comoveu de tal forma que
resolvi compartilhar com os meus leitores.
Imagina
uma família que vivia um verdadeiro inferno aqui mesmo na terra. Tudo ia mal
naquela casa. Até que um dia o patriarca dessa família foi procurar aquele
santo homem, o monge que tinha o dom das visões e da cura, numa capela próxima.
Essa capela era muito frequentada pela fé daquele monge. Um dia à tarde depois
de sair do trabalho, esse homem passou no bar, tomou umas cachaças, criou
coragem e foi falar com o santo monge. Quando chegou a vez dele o monge perguntou:
“está com algum problema meu filho”?
Sob o efeito da pinga protestou esse pai: “claro
que estou, senão não estaria aqui passando por essa vergonha. Continuou
ele: “o meu maior problema é a minha
família. Vivemos num inferno, lá em casa tudo da errado. Nós só temos dividas,
minha mulher só vive doente, meu filho mais velho fuma maconha, minha filha já
teve não sei quantos namorados, o meu menino mais novo já foi expulso de três
colégios. E hoje está fazendo seis meses e nove dias e três horas, que minha
sogra veio morar em casa. Não aguento mais viver nesse inferno e para esquecer
os problemas, acabo tomando umas cachaças”.
O
monge na sua santa bondade colocou as mãos na cabeça desse pai e começou a orar
a Deus. De repente o monge para e diz: “Filho
estou tendo uma visão. Dentro da sua casa vocês estão cometendo o maior de
todos os pecados deste mundo. Vocês não estão reconhecendo Jesus Cristo que
vive lá. Meu filho, Deus é amor, mandou seu filho para salvar a humanidade e
mesmo assim mataram Jesus. Mas, Deus na sua infinita bondade mandou Jesus
Cristo de volta a terra. Porém, para não ser eliminado outra vez, ele voltou
disfarçado. Está disfarçado entre os membros de sua família na sua casa”.
Indignado argumenta: “na minha casa,
naquele inferno? Não pode ser!
Insiste o monge: “filho um de vocês é o
próprio Jesus Cristo disfarçado. Vocês vão ter que descobrir. Como vocês não descobriram ainda, estão
tratando mal um ao outro, logo estão tratando mal Jesus Cristo, por isso que
tudo vai mal na sua casa”.
Este
pai voltou para casa reuniu a família e disse: “nós temos aqui um problema muito sério para resolver. Tive com o
santo monge hoje à tarde e ele falou que Jesus Cristo vive aqui em casa
disfarçado. Ele disse que um nós é o próprio Cristo disfarçado. Quero saber
quem aqui é o Cristo. Quem for que se apresente agora. Pode falar estou
preparado para o pior”. O filho caçula em tom de brincadeira disse: “gente, o pai bebeu outra vez ou fumou
maconha”! Na dúvida o pai ligou para o monge e disse que havia feito uma
pesquisa com a família e que realmente não podia ser nenhum da sua família. Do
outro lado da linha respondeu o monge para ele continuar com a pesquisa que era
sim, na sua casa que Jesus Cristo vivia disfarçado. O garoto caçula como um bom
observador comenta com o pai: “e se for à
avó pai”?
O
pai prontamente descarta esta possibilidade, ironizando a sogra para o filho. O
pai explica ao filho, que sogra é igual cerveja, só é boa quando está bem
geladinha em cima da mesa. Diz o pai: “meu
filho você sabe por que Pedro negou o Senhor Jesus três vezes? Foi por mágoa,
porque curou a sagra dele. Dizer que pode ser sua avó é uma blasfêmia”. Aí
foi a vez da filha falar: “então, vai ver
é o pai”. A sogra não perdeu tempo: “fico
imaginando como pode um cachaceiro desse, um sem vergonha, safado ser Jesus
Cristo”. Questiona os filhos: “e se
for à mãe o Jesus disfarçado”? Diz o pai: “não pode ser, Jesus curava
todas as doenças, e a sua mãe tem tudo quanto é doenças”. A mãe conversa
com o pai: “e se for o nosso filho mais
velho”? O pai questiona: “Jesus
fumava maconha”? Diz a mãe: “vai ver
que é a menina”. Ironiza o pai: “vai
ver é mesmo, pelo tanto de roupa que
usa, parece Jesus na cruz, já anda quase pelada”. Então é o Juninho diz a
mãe. O pai já irritado com a família diz: “pode
ser, Jesus com doze anos discutia com os doutores da lei, esta pequena anta,
por discutir com os professores já foi expulso de três colégios. A mãe
comenta que ouviu o padre dizer no sermão: “que
os defeitos dos filhos, são filhos dos defeitos dos pais”.
No
dia seguinte o homem foi trabalhar pensativo, chegou à noite em casa o seu
filho caçula veio conversar com ele a pedido da mãe: “pai o senhor pensou no que o monge falou? E se for à avó pai”? Responde o pai: “a gente pede a Deus para que não seja”. E continua: “também acho que pode ser a avó mesmo, ela é
católica e costuma ir à missa todos os domingos, ela reza o terço todos os dias”.
Diz o pai: “mesmo não gostando dela, vou
tratar melhor essa velha”. No dia seguinte, levantou cedo fez café e levou
café com leite na cama para a sogra. Desconfiada, mesmo assim tomou o café com
leite preparado pelo genro. Os dias foram passando. Aquela senhora começou a
melhorar, sendo bem tratada, logo trata bem a todos! Mas podia ser o pai o Cristo
disfarçado. Comenta a esposa: “Nossa! Quanto tempo não trato bem o pai de vocês.
Ele é um homem bom, honesto, trabalhador, não deixa faltar comida em casa. Faz
tempo que não faço aquele franguinho assado que ele gosta, podia ter feito no
domingo. Alias, nem o cumprimentei pelo dia dos pais. Vai ver é por isso que
ele fica pelos botecos. Diz o filho mais velho: “e nós que nem lembramos que domingo foi o dia dos pais! Nunca dei um
beijo no pai e muito menos disse: pai,
eu te amo. Acho que nós estamos
em falta com o pai”.
Todos
começaram a tratar bem o pai. A pessoa sendo bem tratada no seu convívio, logo
trata bem os demais! Comenta o filho caçula: “e se for à mãe o Cristo disfarçado entre nós? Nossa! Precisamos tratar
melhor a mamãe. Ela trabalha feito uma condenada em casa, a gente só reclama da
mãe. Talvez seja por isso que ela toma aquele tanto de remédio”. Diz a
filha: “eu nunca ajudei a mãe em casa,
muitas vezes respondo com agressividade a ela que faz tudo por mim”.
Comenta os filhos: “a gente nunca
agradeceu a mãe pela comida, obrigado pela roupa passada, tudo arrumadinho na
gaveta. Saímos sem preocupar se a mãe vai ou não ficar bem. Quantas vezes
chegamos em casa e a mãe estava chorando e a gente nem perguntou por quê.
Tratamos mal a nossa mãe. Gesto de amor então, nunca tivemos. Está faltando
dizer obrigado mãe nós te amamos.
Dizer: a senhora é a melhor mãe do mundo”.
Cada
um naquela casa começou a tratar o outro com respeito. Passaram a se
cumprimentar dentro de casa. Bom dia! Boa tarde! Tudo bem? Quando precisava do
outro pedia, por favor! A desconfiança deu lugar ao respeito! O clima de
indiferença entre eles virou compaixão! O pai não passava mais no boteco depois
do trabalho, vinha direto para casa, pois, sabia que agora tinha uma família
lhe esperando. A sogra começou a ajudar nas despesas da casa com sua
aposentadoria, não se sentia mais uma inútil. A mãe já não precisava mais
daquele tanto de remédio. A menina começou a usar umas roupas mais decentes e
menos extravagantes. Agora juntos, como não gastava mais com bebidas, com remédios,
com drogas e outras porcarias, foram economizando e aos poucos foram pagando as
dividas. Agora havia um planejamento familiar sobre o que vamos pagar primeiro.
Finalmente,
quanta emoção para aquele monge, quando no domingo às dez horas da manhã, na
terceira fileira do lado esquerdo da sua capela no convento, ele vê: “pai, mãe, avó, o rapaz, a moça e o menino”,
participando da missa. Aquela missa foi especial para aquele monge. Quando
terminou a missa ele chamou a família na sacristia e disse: “olha eu quero muito agradecer a vocês e
dizer que estou muito feliz, porque vocês descobriram o segredo, o maior
segredo da face da terra. Porque
quando vocês tentaram descobrir quem era o Cristo disfarçado, vocês chegaram à
maior graça que um ser humano pode alcançar. Ao tentarem descobrir quem era o Cristo
que vivia entre vocês, passaram a ver cada um com os olhos do próprio Cristo e
é esse o grande segredo. Não tem outro”! Contudo, conclui padre Léo: “Sabe por que sua família vai mal? Sabe por que as coisas não vão bem na sua
casa? Sabe por que do descontrole
emocional e aquele tanto de remédio que tem lá? Preste atenção! Jesus Cristo
está disfarçado na sua casa. Enquanto
não passar a enxergar cada um com os olhos do próprio Cristo é impossível
chegar à experiência do amor.