Viver
é bom demais, nós é que somos complicados. Não cultivamos relações afetivas
duradouras, tudo parece descartável. Somos muito mais caprichosos, irregulares
e desonestos do que dizemos. A vida real das pessoas não é flor que se cheira. Todos
vigiando a todos, em qualquer lugar que esteja sempre tem alguém nos olhando. O
homem é um perfeito chipanzé, está sempre interessado no que está envolta e
principalmente, no que o outro está fazendo. No entanto, existe uma multidão
nos observando, a toda hora e todos os dias. De modo que, todos controlam a
todos. Cada um de dedo em riste apontando para o outro. Todos que se aproximam são uma ameaça, pelo simples fato de todos vigiarem a todos. E qual será a arma mais
usada para manter a estrutura social? Está arma chama-se fofoca. Entretanto,
ninguém leva a sério a fofoca, por achar esse assunto banal. Pois devia! Deve
ser levado a sério pela importância que esse assunto tem e pelo estrago que
pode causar na vida familiar e social de muitas pessoas. Se não tivéssemos
defeitos, não teríamos tanto prazer em apontar os defeitos nos outros.
No
entanto, mais da metade de todas as fofocas no mundo ainda é sobre a vida
alheia, a intimidade das pessoas. Em particular, das mulheres que sofrem todo o
tipo de perversão e discriminação, em pleno século XXI. Ninguém até hoje levou
a sério a fofoca que é o mais poderoso e o mais forte sistema de controle
social. Quando a gente faz fofoca? É quando o outro faz diferente do que você
acha que ele deveria fazer. Fazemos fofocas para condenar todos os
transgressores dos costumes estabelecidos. Vivemos vigiando uns aos outros e
ameaçando a todo o momento, com difamação e fofoca. E isto nos paralisa
completamente. A grande razão que nós temos para não fazer aquilo que mais
desejamos, bem no fundo é uma coisa só. O que vão pensar os outros? O que vou
dizer aos meus filhos?
Dizendo
de outro modo, tudo começou com essa educação capenga que recebemos dos nossos
pais. Esta educação que foi feita para tudo, menos educar. Na tentativa de
preservar o bom nome da família e a reputação, o indivíduo não faz nada do que
gosta, do que precisa e nem do que devia fazer. Tem coisas que quero, mas não
devo. Tem coisas que devo, mas não posso. Tem coisas que posso, mas não quero.
De modo que, ficamos sufocados sem poder dizer ao outro o que estamos pensando
ou sentindo. O outro nos sufoca sempre que temos vontade de gritar, de rir e de
chorar, contudo, nos reprimimos. Também nos sufoca sempre que temos que dar
explicações. Na verdade, quanto acho que estou falando comigo mesmo, estou
dando satisfação a uma multidão que está internalizada dentro de mim. Estou
explicando para os que me governam, sempre justificando o porque fiz ou deixei
de fazer. Estou nutrindo um sentimento de culpa.
Entretanto,
o outro nos sufoca sempre que temos que disfarçar e aí fico muito vigilante
comigo mesmo e fatalmente paro de respirar. É como se colocasse o outro dentro
de mim. Seria como usar um colete de ferro, não posso respirar livremente.
Tenho que controlar a minha respiração para não chorar, para não gritar e nem extravasar
as minhas emoções. Temos que representar o símbolo do todo poderoso, porque esse
tem o mundo nas mãos, ele domina tudo e controla tudo. Para controlar os outros
precisamos controlar-nos e para isso precisamos conter os nossos próprios
sentimentos. É preciso criar uma jaula duríssima de ferro no peito, para manter
o controle. Não podemos experimentar nossos sentimentos. Logo, não podemos ter
prazer, para não depender dos outros. Contudo, colocamos um enorme cadeado
trancando as relações prazenteiras num porão. Na tentativa de se livrar delas e,
contudo, nos afundamos na angústia. É o momento em que o peito aperta e o coração
dói.
De
modo que, pior que os defeitos do corpo, são os defeitos da alma. É comum ver
pessoas rindo à custa alheia, zombando dos outros, vejo nestas pessoas uma alma
triste, um ego ferido, uma alma cheia de feridas. Numa sociedade enferma como a
nossa, é comum ver gente fingindo-se feliz, fazendo-se engraçado, talvez assim
consiga esconder o que realmente traz no coração. Tal atitude distrai a atenção
dos outros para que não vejam o quanto és triste por dentro. Talvez o seu
travesseiro saiba as lágrimas que choras, a solidão que amarga e a rejeição que
carregas em seu peito. Penso que pior que ser feio, é ser infeliz. Dizendo de
outro modo, todos os pais que olha para um filho, sempre o acha lindo, mas, não
enxerga o quanto ele está infeliz. Não há perspectiva de vida nas suas atitudes.
Falta um sentido existencial. No entanto, somos o que fazemos, mas somos,
principalmente, o que fazemos para mudar o que somos.
O filósofo
alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860), nos apresenta em sua filosofia uma
visão extremamente pessimista da vida. Segundo ele, viver é necessariamente
sofrer, por mais que se tente conferir algum sentido à vida, na verdade, ela
não possui sentido ou finalidade alguma. A própria vontade é um mal. Nós
queremos vencer, desejamos vencer. Mas a vontade gera angústia e a dor e, os
mais tenros momentos de prazer, por mais profícuos que possam vir a ser, são
apenas intervalos frente à infelicidade. A angústia é a sensação psicológica
que se caracteriza pelo sufocamento, pelo peito apertado, falta de humor,
ansiedade, insegurança e com ressentimentos aliados a alguma dor. A palavra
angústia vem do latim “angere” que
significa apertar, afogar e estreitar. Daí “angustus”
que significa estreito, apertado e de curta duração. Sentir-se afogado, sem ar,
apertado, sem saída é muito ruim, contudo, a palavra aponta uma saída: “a angústia dura pouco”. A luz do
filósofo dinamarquês Soren Kierkegaard (1813-1855), traduz o mal estar: “o ser humano sente desamparo, incerteza,
falta de controle diante da liberdade de decidir. Optar por um caminho
significa correr riscos, abrir mão das alternativas. Isso é angustiante”.
Quem nunca se sentiu agoniado diante de uma situação ruim ou de uma escolha
difícil?
O
espírito que nos anima não nos pertence, antes pertencemos a ele. Se ele falhar
por um instante que seja, morreremos instantaneamente. A palavra espírito vem
do latim “spiritus”, que sopra. Já a
palavra alma vem do hebraico “sopro,
hálito”. Isto quer dizer que respiração é sopro ou um espírito que nos
anima. Dizendo de outro modo, o espírito quando não é respiração, é presença
viva, ou seja, é vida. Os ocidentais não dão a devida importância para respiração
como ela de fato merece. Ao contrário dos orientais que levam a respiração
muito a sério. Dizia o mestre Buda que o caminho mais direto, não
necessariamente o mais simples, para encontrar a paz interior ou a iluminação é
estar presente a própria respiração. O conselho é tão simples que até se torna
difícil de levar a sério.
Porém,
a respiração é o nosso automatismo mais antigo. A primeira coisa que a gente
faz ao chegar ao mundo é respirar. É sabido que a ansiedade é a doença do
momento, para não dizer da humanidade. Sendo que a respiração é o único sistema
vegetativo que está sujeito ao controle da vontade. Se nosso corpo está sempre
se preparando para responder aos estresses, ameaças perigos e estamos continuamente
agitados. Sobretudo, a respiração também fica agitada. Se neste momento de
agito, harmonizar a respiração pode atenuar a ansiedade por uma razão muito
simples. A respiração é urgentemente necessária o tempo inteiro, caso contrário
ela piora a agitação mental, que perturba a respiração e comprime o peito
gerando dor. Quando buscamos o equilíbrio através da respiração restituímos a
paz mental. Ninguém morre de maus pensamentos, mas, a respiração pode
comprometer a vida. Controlar a respiração é o primeiro degrau para a paz.
Portanto,
ao estabelecer a consciência vamos descobrir o amor. Vamos aprender que o amor
é a única resposta que devemos dar a vida. Aprender que o amor não é apenas um
sentimento forte, é mais que isso, é uma decisão, um juízo de valor e ao mesmo
tempo uma promessa. Se o amor fosse apenas um sentimento, não haveria base para
a promessa de amar uns aos outros. Somos movimentos, criação contínua,
instabilidade total e incerteza permanente. Estou vivo que maravilha! De onde vem esta grandeza sem par? Pois cada um é único, não existem exemplares.
Somos um construir conjuntos cooperativos cada vez mais complexos, até chegar à
espantosa complexidade que somos nós. Contudo, passamos muito rápido pela vida.
Aprendi com a experiência, que a vida tem que ser vivida em função de alguma
coisa, não contra alguma coisa. Aprendi também, que tudo que se constrói com
amor, não se perde nunca. Qual o caminho para a felicidade? Concluo com uma
frase do mestre hindu Mahatma Gandhi (1869-1948): “não existe um caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho”.
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