Em
meio a tantas mudanças, das novas tecnologias de informáticas e
telecomunicações, o ensino superior enfrenta um grande desafio. As rápidas
transformações do mundo impõem uma nova estrutura educacional e mais empenho
dos governantes e professores comprometidos com o ensino de qualidade, com
novos equipamentos e com remuneração mais compatível. Na verdade, o sistema
universitário brasileiro pouco mudou nos últimos séculos. A começar pela sua
estrutura física, são prédios formatados dentro da concepção de salas reclusas,
períodos semestrais, quatro a seis aulas diárias, a comunicação é unilateral, alunos
displicentes e passivos, currículos estanques, programas idênticos ano após
ano. É um modelo neo-liberal, que na visão da filósofa e educadora Marilene
Chauí (1941), “o neoliberalismo opera no
encolhimento do espaço publico e no alargamento do espaço privado”. Quando
a universidade pública é inserida neste contexto, desaparece o modelo original
de formação e pesquisa e surge uma nova universidade operacional, ou seja,
faculdades de resultados.
De
certo modo, mesmo que os números demonstrem que está havendo crescimento no
ensino superior, o Brasil precisa crescer ainda mais. Estima-se que há apenas
13,5% de estudantes matriculados na universidade pública. Em comparação com a
Argentina que é de 52,7% e a Venezuela que é de 31,6% da população, nós estamos
muito abaixo neste ranking. Nesse sentido, duas característica diferem e
aproximam a universidade publica brasileira de outras situadas na America Latina.
No Brasil há um alto número de matrículas em universidades privadas. No
entanto, grande parte das pesquisas brasileiras e da América Latina ainda
acontecem nas universidades públicas. A Argentina é o único país que possui
três Prêmio Nóbel de ciências, todos ligados a professores e pesquisadores de
instituições públicas. Porém, aqui no Brasil as melhores universidades são as
públicas, que ainda são responsáveis por 95% das pesquisas.
Há
muitas perguntas a serem feitas sebre a nossa educação. De quem é a culpa do
ensino público superior estar caminhando devagar no Brasil? Os estudantes estão
preparados para competir neste mundo cada vez mais desconfortável e exigente? E
a qualidade do ensino? Essas são algumas das perguntas fundamentais e norteadoras
do ensino no Brasil. Pois, nas promessas de campanha, a meta do governo era
justamente colocar a maioria da população na sala de aula e com ensino de
qualidade. Por isso, a formação dos professores tornou-se uma tarefa
prioritária que infelizmente não foi levado a sério. Um mercado que absorve mão
de obra qualificada, a titulação de mestres ou doutores já não é mais
suficiente. O professor não pode parar de estudar e aprender, o aperfeiçoamento
tem que ser permanente.
Cabe
à universidade brasileira, seja particular ou pública, a missão de comandar e
humanizar a modernidade, oferecendo mais cursos de Pós Graduação para mestres e
doutores, fomentando o incentivo a pesquisa nas varias área do conhecimento.
Penso que se a universidade não marchar nesta direção, à modernidade será
imposta de cima para baixo e de fora para dentro, pela via da produção
industrial, do consumo e dos meios de comunicação. De modo que, o papel do
conhecimento e da informação torna-se cada vez mais central e exige uma boa
articulação da educação universitária. Para nós a noção de educação superior
como direito do cidadão e como inclusão social é algo muito recente e temeroso,
porque busca romper com a visão de uma universidade elitista. A finalidade do
exame nacional do ensino médio (ENEM), tem como proposta acabar com a industria
do vestibular. A começar pelos cursinhos.
Por
outro lado, uma universidade sem visão mais ampla, com propostas ultrapassadas,
vai, fatalmente, perdendo a relevância e com certeza chegará o momento de ser “tombada”. No entanto, vejo a
universidade como um centro de produção e transmissão de conhecimento
fundamental, pois, além de fazer cultura e o saber científico, também socializa
o conhecimento e preparar recursos humanos, a universidade tem a função de
discutir e intervir nos rumos do modelo de desenvolvimento econômico, político
e social do país. Ao invés de temer essa função, deve capacitar-se e aproveitar
para participar da definição desse crescimento. Precisa renascer e voltar-se
sobre si mesma, com autocrítica. Caso contrário nunca vamos ter pesquisadores
de renome internacional, dignos de Prêmio Nobel.
Portanto,
é preciso não perder nunca de vista os pilares do ensino, pesquisa, extensão e
o direito inalienável a uma universidade pública, gratuita e de qualidade. Mas
esses antigos propósitos das universidades estão perdendo espaço para as
discussões sobre excelência, eficiência, taxas de retorno, quase de acordo com
receituários econômicos inflexíveis e que estão conduzindo o país para uma
verdadeira armadilha da dependência e do subdesenvolvimento. Nós merecemos um
destino melhor. A produção intelectual e científica é um direito de todos nós
cidadãos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário