A
palavra utopia foi criada pelo diplomata e escritor Thamas Morus (1478-1535),
em 1515 que significa literalmente o lugar nenhum, lugar que não existe, o não
lugar. Em outras palavras, a descrição de lugares imaginários, com suas normas
ideais de funcionamento e de boa convivência, foi usada ao longo dos séculos
para que os pensadores ilustrassem suas teorias sobre como deveria ser a
sociedade perfeita, ou mesmo como uma forma de criticar as sociedades
existentes. O atual vazio de sujeito e a falta de perspectivas para um futuro
imediato têm contribuído para a resignação de muitos à ditadura do presente.
Ora, estaria então, a esperança dos professores, hoje, órfã de utopia? Gosto do
conceito construído pelo educador e filósofo pernambucano Paulo Freire
(1921-1997): “ser utópico não é sair
desenfreadamente em busca daquilo que não pode ser realizado. Ao contrário, é
saber denunciar as injustiças de uma sociedade desumana e, ao mesmo tempo,
anunciar um novo mundo de realizações, de solidariedade e de liberdade para
todos”.
Não
tenho dúvidas de que a escola é o lugar de excelência para que esse princípio
se concretize. E os diretores que cuidam da gestão escolar comprovam isso ao
olhar para cada jovem estudante e para a comunidade escolar com a intenção de
fazê-lo crescer e ao apontar a aprendizagem como uma forma de libertar-se da
violência. Uma parcela significativa de diretores, assim como de professores,
que têm uma visão utópica da educação, da cidade em que vivem e da vida como um
todo. Inventar e construir a própria história e a história desses jovens é a
nossa lição como educadores. Só que a realidade está aí estampada para todos
verem, e o quanto tudo isto é cruel para nós profissionais da educação.
Entretanto, os estudos vêm comprovando que a cada ano através do
Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), que mais de dois milhões de jovens, com
idade entre 15 e 18 anos, que não sabem ler, escrever e muito menos interpretar
o que lê. Consequentemente esse agravante tem como base às leis que asseguram,
através da Constituição Federal, o direito a todos os cidadãos ao estudo, mas
estas leis não são capazes de garantir uma política educacional eficiente com
escola de qualidade para qual o jovem se sinta atraído. Os indicadores são mais
que suficiente para mostrar o descaso pela educação no país. A desvalorização
ética e a falta de respeito para com o professor. Para piorar ainda mais, um
deputado do (PMDB), teve a coragem de criar um projeto de Lei que prevê
mudanças na postura dos professores na rede publica estadual de Alagoas. Veja o
absurdo, esses mestres serão impedidos de dar opinião, mantendo neutralidade
política, ideológica e religiosa na sala de aula. Diz que é necessário para que
o professor não expresse sua opinião dentro da sala de aula e, assim, seja
imparcial. O texto pretende manter a pluralidade de idéias na escola. Está
certo cercear um professor de pensar? Nem o governo e nem a sociedade tratam
com respeito nossos professores.
No entanto, temos acumulado reproduções de modelos, e estas nos
têm afastado, historicamente, da realidade, anulando potencialmente o
desenvolvimento da capacidade de pensar e criar. É importante que os professores
entendam os desafios da educação que não são os mesmos dos governos, que visam
à manutenção do poder. Em vez de ficarem discutindo com a direção da escola
sobre a disciplina dos alunos, os quais pouco se preocupam com os educadores. A
categoria precisa ser mais unida e não participar do intento governamental. Na
verdade, ele espera um professor vacilar para colocar a sociedade contra, como
se a culpa fosse dos professores. Tornou-se comum caso de desrespeito contra o
professor e a educação. Para ilustrar, em Belo Horizonte, um estudante sem
razão nenhuma, processou a escola e o professor porque tirou notas baixas,
alegando danos morais. Segundo o aluno, passou a noite estudando, portanto, não
achou correto o professor ter dado uma nota baixa. Em nenhum momento
questionou-se o conhecimento desse aluno. Parece haver uma inversão de valores.
Uma lógica perversa por trás dessa violência e desrespeito que vem assolando os
profissionais da educação.
Na verdade, os professores precisam compreender e romper com essa
falsa lógica. Rejeitar a cultura da descrença e construí-la dentro de si, como
ação política, de crença e esperança. Perceber que o pensamento cada vez mais
está sendo dispensado pelos governantes e pela classe dominante, para não serem
incomodados. O maior exemplo desse descaso é a política vigente do nosso
sistema educacional brasileiro. Descrevo isto com dor no coração. O professor
que pensa, questiona e põem em dúvida algumas regras pré-estabelecidas, optando
pela busca do conhecimento através da pesquisa. Torna-se, portanto, um sujeito
consciente, muito perigoso para aqueles que detêm o poder. Discute-se com certa
frequência a respeito de um projeto pedagógico. Que possa atender os anseios
dos jovens. Há aqueles os quais defendem o aluno, outros defendem o professor.
Ainda existem aqueles favoráveis ao conteúdo que aí está. Acredita-se que no
centro do processo educativo esteja um “projeto
social”. A sociedade brasileira nesse sentido torna-se democrática e
cidadã, fundamentada na igualdade entre os indivíduos e no respeito. Conforme o
filósofo francês, Jean Jacques Rousseau (1712-1778), analisou as razões das
desigualdades sociais. Segundo ele, o ser humano é naturalmente bom, mas a
sociedade o corrompe gerando a desigualdade, escravidão e a tirania.
De modo que, o Ministério da Educação tem quase que
exclusivamente, uma obrigação com a instrução e muito pouco de formação integral,
ou seja, formar homem na sua totalidade. O discurso do governo é utópico e
ideológico. Ele só interessa pela instrução técnica para o crescimento
econômico de uma minoria. Pregam uma moral falsa e utópica. No entanto, não se
observa avanço na educação, porque não há interesse em bons projetos educacionais.
Segundo o filósofo e educador Humberto Rohden (1893-1981), argumenta no seu
livro: “Educação do Homem Integral”,
que instrução torna o homem erudito, meio que robotizado, só serve para si
mesmo. A moralização torna o ser humano altruísta. A erudição e o altruísmo não
são ensino verdadeiro, pois, não passam de condicionamento psíquico. Diz
Rohden: “basta que haja, na alma de um
indivíduo, uma fonte de alta voltagem para que outros seres humanos receptivos
sejam por ela beneficiados”.
Portanto, o altruísmo é uma forma de egoísmo sublimado, aquele que
espera recompensa após a morte. A erudição torna o homem técnico e conteudista.
O homem realmente educado é bom, ele não espera recompensa por ser bom, nem no
presente e mesmo após a morte. Contudo, essa resignação crônica que vive o
professorado, os políticos tiveram culpa e continua sendo culpados por omissão.
Limitaram-se aos fatos, não se interessaram pelos valores. Onde os estudos
revelam sem valores, não há educação integral. E quais são esses valores?
Verdade, justiça, amor, respeito e honestidade, que para muitos, são valores
inalienáveis. É a formação da consciência crítica e não uma simples descoberta
científica, nem altruísmo moral que faz a diferença na nossa vida. Foi Albert
Einstein que disse: “o homem de ciência,
descobre os fatos da natureza, mas o homem de consciência realiza valores
dentro de si mesmo”.
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