Em
quase vinte anos de magistério na escola pública do Estado de São Paulo venho
assistindo a cada ano a degradação da mesma. A educação pública e seus
professores vêm sendo tratados com indiferença pelo governo estadual e pela
sociedade em geral. Indiferença que se traduz em menosprezo, chacota que é
assimilado pelo professor na forma de autodesprezo e vergonha. De modo que, na
medida em que a situação vai se agravando ano após ano, esse profissional do
magistério passa a interiorizar a depreciação do Estado e da sociedade.
Sente-se hostilizado ao perceber que sua categoria é desvalorizada. Para
sobreviver cria uma couraça muscular e bota um ar de intelectual e começa então
a fazer a política que o governo aprova. Tanto professores como alunos fazem o
jogo que o governo quer. Afinal, como se explica essa degradação da educação
pública?
Quando
olhamos para trás percebemos que a educação brasileira começou com doutrinação
trazida pelos jesuítas, quando chagaram aqui no Brasil. Ainda não havia uma
educação estruturada, como eles eram cultos cuidaram prontamente da educação a
começar pelos índios. Por conseguinte, esse modelo de educação doutrinária
começa em 1549, que se arrastou por mais de 200 anos. Com pouquíssimo acesso da
classe trabalhadora até ao final do século XIX com índices na educação muito
baixos. Vale lembrar, que até o século XIX era proibido publicar livro no
Brasil, sem o aval da igreja e o carimbo do governo. Precisava de uma
autorização das duas instituições. No entanto, a primeira universidade criada
no Brasil foi em 1920. Sendo que a Argentina criou sua primeira universidade em
1613. Ora, de onde vem esse medo dos governantes ao contrapor a educação?
No
entanto, no século XX começa uma pequena mudança. Foi na década de trinta que
uma grande geração de educadores como: Anísio Teixeira (1900-1971), Fernando de
Azevedo (1894-1974), Lourenço Filho (1897-1970), Almeida Júnior (1850-1899),
entre outros, lideram o movimento da Escola Nova, que contou com o apoio de
muitos intelectuais, entre eles Cecília Meireles (1901-1964). Divulgaram o
Manifesto dos Pioneiros em 1932, documento histórico que sintetizou os pontos
centrais desse movimento de ideias, redefinindo o papel do Estado em matéria
educacional. Continuou com Paulo Freire (1921-1997), Darci Ribeiro (1922-1997)
e tantos outros grandes educadores. É neste momento que nasce um movimento com
a finalidade de estruturar a educação. Agora precisamos de uma escola que seja
voltada para a vida, onde o ser humano seja o centro desse projeto. De modo
que, na década de trinta até a década de cinquenta nós tivemos um movimento
muito interessante para a estrutura da educação.
Entretanto,
nos anos cinquenta o Brasil sentia que precisava se industrializar. Agora o
papel da educação muda, e é preciso formar mão de obra qualificada para o novo
mercado. Neste momento surge uma nova escola que na visão da filósofa e
educadora Viviane Mose (1964), funciona como uma linha de montagem, onde se
coloca um ser humano e finalmente sai uma pessoa triturada, pronta para
participar do movimento produtivo brasileiro. São pessoas fragmentadas em todos
os sentidos, como alguém que passou por um moedor. Todavia, a educação sempre
esteve voltada para a economia e nunca para formar cidadãos conscientes. Não
bastando, vem junto o regime militar que tira a filosofia e a sociologia da
grade curricular das escolas. Esse regime vem para contrapor a inteligência
brasileira que queria uma mudança estrutural na educação. Os militares atacavam
diretamente a inteligência de quem pensava, como os professores, poetas,
escritores e outros intelectuais. Talvez seja essa a maior ferida que sofremos
até hoje na educação.
Portanto,
o povo brasileiro hoje tem pavor de pensar, porque na época pensar significava
ser fichado no DOPS (Departamento de Ordem e Política Social), ser preso e
torturado, ser exilado como muitos intelectuais foram. Durante vinte anos foi
proibido pensar não somente nas escolas e universidades, mas na sociedade
brasileira. Depois do regime militar, agora com a abertura, surge à escola como
um lugar de disciplinas. O grande problema das escolas hoje é o modelo
pedagógico que aí está. Porque incentiva a passividade e a repetição ideológica.
Com isso exclui a inovação, a criatividade e a ação do aluno em seu meio. Contudo,
é notório que a escola pública tornou-se um exemplo clássico de descaso
político, recheado por interesses de poucos e com uma consequente mediocridade.
A informação íntegra do jovem é desvalorizada para que, cada vez mais, o
cidadão perca o senso crítico, indispensável para a transformação e
reconstrução da sociedade que tem como característica a boa formação do homem
na sua totalidade.
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