Por
que o Brasil ainda é um país cuja grande maioria pode ser enquadrada em algum
tipo de analfabetismo? A quantidade quase infindável de questões sobre isso
demonstra a complexidade desse problema brasileiro. De uma maneira geral,
podemos dizer que é um dos sustentáculos da “cultura da exclusão” que vem sendo forjada desde a nossa colônia
escravista. Seus pilares estão fincados nas raízes do Brasil sobre as quais o
célebre historiador e crítico literário Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982)
nos ensinou. Foi produzido pelos “donos
do poder”, como aprendemos com o jurista, sociólogo e escritor Raimundo
Faoro (1925-2003). É consequente do “pratriarcalismo”
e do “mandonismo” ainda presentes nos
ossos expostos da nossa fratura social, estudados pelo sociólogo Simon
Schwartzman (1939). Estou citando esses três grandes pesquisadores para
fundamentar tudo que vou dizer nesta reflexão.
Assim
uma primeira aproximação ao problema nos remete à constatação de que este é um
fracasso provocado socialmente e não pode ser entendido como fato natural ou,
ainda, como uma doença. Muito menos creditado às suas vítimas: os analfabetos,
absolutos, funcionais, digitais, políticos ou, numa só palavra, analfabetos
sociais. Conseguiremos chegar mais perto dos principais responsáveis quando
respondermos as questões fundamentais: quem ganha com essa situação? Quem
consegue dividendo e vantagens? A quem não interessa resolver tal problema?
Será que os políticos profissionais, por exemplo, gostariam que as suas zonas
de atuação, não raramente verdadeiros “currais
eleitorais”, estivessem livres dos analfabetismos? Quais são as
consequências políticas e sociais para as tantas microrregiões brasileiras? As
respostas parecem óbvias o suficiente para não precisarem de maior
esclarecimento.
Certamente,
as novas descobertas da linguística, do letramento, da cibernética hão de
contribuir de modo importante para as soluções do problema. Mas, como nos
ensinou o filósofo e educador Paulo Freire (1921-1997), a alfabetização e a
escolarização não são práticas neutras, não se alimentam exclusivamente das
técnicas, por melhor que sejam. Para o educador e pesquisador do CNPq Afonso
Celso Scocuglia, esses problemas são de ordem estruturais, históricos, marcados
pela exclusão continuada e agora estendida até para os que frequentam
regularmente a escola desqualificada. Temos vários exemplos para demonstrar o
descaso na educação, principalmente no ensino público. Hoje vejo a escola
pública como um arquivo morto.
Por
conseguinte, se a história brasileira não registrou a solução da problemática
dos analfabetismos, já que os agravantes atuais são evidentes, pelo menos nos
fez aprender que as tentativas de soluções avançam nos momentos em que a
sociedade civil se conscientizar e se organizar para pressionar o estado
brasileiro e seus dirigentes para assumirem as suas responsabilidades
intransferíveis. Enfim, parece que esse é o único caminho a ser concretizado.
Fora isso só mesmo denunciar ao Ministério Publico essa lambança do governo,
principalmente no estado de São Paulo.
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