A
filosofia sempre esteve ligada ao momento em que o homem começou a fazer
perguntas sobre sua existência. Ela nasceu como uma atividade de esclarecimento
e de autonomia de pensamento, pensar por si, conhecer a verdade do mundo,
exercitar a linguagem autêntica para firmar alianças de tolerâncias e
proposições de reconhecimento de igualdades. É importante que entendamos o
significado da própria palavra filosofia, pois ela é utilizada de formas muito
diferentes. Algumas vezes o termo é usado como “filosofia de vida”, para explicar como uma pessoa conduz sua vida. Também
vemos a palavra relacionada ao trabalho, significando como a pessoa ou um grupo
organiza o tempo, as decisões e o dia a dia de sua profissão. Há ainda a
concepção de “filosofia religiosa”,
dentre outros usos. De modo que a filosofia se relaciona à premissa de se
constituir num saber, num modo de realizar alguma coisa, por assim dizer, o
pensamento que organiza e da direção a essas atividades.
Temos
também a filosofia que se aprende nas escolas, que faz parte do currículo
escolar. Esta traz consigo um pressuposto de se reconhecer como um conhecimento
que envolve a história da cultura, o que pensaram os filósofos em determinadas
épocas e em que sentido tais ensinamentos podem nos auxiliar a pensar a vida de
hoje, através do debate sobre a ética, a moral, os valores primordiais que
trazemos na nossa matriz, ou formando grupos de estudos de filosofia como fizeram
em Botucatu SP, reunindo-se uma vez por semana, sob a coordenação da filósofa e
educadora Solange Frigato. Uma verdadeira bandeirante da filosofia.
Desse
modo, a filosofia pode ser compreendida com um saber que tem por interesse a
formação da inteligência crítica das pessoas. Na história podemos buscar
informações sobre sua trajetória. Nessa época a filosofia significava um modo
de entender o mundo, diferente do que até então predominava, o pensamento
mítico, fantasioso. A pergunta sobre o que é e para que serve a filosofia. É
uma das grandes questões que a acompanham, desde o seu surgimento até nossos
dias. Houve tempos em que a filosofia apareceu como oposição à ciência, diante
do entendimento de que esta sempre se ocupava de questões práticas e a primeira
seria o exercício livre do pensamento.
Sabemos
que a filosofia surgiu na Grécia Antiga, sua história já contém uma caminhada
que vai modificando o conceito de reflexão de um pequeno grupo para o estimulo
do pensamento crítico e autônomo para o maior número de pessoas, até ocupar a
escola, como um conteúdo de nossa formação. Todavia, pensar filosoficamente é a
grande intenção desse jeito de conhecer e saber, fazer com que a busca das
verdades de cada situação nos auxilie a melhor entender o mundo, as pessoas e a
realidade. A filosofia então tem o sentido de nos fazer pensar com nossas
próprias ideias, buscando a autonomia, sem nos deixar conduzir por outras
pessoas, outros saberes ou poderes; e nos dias de hoje, pelas agências de
alienação e engodo coletivo, como a identidade dominante na mídia ou qualquer
coisa que conduza o nosso pensamento, assim como as redes virtuais na internet.
Entretanto,
é por isso que a filosofia nem sempre teve uma boa aceitação no país ou entre
algumas pessoas mais conservadoras. Como argumenta o filósofo e educador Cesar
Nunes (UNICAMP): “o compromisso da
filosofia em estimular o pensamento crítico e dar a oportunidade de que cada um
tire suas próprias conclusões sobre as situações de sua vida, da política, da
sociedade, sobre as outras pessoas, pode incomodar àqueles que não têm
interesse em deixar o pensamento livre e crítico ganhar espaços em nossa
sociedade”. Tendo em vista, que a ideia mais importante é que todos possam
exercitar essa forma de pensamento, para descobrir o que há por trás do que nos
é repassado pelos meios de comunicação, pelo conhecimento que aprendemos como o
único válido e que comecemos a questionar as formas de viver e pensar,
buscando, o grande interesse da filosofia: uma vida melhor, em que os seres
humanos possam sonhar e usufruir da felicidade.
Portanto,
uma vida feliz se constrói com a vivência da igualdade, do pensamento livre, da
criatividade, do diálogo, no combate às situações de desigualdade, pelo
respeito ao próximo, ao meio ambiente, em particular aos direitos conquistados
por crianças, jovens, adultos, mulheres, pessoas com deficiências, idosos,
negros, índios e marginalizados. Exercitar o pensamento de cada um por si mesmo
é um dos principais compromissos daqueles que têm como interesse a vida plena,
a justiça e a felicidade como valores fundamentais do que chamamos de
emancipação humana.
Belo e verdadeiro texto, Eduardo. Grata por reconhecer meu trabalho junto ao CCB - não sei se posso sustentar o rótulo de "filósofa" mas o de "educadora" talvez sim.
ResponderExcluirAcredito que a última frase de sua crônica justifica o nosso insistente bandeirantismo, já que o pensamento próprio, como dizia Platão, "só nasce do espanto". É somente quando nos chocamos com a contradição que exprimimos algo autêntico. Daí pode nascer um valor, um real compromisso com o que você chamou: "emancipação humana".