A filosofia sempre esteve
presente no momento histórico em que os homens e mulheres começaram a fazer
perguntas sobre a sua existência. A filosofia nasceu como uma atividade de
esclarecimento e de autonomia de pensar por si, conhecer a verdade do mundo,
exercitar a linguagem autêntica para firmar alianças de tolerâncias e
proposições de reconhecimento de igualdades. É importante que entendamos o
significado da própria palavra filosofia, pois ela é utilizada de formas muito
diferentes. Algumas vezes o termo é usado como “filosofia de vida”, para explicar como uma pessoa conduz a sua
vida. Também vemos a palavra relacionada ao trabalho, significando como a
pessoa ou um grupo organiza o tempo, as decisões e o dia a dia de sua
profissão.
Há ainda a concepção de “filosofia religiosa”, dentre outros
usos. Aproveito aqui para uma explicação a parte, sobre o filósofo acreditar ou
não na existência de Deus. A filosofia tem uma coisa que a religião não tem que
é a necessidade de certo “ateísmo
metodológico”, o que isto quer dizer? O filósofo tem que ser alguém que não
pode ter crenças dentro da pesquisa filosófica, ainda que se tratasse de Deus,
porque para a filosofia Deus não é “impossível”
ele é “improvável”. Improvável
significa que não posso provar e nem negar a existência de Deus. Porque Deus
não é impossível para o filósofo afirmar a sua não existência. Para
isto, o filósofo teria que provar que Deus não existe. Como negar o que não
posso provar? De todos esses modos, a filosofia se relaciona com a premissa de
se constituir num saber, num modo de realizar alguma coisa, por assim dizer, o
pensamento que organiza e que da direção a essas atividades.
No entanto, temos também a
filosofia que se aprende nas escolas, que faz parte do currículo escolar. Aqui
já traz consigo um pressuposto de se reconhecer como um conhecimento que
envolve a história da cultura, o que pensaram os filósofos em determinados
contextos e em que sentido tais ensinamentos podem nos auxiliar a pensar a vida
de hoje, através do debate sobre a ética, a moral, os valores etc. Desse modo,
a filosofia pode ser compreendida como um saber que tem por interesse a
formação da inteligência crítica das pessoas. Na história podemos buscar
informações sobre sua trajetória, constatando que de início era compreendida
como um conhecimento específico, no qual só os mais aptos, “os filósofos”, poderiam opinar e
entender. Nessa época a filosofia significava um modo de entender o mundo,
diferente do que até então predominava, o pensamento mítico, fantasioso.
A pergunta sobre o que é e
para que serve a filosofia é uma das grandes questões que acompanham, desde o
surgimento e até a atualidade. Houve um tempo em que a filosofia apareceu como
oposição à ciência, diante do entendimento de que esta sempre se ocupava de
questões práticas e a primeira seria o exercício livre do pensamento. Sabemos
que a filosofia surgiu na Grécia Antiga, sua história já contém uma longa
caminhada que vai modificando o conceito de reflexão de um pequeno grupo para o
estímulo do pensamento crítico e autônomo para o maior número de pessoas, até
ocupar as escolas, como um conteúdo de nossa formação.
Entretanto, pensar filosoficamente
é a grande intenção desse jeito de conhecer e saber, fazer com que a busca das
verdades de cada situação nos auxilie a melhor entender o mundo, as pessoas, a
realidade. A filosofia então tem o sentido de nos fazer pensar com nossas
próprias ideias, buscando a autonomia, sem nos deixar conduzir por outras
pessoas, outros saberes ou poderes; e nos dias de hoje, pelas agências de
alienação e engodo coletivo, como a identidade dominante da mídia ou qualquer
coisa que conduza o nosso pensamento. É por isso que a filosofia nem sempre
teve uma boa aceitação no país ou entre algumas pessoas mais conservadoras. Seu
compromisso em estimular o pensamento crítico e dar a oportunidade de que cada
um tire suas próprias conclusões sobre as situações de sua vida, da política,
da sociedade, sobre as outras pessoas, pode incomodar aqueles que não têm
interesse em deixar o pensamento livre e crítico ganhar espaços em nossa
sociedade.
Penso que para viver melhor,
a ideia mais importante é que todos possam exercitar essa forma de pensamento,
para descobrir o que há por trás do que nos é repassado pelos meios de comunicação,
pelo conhecimento que aprendemos como o único válido e que comecemos a
questionar as formas de viver e pensar, buscando, o grande interesse da
filosofia: uma vida melhor, em que os seres humanos possam sonhar e usufruir da
felicidade.
Portanto, uma vida feliz se
constrói com a vivência da igualdade, do pensamento livre, da criatividade, do
diálogo, no combate às situações de desigualdade, pelo respeito ao ambiente,
aos direitos conquistados por crianças, jovens, adultos, mulheres, pessoas com
deficiências, negros, índios e marginalizados. Exercitar o pensamento de cada
um por si mesmo é um dos principais compromissos daqueles que têm como
interesse a vida plena, a justiça e a felicidade como valores fundamentais do
que chamamos de emancipação humana.
Fonte: Mario Sérgio Cortella... ;)
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