Falar
de violência contra crianças e adolescentes não é tarefa fácil. Esse tipo de
violência traz questões sociais e culturais muito fortes, como a utilização do
castigo como instrumento pedagógico, da hierarquia familiar de dominação do
mais forte. As agressões ocorrem na intimidade das residências da família,
sendo difícil de detectá-las, pois apesar dos laços familiares poderem envolver
relações de violência, também, contêm relações de carinho, amor e dependência.
São certamente, situações extremamente delicadas, devendo ser enfrentadas com
sensibilidade e seriedade.
A
escola oferece um ambiente propício para a avaliação emocional das crianças e
adolescentes por ser um espaço social relativamente fechado, intermediário
entre a “família e a sociedade”. É na
escola que a desempenho dos alunos pode ser avaliada e onde eles podem ser
comparados estatisticamente com seus pares, com seu grupo etário e social. Dentro
da sala de aula há situações psíquicas significativas, nas quais os educadores
podem atuar tanto beneficamente como negativamente. O aluno pode trazer consigo
um conjunto de situações endógenas ou exógenas para escola e apresentar as
consequências emocionais de sua vivência social e familiar. Como muito bem
disse o psiquiatra e educador Içami Tiba: “nós
nascemos duas vezes, sendo que no primeiro nascimento trazemos as cargas
hereditárias genéticas chamadas cromossomos. E no segundo nascimento trazemos
as cargas hereditárias familiares chamadas como somos”.
De
modo geral, há momentos mais estressantes na vida de qualquer criança, que
reagem diferentemente diante das adversidades e necessidades adaptativas, são
diferentes na maneira de lidar com as tensões da vida. É exatamente nessas fases
de provação afetiva e emocional que vêm à tona as características da
personalidade de cada um, as fragilidades e dificuldades adaptativas. Segundo
afirmam os especialistas que as brincadeiras de crianças de quatro a sete anos,
vítimas de violência física ou psicológica, revelam traumas deixados por essas
agressões e pela falta de carinho dos pais.
O
comportamento agressivo ou violento nas escolas é hoje o fenômeno social mais
complexo e difícil de compreender, por afetar a sociedade como um todo, atingindo
diretamente as crianças de todas as idades, em todas as escolas do país, nós
sabemos que é um fenômeno resultante de inúmeros fatores externos como internos
à escola, caracterizados pelos tipos de interações sociais, familiares e
sócio-educacionais. A violência e agressividade entre os alunos, como afirma a
educadora e pesquisadora Cléo Fante, pode ser desencadeada de forma repetida
contra uma mesma vítima ao longo do tempo e dentro de um desequilíbrio de
poder, conhecido como “bullying”, e é
um fato que dificilmente pode passar despercebido a um profissional da
educação, por tratar-se de um fenômeno social de grande relevância, que
sutilmente vem se disseminando entre os alunos, de forma quase epidêmica.
A
palavra bullying é derivada do verbo
“inglês bully”, que significa usar a
superioridade física para intimidar alguém, referindo-se ao adjetivo valentão,
tirano. A terminologia bullying tem sido adotada em vários países como
designação para explicar todo tipo de comportamento agressivo, cruel, intencional
e repetitivo inerente às relações interpessoais. As vítimas são os indivíduos
considerados mais fracos e frágeis dessa relação, transformados em objeto de
diversão e prazer por meio de brincadeiras
maldosas e intimidadoras. Estudos indicam que as simples “brincadeiras de mau-gosto” de
antigamente, hoje denominadas bullying. Causam desde simples problemas de
aprendizagem até sérios transtornos de comportamento, responsáveis por índices
de suicídios e homicídios entre estudantes.
Segundo
a psicopedagoga e coordenadora na rede pública, professora Geane de Jesus Silva
afirma que: “a maioria das vítimas não
tem coragem suficiente para denunciar, por medo de uma possível represália.
Isso contribui com o desconhecimento e a indiferença sobre o assunto por parte
dos profissionais ligados à educação”. Como argumenta o psiquiatra
especialista em criança e adolescente David Léo Levisky no seu livro: Adolescência
e Violência – Consequência da Realidade Brasileira: “quando a violência é banalizada ou não é identificada como sintoma de
patologia social, corre-se o risco de transformá-la num valor cultural que pode
ser assimilado pela criança e pelo jovem como forma de ser, um modo de auto-afirmação”.
Portanto,
é nos primeiros anos escolares que podem surgir os traumas que se originam na
violência sofrida tanto em casa como na escola. A educadora e pesquisadora Cléo
Fante enfatiza a necessidade de
resgatar a saúde emocional da criança o mais cedo possível. Faz parte do seu
projeto “Educar para a Paz”, já aplicado em algumas escolas e altamente
recomendado em razão dos excelentes e animadores resultados. Ao que tudo
indica, parece que existe um sentimento de conformismo que é, de não levar a
sério as leis em defesa da criança e do adolescente. E quando a violência
infantil é denunciada, quase sempre há uma morosidade em fazer cumpri-las.
Demonstrando um descaso por parte das autoridades que acabam subestimando
aqueles que realmente querem acreditar na justiça.
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