É comum nós teorizarmos
sobre a felicidade que o amor nos trará. A maioria faz da busca pelo amor a
meta de sua vida. Não é por acaso que se trata de um sentimento tão
avassalador, capaz de tomar conta de nossa vida e de todos os momentos de nosso
dia. Como argumenta o filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860), que não
devemos nos culpar tanto pelo estado de desespero e obsessão em que entramos se
o amor fracassa. Ficar surpreso com a dor da rejeição é ignorar o quanto de
entrega a aceitação exigiria. No entanto, misteriosa é a travessia do coração
de um homem e respectivamente do coração de uma mulher que se encontram e
declaram seus mútuos afetos. Somos carimbados, marcados e flechados pelo
cupido. Há um querer demorar e até eternizar no outro, pelo amor, pelo apreço
desta companhia e pela valorização de uma vida de luta e esperança neste amor. Quando
encontramos uma pessoa, pela qual nos apaixonamos, prontamente dizemos: “eu te amo, mas, não é porque és bela e sim
és bela porque te amo”.
Entretanto, é neste vai e
vem que nasce o estado mais gostoso da vida a dois. As pessoas se encontram
inevitavelmente expostas para este evento imponderável, que é o estado amoroso.
Mesmo no coração da atual crise social não podemos esquecer-nos que da ternura
nasce o amor. A nossa própria existência não é fixada, vivemos em permanente
dialogação com o meio. E nessa troca não deixa ninguém imune. Não raro o êxtase
é seguido de decepção. Há voltas, perdões, renovação de promessas e
reconciliações. Sempre sobram, no entanto, feridas que mesmo cicatrizadas, nos lembram
que um dia sangraram.
O amor é uma chama viva que
arde, mas que pode estar prestes a extinguir-se e lentamente se cobrir de
cinzas e até se apagar. A indiferença é o maior veneno para o amor. Não é
porque as pessoas se odeiam que esta chama se apaga. Quando as pessoas ficam
indiferentes umas às outras, é que acontece a morte do amor. No verso 11 do
Cântico Espiritual do místico São João da Cruz (1542-1591), que são versos de
amor entre a alma e Deus, diz ele com fina observação: “a doença de amor não se cura sem a presença e a figura”. Por
conseguinte, não basta o amor platônico ou o amor virtual. O amor exige a
existência e a presença do outro. O amor quer a figura concreta que é mais que
uma simples imaginação sutil de um poeta trovador. O amor quer sentir o
palpitar dos corações dos amantes.
Como argumenta o filósofo e
teólogo São João da Cruz: “o amor é uma
doença que, nas minhas palavras, só se cura com aquilo que chamaria de ternura
essencial”. Reiterando as palavras do místico poeta, vou um pouco mais
além, citando outro grande filósofo e teólogo Leonardo Boff (1938): “a ternura é a seiva do amor”. Penso que
se cada um quiser guardar, fortalecer, dar sustentabilidade ao amor, que seja
terno para com quem se ama. Sem o azeite da ternura não se alimenta a chama
sagrada do amor, certamente ela se apagará. Lembrando que ternura não é
simplesmente uma emoção, excitação de sentimento face ao outro. Porém, se assim
fosse seria sentimentalismo que é um produto da subjetividade mal integrada. O
sujeito que se dobra sobre si mesmo e celebra as suas sensações que o outro
provocou nele. Nunca sairá de sim mesmo, ao contrário, a ternura irrompe quando
a pessoa se descentra de si mesma e sai na direção do outro, sente o outro como
sendo parte da sua essência, participa de sua existência, se deixa tocar pela
sua história de vida.
A ternura não é efeminação e
renúncia de rigor. É um afeto que à sua maneira nos abre ao conhecimento do
outro. Segundo o Papa Francisco (1936), falando para os bispos latinos americanos
presentes, quando ele esteve no Rio de Janeiro, cobrou-lhes “a revolução da
ternura” como condição para um encontro fraterno e verdadeiro. Só conhecemos
bem o outro quando nutrimos afeto e nos envolvemos com essa pessoa que queremos
estabelecer laços de comunhão amorosos. É aqui que a ternura pode e deve
conviver com o extremo empenho por essa causa.
Portanto, a relação de
ternura não envolve angústia porque é livre de busca de vantagens e de
dominação. O nascer do amor se da pela própria força do coração. É o desejo
mais profundo de compartilhar carinhos. A angústia do outro é minha angústia,
seu sucesso é o meu sucesso e sua salvação é a minha salvação. O amor e a vida
são frágeis. Sua força invencível vem da ternura com a qual os cercamos e
sempre os alimentamos. Encerro esta reflexão citando um grande bandeirante do
amor, o educador e escritor ítalo-americano Leo Buscaglia (1924-1998). Ele foi
idealizador de um curso sobre amor na Universidade da Califórnia nos Estados
Unidos. Publicou um livro com o título “Amor”.
Faleceu no dia dos namorados, 12 de junho de 1998 e nos deixou a seguinte
mensagem: “O amor tem os braços abertos. Se
você fechar os braços ao amor, verá que está apenas abraçando a si mesmo.
Quando você ama uma pessoa, se transforma no espelho dela e ela no seu. O amor
verdadeiro só cria, nunca destrói”. Toque sempre o coração e alma de quem
você ama. “Feliz dia dos namorados”.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir