O assunto que trago para a
nossa reflexão, tem tudo a ver com a realidade em que estamos vivendo neste
momento conturbado que atravessa a nossa sociedade. A atual ânsia de visibilidade
das pessoas, de ver e ser visto, tanto no mundo real como no mundo virtual, faz
com que elas se anulem na sua essência. Seria uma questão de vaidade? Caso
seja, será que a vaidade mudou de status? Antes condenada hoje se tornou um
valor? Foram os meios eletrônicos que fizeram essa ânsia de visibilidade ou
eles são apenas consequência? O que aconteceu com a vaidade humana, aumentou ou
diminuiu?
Acontece que a questão da
vaidade é um assunto pouco discutido no nosso meio filosófico. Este tema é
levantado desde os primeiros filósofos. Por volta dos séculos IV e III antes de
Cristo, nós temos uma reflexão filosófica que se alonga até o século XIX.
Depois disso esse assunto foi renegado ao terceiro e até ao ultimo plano na
filosofia. A filosofia recente discute muito pouco a vaidade, mal se vê. De
modo geral as ciências humanas não discute sobre a vaidade. A “vangloria” que seria a gloria justa e
verdadeira do que nós efetivamente somos. Mas, não é desta gloria que vamos
falar aqui e sim da “gloria vã”, que é
a gloria de quem imagina ser muito mais do que realmente é. É por esse viés que
quero conduzir a nossa reflexão.
Há um ponto comum nestes
dois mil anos de reflexão sobre a vaidade. Primeiro ela é falsa e segundo ela
induz as pessoas ao erro. Segundo o filósofo e educador Renato Janine Ribeiro
(1949), cita uma música americana dos anos setenta: “you’re so vain”, que diz: “você
é tão vaidoso que provavelmente pensa que esta canção é sobre você”. Que
vira uma coisa totalmente contraditório. A pessoa é tão vaidosa que se
identifica como a tal. A gente vê muito isso, nos meios de comunicação e nas
redes sociais. Como argumenta o filósofo e escritor francês Michel de Montaigne
(1533-1592): “Seja o que for, artifício ou natureza, isso que nos imprime a
condição de viver da comparação com o outro, faz-nos muito mais mal que bem.
Privamo-nos daquilo que nos é útil para atender as aparências e a opinião dos
outros. Não nos importa tanto saber o que é nosso ser em si e em efeito quanto
saber o que é ele para o conhecimento publico. As próprias riqueza do espírito
e a sabedoria nos parecerão infrutíferas se só forem desfrutadas por nós, se
não forem produzidas para a vista e a aprovação alheia”.
Na verdade, o vaidoso é
manipulável. Sobretudo, graças às redes sociais, só para citar uma dessas redes
atuais, o facebook. Por exemplo: o que há de pessoas escrevendo e postando besteiras
no facebook e ficam envaidecidas por isso. A gente vê diariamente o quanto
existe de imbecilidade nestas postagens e o pior de tudo, elas ficam
satisfeitas consigo mesmas. Como diz na Bíblia, mais precisamente no Velho
Testamento no século III antes de Cristo, em Eclesiastes: “Vaidade das
vaidades, tudo é vaidade”. E na psicanálise não existe a palavra vaidade.
Construiu-se uma teoria psicológica desprezando e desconsiderando a vaidade e
mudou o nome para narcisismo que seria um termo que subentende amor por si
mesmo. Uma expressão dúbia, porque amor não é obrigatoriamente igual à vaidade.
Além de que, não existe amor por si mesmo, o que existe é esse autoerotismo,
esse prazer de se destacar e chamar a atenção, de atrair olhares. É próprio da
natureza humana.
Entretanto, nunca teve tão
exaltado esse exibicionismo, por isso que as pessoas evitam falar sobre o
assunto, tudo gravita em torno disso. Um exibicionismo sem fundamento, sem o
menor sentido, porque o prazer erótico de exibir e de se destacar ele, evidentemente,
pode se dar de duas maneiras diferentes. No primeiro caso, o individuo buscar
um destaque por um conceito legitimo cujo ele envaidece meritoriamente, pela
aparência. Por exemplo: as celebridades que estão em evidência na mídia. E no
segundo caso, o facebook que pode fazer e faz um pouco isso, ajudando os
vaidosos a se destacar. Esse exibicionismo que se manifesta muito intensamente,
principalmente na questão erótica, a partir dos anos setenta até hoje.
Atualmente exibir o físico masculino e feminino ficou muito exaltado e
exagerado ao mesmo tempo, chocando um pouco e impactando os olhares. Provocando
tensões, ciúmes, inveja e rivalidade perante a sociedade.
Por conseguinte, o mundo não
melhorou com esse exibicionismo todo, ao contrário, a qualidade das relações
humanas vem se complicando cada vez mais. Certamente por conta dessa onda de
liberação da sexualidade, liberou também e muito a vaidade que é um componente
erótico. Que sempre foi tratado com certo pudor, agindo com repressão e
comedimento sobre o componente sexual. Hoje não pensa mais, como sonhou a
juventude nos anos sessenta, ter um mundo de paz, amor e harmonia entre os
homens de boa vontade. Hoje vivemos um mundo de vaidade e muita rivalidade.
Contudo, as pessoas exibem tanto no facebook que é uma fonte nova de geração de
inveja para muitos. “Olha eu aqui, na
praia tal, na ilha tal”, por acaso aquele que não está na ilha, está na
rede morrendo de inveja do vaidoso. É uma espécie de revista de variedades
privadas. No entando, estamos todos contaminados pela vaidade virtual. A
tecnologia já tem um modelo pronto de usuário que na verdade, é um modelo
imbícil que consome todos os dias e não presta a atenção o quanto são idiotas.
Esta palavra que vem do grego “idiótes”
ou “idhiótis”, que traduzida
etimologicamente para o português quer dizer “idiota”. Ou seja, pessoa fechada em si mesma, limitada, que não
participa da vida em sociedade.
Portanto, a vaidade tem tudo
a ver com a necessidade de satisfação pessoal que depende da aprovação e da
estrema admiração dos outros. É um sinal de que as pessoas gostam da sensação
de ter alguma coisa que os outros não têm, e assim se sentindo mais poderosa.
Nas redes sociais, o desejo de ser invejado tende a se manifestar com maior
frequência. O próprio instagram, que já foi apontado como uma das redes que
mais causa depressão entre os usuários. Cria a ilusão de que o outro tem uma
vida incrível e que você precisa ter uma vida assim também. No meio jovem, tem
essa tendência mais recorrente de forjar uma vida perfeita. Essa busca
constante em transmitir uma imagem de perfeição em todos os momentos, pode
frustrá-los, e pode realmente levar, até mesmo à depressão. As redes sociais
são veículos de exposição seletivos, isto é, a pessoa escolhe deliberadamente o
que postar e compartilhar, o que facilita a exposição de feitos e conquistas.
Este é ápice do vaidoso que faz de tudo por um “curtir” dos outros em suas fotos e postagens. É um narcisista
decadente.
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