A nossa sociedade atual está criando uma nova
ética do relacionamento. A cultura do corpo sarado. Afinal, o que é um corpo
sarado? De repente nossa atenção é chamada por essa esfomeada corrida às academias
de ginástica, de estética, de massagens, enquanto ficamos sem compreender muito
bem o surto de exibicionismo do corpo nas passarelas sociais, como clubes,
praias, entre outros lugares públicos. É a nova febre do corpo. Até parece que
apenas de uns tempos para cá o ser humano passou a ter corpo. Realmente algo
estranho ocorre, alguma coisa como se tivéssemos descoberto a outra face da
lua, um lado desconhecido de nós mesmos. Esta grande atenção sobre o corpo será
boa ou ruim? Ao que parece será muito boa no sentido de se recuperar o carinho
por essa coisa prodigiosa que é o nosso corpo. E poderá ser muito ruim à medida
que se cai nas armadilhas que a nossa sociedade do lucro vem inventando para
vulgarizar a atenção sobre o corpo e com isso banaliza a sexualidade.
A filosofia atual não se
dedica a discutir assuntos que parecem não ser mais seus, como a questão de se
o espírito existe de modo autônomo, se ele sobrevive à morte física e de como é
essa sobrevivência. Estes assuntos são postos hoje nos domínios da religião e
da teologia, das metapsíquicas e das instituições místicas. O filósofo tem suas
crenças, mas evita reduzir a discussão filosófica ao âmbito de sua fé. Na
verdade, o foco de interesse da filosofia é o vivente, aquele ser humano que
sou e os demais que estão comigo neste momento no mundo. No vivente, a reflexão
filosófica não vê como distinguir o corpo do espírito. Ainda que se pense a
mente como espírito, é a própria medicina que mostra cada vez mais a
dificuldade de ver clara à fronteira que separa as funções mentais das funções
orgânicas. O campo médico que estuda esta relação está meio atarantado: pela
chamada medicina psicossomática.
Fica difícil pensar no corpo separado da
alma, seria o mesmo que pensar num ciclista montando uma bicicleta. Somos ao
mesmo tempo, um ciclista que é uma bicicleta. Vamos examinar algumas afirmações
sobre a questão da corporeidade, para melhor compreendermos. Todavia, o corpo é
nossa forma de presença no mundo. Estamos presentes quando o mundo se abre para
nós e nós abrimos para o mundo; isto é: presença é algo que está ligado a
relacionamento. Poder ver, ouvir, tatear, degustar e cheirar. Pode receber o
mundo em nossa interioridade e, ao mesmo tempo, formando ideias e emoções em
nosso intimo, comunicá-las para fora de nós. E é na medida em que somos nosso
corpo é que nos situamos no mundo de forma comunicante. Portanto, não apenas
temos um corpo através do qual lidamos com a vida que nos circunda e que está
em nós. Corpo não é mero instrumento. Quando se crê no espírito, vai então
ficando claro que, no vivente, o corpo é a outra face do espírito e vice-versa.
Segundo o filósofo e
fenomenólogo francês Merleau-Ponty (1908-1961), disse: “o corpo é o berço de todas as nossas significações”. Ele quer dizer
que tudo que temos em nós de emoções, de conhecimentos, todo o conteúdo do
nosso mundo interior, tudo isto teve que começar no corpo. É pelo prazer e pela
dor, por todas as sensações corpóreas, que a vida nos visita e tece lá dentro a
nossa intimidade. Tudo, portanto começa com o corpo. Ele é o berço dos nossos
conteúdos. O corpo é o nosso mais profundo mistério. Afinal, a medicina explica
como o corpo funciona; mas ninguém sabe que energias o fazem funcionar por dez
ou cem anos. Ninguém conhece o chamado principio vital. Que fagulha é esta que
acende a vida? De que usina jorram as energias que mantém com o coração
batendo? Mistério! E basta que sintamos alguma coisa muito esquisita – uma
aceleração cardíaca, uma falha de batimento, uma forte tontura, etc. – que
somos convocados ante o mistério do corpo. Sentimos medo, pedimos ajuda.
Entretanto, este mesmo corpo
maravilhoso que nos põe medo, oferece-nos oportunidades de profundo e intenso
prazer. E hoje ninguém precisa fugir dessa palavra prazer. O prazer de viver
tem muitos aspectos. Todos são importantes. E é fundamental dizer-se que o
prazer mais criativo se encontra em nossa sexualidade. A sexualidade (com a
energia da libido) é o que movimenta as emoções, o conhecimento e até mesmo o
sentido religioso. Para o filósofo e psiquiatra alemão Karl Jaspers
(1883-1969), argumentava o seguinte: “a
literatura mística não passa de uma torrente de erotismo”. E o pensador
disse isto não porque fosse um ateu (era religioso), mas porque, sendo um
psiquiatra também, sabia que o erotismo é a infinita riqueza de forma que o espírito
empresta à sexualidade. Ora, falar-se de sexualidade não é necessariamente
falar-se de genitalidade de relações sexuais. A sexualidade é uma imensa
energia que nem mesmo conhecemos direito. Ela se parece, para o conhecimento
humano, a de um iceberg, que deixa para fora da água 1/3 da sua massa,
escondendo nas águas oceânicas os outros invisíveis 2/3.
Como argumenta o filósofo e
educador Régis de Morais (1941), “a
grande poesia não é celebração; ela é filha da sexualidade que se solta. Não se
continuará vivo se não tiver um amor sexual pelo mundo”. Depois do livro
bíblico do Cântico dos Cânticos ter celebrado lindamente a sexualidade e o
erotismo inclusive em termos de expressão genitais. Por que havemos nós hoje de
ter vergonha de coisa tão elevada e maravilhosa como a expressão de sexo entre
duas pessoas que se gostam? O sexo, em si mesmo, só tem grandezas. Ele é a
força mais poderosa que nos faz sentir inteiros, íntegros, no encontro
excitante de amor. O que causa vergonha, o que deprime a bela verdade do sexo,
é a triste malícia que muitas vezes destila o coração humano. Toda uma cultura
ocidental maquinou uma trama lamentável. Fazer das expressões sexuais um ato de
baixeza, só às vezes legitimado por leis encarregadas de dar o sinal verde.
Então, para muitos, o corpo é transformado numa ameaça de degradação.
Portanto, o corpo não é
dividido em partes mais aceitáveis e menos aceitáveis. Embora a sexualidade
ultrapasse o corpo, a escolha de uma vida sexual a dois se concretiza no
encontro de corpos. Se o principio de tudo for à verdade do amor, de um amor
digno, o demais será a fecundidade da criação. A geração de filhos ou de
carinhos e trocas de carícias são de inestimável valor humano. Contudo, os
limites da sexualidade são limites do corpo. Tanto assim que a sexualidade
começa em qualquer parte do corpo e não termina, vai de um lado para outro
explorando sua totalidade. Faz de cada um de nós o que exatamente somos. A
extensão do mundo em nosso corpo. Viver isto como via de regra, respeitando a
nós mesmos e aos outros. No corpo está a plenitude da vida e na sexualidade a
sua manifestação divina.
O sexo, em si mesmo, só tem grandezas. Ele é a força mais poderosa que nos faz sentir inteiros, íntegros, no encontro excitante de amor....Que importante é a leitura deste texto, somos um só, a sexualidade, e o outro lado de nos mesmo...parabens amei o texto Du bjus em seu coração
ResponderExcluirEngraçado, tudo o que escreve agi ao contrario, trocou um relacionamento de cinco anos, pelo que sempre criticou, trocou por uma transa com uma pessoa que conheceu no virtual, faca o que falo, não o que sou e faço, você escreve uma coisa e faz outra o que é você???/
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