O que significa envelhecer?
É comum ouvir em rodas de amigos, que uma pessoa quanto mais ela vive, mais
velha ela fica. Isto não é verdade. Para que alguém quanto mais vivesse mais
velho ficasse, teria que ter nascido pronto e ir se gastando. Isto não acontece
com gente. Acontece com carro, fogão, sapato, roupa, que nasce pronto e vai se
gastando. Gente nasce não pronta e vai se fazendo, aprendendo e crescendo. A
cada sete anos, renovamos totalmente a nossa energia corporal. A mesma pessoa
com corpo e energia diferente. Eu Eduardo Morais, hoje em 2015 sou a minha mais
nova edição. No entanto, vou renovando-me a cada novo dia, mas, não sou
inédito. Para ser inédito teria que ser como nunca fui, mas o modo como sou
hoje certamente, nunca fui antes.
No entanto, ninguém toma
banho no mesmo rio duas vezes, pois quando isso acontece, já não é mais o mesmo
rio, no momento seguinte a água já é outra. Foi o filósofo grego pré-socrático,
Heráclito de Êfeso (535-475 a.C.), que fez essa formulação que até hoje nos
fascina. O fluxo eterno das coisas que é a própria essência do mundo apontou
Heráclito e se ainda hoje ficamos espantados com isso, é porque nos apegamos
teimosamente ao que já passou, esperando na verdade, que tudo permaneça igual.
Então é necessário um filósofo da antiguidade ou um especialista contemporâneo,
para nos fazer entender que nada é permanente a não ser a mudança.
Mudanças essas que ao longo
dos anos vividos vamos sentindo uma degeneração física que percebemos de muitas
maneiras. Coisa que fazíamos quando jovens e muitas dessas atividades físicas
estão fora de cogitação hoje. Esta lenta degeneração, acompanhada de distúrbios
menores como da visão, os batimentos cardíacos e coisa do gênero. Somos
informados que a parte física do nosso "corpo"
não vai durar para sempre. Estamos programados geneticamente para morrer.
Mesmo assim praticamos exercício físico, gostamos de namorar, apreciamos um bom
prato, assim como também gostamos de viajar e apreciar o contato com a natureza.
Temos consciência de que estamos envelhecendo. Mas, internamente nos sentimos
ainda, sob muitos aspectos, do mesmo jeito a mesma pessoa, nem velho e nem
jovem.
Para ilustrar e fundamentar
o que estou dizendo, em 2013 embarquei numa aventura literária que não
imaginava que seria para aquele momento. Talvez passasse pela minha cabeça que
um dia ainda escreveria um livro. Mas, o tempo não existe, o que existe é o
momento presente. Porém, por alguma razão ou quem sabe algum propósito, surgiu
na minha vida uma pessoa que iria modificar os rumos da minha história, assim
como o futuro que eu viria a seguir, fazendo-me a seguinte pergunta: “Por que não
existe um livro sobre suas reflexões?” “Por que não fazer um livro com essas
crônicas filosóficas?” Foi a partir dessas indagações, que acendeu a chama de
um projeto literário. Isto me conduziu a uma linha de pensamento para a qual
provavelmente já estava preparado, porque há trechos nesse livro que se
escreveram praticamente sozinhos. Havia uma potencia a ser transformada em ato.
Entretanto, na ocasião o que
me convenceu a publicar esse livro, foram os esforços de organização, a visão e
a capacidade de persuasão desta minha musa inspiradora. Algumas pessoas
supunham que essa viagem literária não iria decolar por se tratar de um homem
da minha idade, sem recursos financeiro e já velho demais para viajar na
divulgação do livro, pois é necessário esse contato escritor e leitor, caso
contrário estará fadado ao fracasso. Eu mesmo receava dar um salto, pois era um
risco muito alto. Outros acreditavam que era muito arrogante da minha parte,
supor que esse livro venderia bem. Não posso negar que nesta nova atividade não
houve elemento de risco e ainda não está totalmente descartado.
Cresci e aprendi com uma
senhorinha de 106 anos de idade que um dia me fez a seguinte pergunta: “O que é
viver?” Hoje compreendo o significado dessa pergunta: Viver é o espírito estar
satisfeito consigo mesmo. Isto é viver. O espírito é a nossa fala. Nossa fala
deve estar verbalizando e se expondo publicamente, mas não confusa e sim
convicta, conforme os valores que reconhecemos como corretos, justos e
prazerosos. Muitas vezes pensamos que o mundo não nos trata do modo como
merecemos e culpamos a sociedade, o governo, os amigos, os familiares, pelas
nossas falhas e desilusões. No entanto, a verdade é que o modo pelo qual o
mundo nos trata é um reflexo de como nós estamos nos tratamos. No momento em
que passarmos a gostar mais de nós, o universo reagirá e nos recompensará pela
nossa existência. Dizia essa senhora de 106 anos, que por coincidência era minha
mãe: “A vida meu filho, tem que ser vivida em função de alguma coisa, não
contra alguma coisa. Agora que isto me aconteceu, o que vou fazer? Isto é viver”.
Portanto, com o passar dos
anos a nossa própria história, a cultura, os desejos e a própria vida se
escreveram e inscreveram. Trazemos muitas biografias de uma mesma vida. Quase
tudo o que foi possível viver está firmemente registrado no corpo e na mente.
De modo que tal é a arte de envelhecer, que o sexo pleno, amoroso e maduro até
parece saber e dominar a própria essência do ser humano. Contudo, digo o que
penso, com "esperança". Penso no que faço com "fé". Faço o que devo fazer,
com "amor".
Esforço-me para ser cada dia melhor, pois bondade também se aprende. A vida é
muito curta para se ter inimigos. Agradeço sempre pelo dom da vida e de poder
amar mesmo sem ser compreendido. Sou feliz por estar aqui e deixar essa
mensagem de "amor" e "fé", neste inicio de ano. Porém, somente
com a experiência dos anos, com a maturidade, que passamos do processo jovem,
criativo e produtivo, para o processo maduro de introspecção e sabedoria
existencial, isto é, "envelhecer crescendo".
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