O amor é um sentimento de
inclinação e de atração ligando os humanos uns aos outros. É uma tendência da
sensibilidade suscetível a transportar-nos para um ser ou um objeto reconhecido
ou sentido como algo bom. Em outras
palavras, é a inclinação para uma pessoa, sob todas as suas formas e em todos
os graus, desde o amor desejo (inclinação sexual) até o amor paixão e o amor
sentimento. Todavia, o amor é uma emoção da alma causada pelo movimento do
espírito, levando-a a unir-se voluntariamente a pessoa que lhe parece
conveniente. No entanto, o amor é essa afeição que nos faz encontrar prazer na
perfeição daquele que amamos. O amor é um sentimento que torna o homem bom.
O amor é fundamental para o
homem e para a sociedade. Sem amor, o homem torna-se árido, incapaz de
encantar-se com a vida e de envolver-se com os outros. Não se sensibiliza com o
abandono dos velhos, a morte das crianças, a miséria do povo, poluição e a
destruição do planeta, o roubo da cidadania, a morte dos ideais. Sem amor não
há encontro, não há diferença; resta a escuridão do individualismo, do ser
incapaz de relação. Por conseguinte, o amor é uma vivência que se manifesta de
varias maneiras: amor materno, amor paterno, amor pela pátria, amor a si mesmo,
amor erótico, amor a Deus, amor fraterno, amor pela natureza. Aqui nos
limitaremos a tratar do amor erótico e do amor fraterno.
Todavia, quando se fala
em amor, pensa-se logo no amor erótico, na relação homem-mulher, porque essa
forma de amor envolve desejo, a busca de fusão e desenvolvimento a dois. O amor
erótico pode ser compreendido nos planos biológico, psicológico e filosófico.
Biologicamente, consiste na relação sexual e na procriação. Essa energia
biológica manifesta-se, psicologicamente, em erotismo. Filosoficamente,
exprime-se como busca de unidade, totalidade e comunicação.
O que é erotismo? É a
transformação da energia sexual, biológica, em energia psíquica, ampliando
consideravelmente a sexualidade. O homem é ao mesmo tempo corpo e psiquismo. As
solicitações do corpo expressam-se também de maneira psíquica, produzindo um
progressivo desdobramento da sexualidade, que passa a manifestar-se em vivência
que aparentemente nada têm a ver com ela, como por exemplo: na arte, na
ciência, no trabalho, na política e no envolvimento prazeroso com as pessoas e
com o mundo. O amor erótico é muito forte, porque pressupõe o retorno do
sentimento vivido: é um dar e receber que se manifesta no prazer da convivência
com o outro sexo tanto no plano físico quanto no psicológico. O amor erótico quer
exclusividade, porque os amantes pretendem serem únicos um para o outro, com reciprocidade, pois ambos buscam alimentar o amor que sentem.
O amor fraterno é o amor
entre irmãos. O envolvimento fraterno estende-se à humanidade como um todo.
Como em qualquer outra forma de amor, a base do amor fraterno é o amor a si
mesmo. A frase bíblica: “Ama o teu
próximo como a ti mesmo”, e a frase socrática: “Conhece-te a ti mesmo” atestam secularmente esse fundamento. Por
conhecer como um ser dotado de valor e dignidade é que o homem pode perceber no
semelhante característica similar que o leva a admirá-lo e a amá-lo como igual. Neste tipo de amor fraterno é
que possibilita a solidariedade e a compaixão, buscando o desenvolvimento
integral do homem, sua libertação, sua autonomia. É próprio desse amor não
haver dominador nem dominado. Sua principal característica é o compromisso com
o outro. E, por solidarizar-se com o outro, vendo nele um irmão, essa forma de
amor possui uma conotação política: não permite a segregação e a discriminação
por raça, cor, sexo, credo, nacionalidade. É movida pelo desejo justiça,
igualdade de oportunidades e efetivação da dignidade humana: “ama a todos sem exclusividade”.
Entretanto, se quiser viver
é amar o amor, ou não amar nada. Isto implica em amar o amor ou morrer sem
amar. É por isso que o amor e não o suicídio é o único problema filosoficamente
sério. Para o escritor, dramaturgo e filósofo francês, Albert Camus (1913-1960),
só existe um problema filosófico verdadeiramente sério que é o suicídio. Julgar
se a vida vale ou não a pena ser vivida é responder à questão fundamental da
filosofia. Nesta linha de raciocínio a pergunta é a seguinte: “A vida vale a pena ser vivida?” O
suicídio suprime o problema muito mais do que o resolve; somente o amor, que
não o suprime resolve-o mais ou menos, enquanto estamos vivos, e nos mantém em
vida. Se a vida vale ou não a pena ser vivida, se vale ou não vale, melhor
dizendo, o prazer de ser vivida, depende primeiro da quantidade de amor de que
somos capazes. Penso que Camus se equivocou ao afirmar que é o suicídio que
necessita de uma reflexão filosófica. Pois o amor é o combustível da vida. Este
sim precisa ser pensado e repensado. Ora, a felicidade é um amor feliz, ou
vários; a infelicidade, um amor infeliz ou nenhum amor. Muitas doenças de fundo
emocional caracterizam-se primeiro pela “perda
da capacidade de amar”. Inclusive de amar a si mesmo. Não é de espantar se
ela costuma ser suicida. O amor é que faz viver, já que é ele que torna a vida
amável. É o amor que salva; é ele, portanto que se trata de salvar.
Portanto, ao nascermos
aprendemos a dar, pelo menos um pouco, pelo menos às vezes, o que é a única
maneira de ser fiel até o fim ao amor recebido, ao amor humano, nunca humano
demais, ao amor tão fraco, tão inquieto, tão limitado, e que é, no entanto como
que uma imagem do infinito, ao amor de que fomos objeto e que nos fez sujeitos,
ao amor imerecido que nos procede, como uma graça, que nos gerou, e não criou,
ao amor que nos ninou, levou, alimentou, protegeu, consolou, ao amor que nos
acompanha, definitivamente, e que nos falta, e que nos regozija, e que nos
perturba, e que nos ilumina. Se não fossem nossos pais, o que saberíamos do
amor? Se não houvesse amor o que saberíamos da vida? Negar os pais é ao mesmo
tempo negar e suicidar o amor. Só encontro a felicidade quando reconhecer a
existência a partir dos meus pais. Ao negar os nossos pais estamos negando a nossa
existência. Concluo com as seguintes declarações de amor. Há o amor segundo
Platão (427-347 a.C.): “Eu te amo, tu me
fazes falta, eu te quero”. Há o amor segundo Aristóteles (384-322 a.C.) ou
Spinoza (1632-1677): “Eu te amo; és a
causa da minha alegria, e isso me regozija”. Há o amor segundo o que penso
ser: “Eu te amo como a mim mesmo, que não
sou nada, ou quase nada, eu te amo como Deus nos ama, se é que ele existe, eu
te amo como qualquer um; ponho minha força a serviço da tua fraqueza, minha
pouca força a serviço da tua imensa fraqueza”. Contudo, negar o amor é
negar a vida.
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