Entendemos
como morte tudo aquilo que não temos mais. A morte que para nós existe visível
é a do outro que já não existe mais. Penso que se fossemos Brás Cuba, aquele do
romance escrito por Machado de Assis (1839-1908), com certeza este trabalho de
nossas Memórias Póstumas, talvez pudéssemos adiantar algo de concreto sobre a
morte, por isso somos eternos inconformados, pois, o que nós não podemos
conceber é não ter memória da nossa morte. Passamos a vida inteira morrendo aos
pouco e, quando a morte vem nos buscar, não podemos assisti-la.
A
morte está onde menos esperamos que ela estivesse. Tanto naquelas fotos que
guardo dos meus filhos quando eles tinham aproximadamente entre três
e quatro anos de idade, como naquela música da época que nos traz lindas
recordações de momentos que vivemos, que a morte levou e nos deixou saudades.
Como diz a música de Nelson Cavaquinho e Jair Costa, “Eu e as Flores”: Quando eu passo perto das flores quase elas
dizem assim: Vai, que amanhã enfeitarei o seu fim. Entretanto, ao olhar
hoje para as fotos dos meus filhos quando eram pequenos, sinto um aperto no
coração e prontamente sou tomado por um saudosismo incomensurável, sinto que
aquelas crianças da foto não existem mais, como jamais voltarão a existir. É
aqui onde mora a nossa saudade e as lembranças vivas daquilo que já morreu.
Como
argumenta o escritor irlandês James Joyce (1882-1941): “A nossa história é um pesadelo do qual estamos tentando acordar”. O
final das coisas é sempre doloroso para quem fica. Sinto que a dor faz parte do
simples fato de que o mundo existe. A dor é o preço que pagamos por estar
vivos. Para o filósofo Karl Marx (1818-1883): “a alienação cria o descompasso entre a nossa existência e a nossa
essência. Não vivemos o que somos e nem podemos ser o que gostaríamos de viver”.
Entretanto, a meu ver essa adequação entre a essência e a existência, está a
nossa santidade. Contudo, a dor pelos vivos às vezes dói muito mais e arranca
de nós um pedaço, ou seja, a metade adorada e querida de nós que vai junto com
aquele que amamos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário