As
relações humanas, ao contrário do que todo mundo acha, estão deveras, muito
longe de ser uma relação pautada no diálogo, na compreensão e no
desenvolvimento dos seres humanos. Presenciamos em todos os seguimentos sociais
cada um defendendo o seu ponto de vista e não consegue ouvir e nem entender o
outro. Isso acontece no Supremo Tribunal Federal, nas famílias, nos
relacionamentos amorosos e até no trabalho. A maior dificuldade é quando se
pretende estabelecer um diálogo e a cooperação efetiva entre as pessoas. Como
dizia o psiquiatra José Ângelo Gaiarsa: “existe
um preconceito lógico, situado nas raízes da inteligência. Ele cria um vicio,
porque não conversamos e não escutamos o outro. Não fazemos e ninguém faz quase
nada do que diz. Não dizemos e ninguém diz quase nada do que faz”.
A
conversa, em suma, não é nada do que está sendo falado. É preciso começar daí.
Na verdade, a maior parte do tempo ela está muito próxima de ser o contrário do
que está sendo dito. Tem tudo a ver com um palco onde cada um tenta,
continuadamente, representar como ele gostaria de ser. Pouco ou quase nada tem
a ver com o que as pessoas fazem, sentem ou acham que são. Estão completamente
alienadas no seu mundo de ilusão. E não percebem o isolamento que estão criando
em torno de si. Muitas vezes procuramos a felicidade, mas não acreditamos no
amor.
Às
vezes, nós não compreendemos por que temos certos tipos de comportamento ou
atitudes. Não tentamos verificar que isso pode acontecer, porque trazemos
dentro de nós conflitos que não conseguimos resolver. Esses conflitos íntimos
impedem nossa maneira eficiente de agir e conhecer melhor o outro. As pessoas
não percebem a atmosfera psicológica que criam em ambientes como o trabalho, no
lar com a família, nas relações amorosas, etc. Elas não percebem que o seu
comportamento está afrouxando os laços afetivos nas suas relações.
Entretanto,
pessoas que não aceitam críticas e quando surge um conflito que demanda
diálogo, prontamente ela se arma de algum tipo de defesa, para fugir às ameaças
e não enfrentá-las na base de uma conversa franca e aberta, ouvindo os contras
e os prós, sem acusações. Pessoas que acusa a outra é o tipo mais odioso de se
relacionar. Elas se julgam certinhas. Não conversam e com isso perdem uma
grande oportunidade de conhecer o outro e ter seus conflitos amenizados. Por outro
lado, se a pessoa procurasse mais pensar como age e porque age e tentar
descobrir maneiras para compensar tais comportamentos, isso ajudaria a agir com
mais segurança e eficiência no relacionamento interpessoal e na compreensão
intrapessoal.
Por
conseguinte, uma pessoa que tem o triste vício de fumar, por exemplo, pode
achar que todos ao seu redor deveriam fumar assim se incomodaria menos com ela.
Pessoas que são agressivas acreditam que todo mundo a provoca. Elas são capazes
de invadir e violar a privacidade de alguém, só para manipular informações e
construir provas e com isso mostrar que estão certas. Isso é muito comum nas
redes sociais. Usam de falsidades ideológicas a título de se convencer que
estão falando a verdade. São pessoas completamente doentes e infelizes na sua
subjetividade. Sobretudo, porque são criticas e encontram dificuldades para
fundamentar suas razões, porque baseia suas vidas em meras opiniões, forjando
situações para sustentar sua lógica e detonar o outro.
Todavia,
é muito difícil entender alguém sem primeiro estabelecer com essa pessoa um
diálogo em vez de censurá-la. Podemos conhecer melhor as pessoas, observando o
seu comportamento, dando a ela a oportunidade de expor seu pensamento,
sentimento e ações. O não conseguir conversar é uma pratica muito comum quando
se têm um pensamento rígido, sentimentos cristalizados, que mudam e que bitola
o comportamento da pessoa no entendimento com o outro. A pessoa passa a ver e a
julgar o outro com base no seu estereótipo, para alguém estar certo tem que
agir de acordo com ela. Esse comportamento chama-se estereótipo porque se trata
de uma pessoa rígida e cristalizada nos seus princípios e atitudes diante da
circunstância em que vive.
Portanto,
é na comunicação com o outro que buscamos a experiência de nos sentirmos vivos,
de tal forma que nossas experiências no nível puramente físico tenham
ressonâncias internas no mais profundo do nosso ser e da nossa realidade.
Contudo, só vamos compreender o outro e o mundo em que vivemos se agirmos com
delicadeza, compaixão, dialogando e examinando os pontos de vista de cada um,
procurando ouvir mais o outro. Porque quando alguma coisa dói em nós, só vamos
resolver a custa de muita conversa, ou seja, falando sobre nossos medos e
nossas dores, assim como ouvindo os medos e as dores do outro, sem censura. A
verdade alivia mais do que machuca. E estará sempre acima de qualquer falsidade
como o óleo sobre a água. Enfim, quando nos desesperamos, por não ser
compreendidos, lembremo-nos que em toda a história, a verdade e o amor sempre
venceram. Houve tiranos e assassinos, assim como psicopatas que pareciam
invencíveis. Mas, no final, essas pessoas caem. Como dizia Nelson Rodrigues, “toda
pessoa tem o seu dia de Hiroshima”.
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