Podemos
comparar o inconsciente a um potente gravador onde são guardadas todas as
experiências desde o nascimento. É o porão do nosso psiquismo, no qual tudo
fica arquivado, ainda que não saibamos. Pode-se comparar o nosso inconsciente
ao um “iceberg” (montanha de gelo polar), do qual só uma décima parte emerge
acima do nível do mar e nove décimos ficam submersos na água. A décima parte
emergente significa o nosso consciente, ao passo que o bloco mergulhado no mar
representa o nosso inconsciente. Em circunstâncias especiais (nos sonhos, sugestões
sensitivas, delírios e transes), perdemos o controle que exercemos sobre nós
mesmos para sermos a personalidade que desejamos, então vem à tona algo do
nosso inconsciente, que nos leva a sentir coisas estranhas e inexplicáveis.
Certa
vez um amigo me contou que perdeu um canivete de estimação. Após tê-lo
procurado com afinco, mas em vão, resolveu esquecer o problema. Tal foi à
atitude consciente desse amigo, que seu inconsciente continuou a querer
descobrir o canivete, de modo que o inconsciente ficou alerta. Porém, seis
meses depois, ele começou a sonhar que usava uma calça velha, abandonada desde
muito tempo e que lá se encontrava o canivete de estimação que seu avo havia
lhe presenteado. No dia seguinte ao levantar quis testar a veracidade do sonho
e saiu à procura da calça velha guardada numa gaveta do armário, pois a muito
não a usava. Grande foi seu espanto, pois o canivete se encontrava guardado no
bolso dessa calça velha, como realmente havia sonhado. Todavia, o privilégio
foi do inconsciente que conseguiu detectar e localizar onde se encontrava o tal
canivete. Pois como dissemos o inconsciente grava tudo e não deixa escapar nada
do seu arquivo confidencial. Quando menos espera ele nos revela aquilo que
procuramos ou sonhamos.
No
entanto, durante o sono o inconsciente pode nos ajudar a descobrir coisas
perdidas, assim como revelar situações de conflitos sem que tenhamos a menor
ideia que estejam ocorrendo em nossas vidas. Está provado que o nosso
inconsciente é muito mais sábio e hábil, chega a ser muitas vezes mais genial
que o próprio consciente. Há pessoas que ao ser induzida no sono hipnótico ou
em estado de sonambulismo, são capazes de fazer o que nunca fariam em estado
consciente. Como afirma o escritor francês Jean de La Fontaine (1621-1695),
filósofo e escritor francês Étienne Bonnot de Condillac (1715-1780) e o
filósofo iluminista francês Voltaire (1694-1778), reconheceram que vários de
seus escritos foram redigidos primeiro na sua cabeça enquanto dormiam. O mesmo
aconteceu com o poeta alemão Goethe (1749-1832), que escreveu grande parte de
seus trabalhos em estado de sonambulismo. Conta-se que o compositor austríaco
Mozart (1756-1791) ouvia suas músicas antes de compô-las. O grande pesquisador
alemão Carl Duisberg (1861-1935), químico da fábrica de corante Bayer, “descobriu”
durante o sono um novo corante, que posto no mercado, rendeu milhões de euros a
firma. O cineasta francês Francis Fehr (1935) afirma que os sábios mais
produtivos realizam 75 a 100 por centos de suas descobertas e invenções durante
o sono. Muitas histórias que viraram clássicos no cinema nasceram
intuitivamente.
Portanto,
a civilização ocidental faz com que as pessoas rejeitem e neguem o inconsciente
e a intuição, como se ela não tivesse um papel fundamental para o nosso
conhecimento indutivo. Como está demonstrado acima que as grandes descobertas
da humanidade se deram ao acaso, isto é, primeiro passaram por esse processo
indutivo para chegar ao dedutivo. Assim como a razão acessa o nosso disco
rígido interno, a intuição movida pelo inconsciente nos da à possibilidade,
através do mundo quântico, de acessar o nosso universo intimo. Ninguém é de
fato criador de ideias, mas aqueles que podem ser considerados seres criativos,
nas diversas áreas de expressão, e aí incluo ideias filosóficas, literárias e
artísticas, em verdade, os que acessam estes e outros universos mais facilmente
são pessoas iluminadas. Pois, elas nos levam ao encontro com a divindade.
Contudo, a energia que permeia nosso mundo mental está tão disponível quanto à
energia do sol que aí está à disposição de quem quiser dela desfrutar. Nosso
inconsciente é um gênio que carregamos sem saber. E a intuição é uma voz em nós,
que quase nunca ouvimos.
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